Marcelo Hazan – GloboEsporte.com
Contratado pelo São Paulo em fevereiro deste ano, Lucas Pratto ouviu da diretoria que o projeto era conquistar títulos. Consequentemente, assim, ele estaria mais perto do objetivo de disputar a Copa do Mundo de 2018 pela Argentina. Mas a realidade está bem distante da expectativa.
Além de ter sido eliminado do Paulistão, da Copa do Brasil e da Copa Sul-Americana, o Tricolor lutou até o último domingo contra o rebaixamento no Brasileirão. E mais: Lucas Pratto perdeu espaço desde a saída de Edgardo Bauza e não foi convocado pelo técnico Jorge Sampaoli para defender a seleção do seu país. Ele considera o desafio no Tricolor como o mais difícil da carreira.
Nesta entrevista exclusiva, Pratto cobrou um melhor planejamento para 2018, pediu menos trocas de atletas com o ano em andamento e falou da necessidade de uma conversa dos líderes do elenco, como Hernanes, Petros e Jucilei, com o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco.
GloboEsporte.com: Você vê o Dorival como técnico para 2018?
Lucas Pratto: A continuidade de quem está indo bem não pode ser cortada. Há coisas de planejamento a serem observadas. O grupo está com a comissão técnica. Conseguiram dar um padrão ao time. Por mais que às vezes com a pressão não conseguíssemos mostrar o que eles queriam, o time sempre brigou para dar o bom funcionamento que eles queriam. Se eles e jogadores continuam é uma decisão da diretoria, mas acho que precisamos conversar. Eu mesmo falei para o Leco: precisamos conversar para planejar 2018 todos juntos e que não seja tão bagunçado como vem sendo nos últimos anos.
Foi uma cobrança que vocês fizeram?
– Eu já falei com o presidente (risos). Temos que ajudar. Agora o Profeta, o Petros, o Jucilei têm que falar com eles também. A maioria dos jogadores mais experientes precisa falar com eles e com a comissão técnica, para que 2018 seja melhor e que o São Paulo volte a ser falado como time de títulos e não de zona de rebaixamento.
Este ano de 2017 deixa algum aprendizado?
– É uma frase feita, mas nos piores momentos você aprende mais do que nos melhores. O futebol de hoje não é como antes. Está tudo tão igual que qualquer um pode brigar em cima e embaixo. Nas nossas últimas dez rodadas, quando respeitamos todos, recuperamos o respeito dos times pelo São Paulo. Tem de ficar com isso. Tem que planejar 2018 melhor. Uma coisa que aprendi é que todos têm de estar com o mesmo objetivo. Se em um grupo uma parte dos jogadores tem um objetivo, outra parte dos atletas tem outro e a comissão está com outro é muito difícil. Você vê os times campeões e todos estão brigando pelo mesmo objetivo.
Você falou sobre planejamento bagunçado. O que achou bagunçado?
– Não. Bagunçado de sair jogadores no começo do Brasileiro. Todos times que conseguiram fazer um grande campeonato não fizeram grandes trocas do começo ao fim. Foi o que aconteceu com os times irregulares. Mesmo nós trouxemos alguns jogadores depois e quando entraram melhorou: Petros, Hernanes e Arboleda, que chegaram depois e tiveram uma adaptação rápida. O melhor é quando começa o ano e arma um time, um elenco. O melhor é tentar manter esse elenco no ano. Depois, se você tem de fazer trocas ou não, não pode vender quatro ou cinco jogadores… agora estou lembrando: Cícero, Lucão, Maicon, Luiz Araújo, Thiago Mendes…
David Neres…
– David Neres. São todos jogadores que jogavam. Seja titular ou não, eram aproveitados. Então, para mim, e isso é uma opinião pessoal, não do grupo: quando começa um ano, tem de conseguir armar um elenco de 20 a 25 jogadores para tentar manter que seja 21 ou 22. Se saem um ou dois é outra coisa. E manter a base do time titular sempre. Como os times que estão lá em cima.
Você disse isso ao presidente?
– Falei que temos de conversar. Não falei nada.
É uma das coisas que vai apontar, então…
– Sim, uma das coisas (risos).
Nos últimos dois anos o São Paulo também teve muitas saídas de jogadores. Fora do São Paulo, como via isso? E como vê agora por dentro?
– De fora a gente conversava que não conseguia manter um time por seis meses ou um ano. Mas também é normal por entender o lado deles, de vendas e de necessidade. O São Paulo teve problemas de dinheiro nos últimos anos. Mas uma das coisas que também foi dita é que agora o clube está mais ordenado, pensando em colocar o time esportivamente (em um nível) mais alto. Dentro e fora você vê do mesmo jeito, mas quando está dentro você sofre. A tristeza, o sofrimento… você sofre, a cabeça fica mal e vem desconfiança. É normal. Mas acho que o próximo ano será bom. Acho não, tenho certeza.
Independentemente de nomes, você acredita que os jogadores para 2018 têm de ter perfis como seu, do Petros, do Hernanes, do Lugano?
– Acho que em time grande sempre precisa. Sobretudo aqui no Brasil, porque na Argentina não tem tanto jogo como aqui. Ou seja, talvez seis ou sete jogadores de perfil experiente, que sabem jogar em time grande, seja o necessário. Acho que no Brasil precisa de 13 a 15 jogadores com esse perfil de time grande, que tenham sido campeões, porque não é fácil vestir a camisa do São Paulo…
– Também não é fácil para os moleques colocar uma pressão neles, sobretudo agora que o São Paulo está sem ganhar coisas importantes e sem conseguir bons anos. Não é fácil colocar moleques para jogar e resolver tudo. Tem moleque como (David) Neres e (Luiz) Araújo que vão responder. Tem moleque que não vai responder tão bem. Então não precisa crucificá-los, mas sim ajudá-los com jogadores que saibam absorver a pressão. Não precisa só de cinco, precisa de mais.
Isso seria a tal “jerarquia”? (nota da redação: expressão em espanhol para definir jogadores protagonistas, de peso)
– Sim, aqui falam caráter. É esse perfil.
Na sua avaliação, o elenco para 2018 precisa mudar muito?
– Temos um nível de jogadores experientes e de promessas muito bom. Então, precisamos desse elenco médio que não temos. Falando: temos Arboleda, Rodrigo Caio, depois temos 2 jogadores…
Elenco médio que você diz é de meia idade e rodado?
– Meia idade e de “jerarquia”. O Petros tem 28, eu 29, Hernanes 32, Cueva 25. Tirando Arboleda e Caio os outros são todos mais novos.
Sidão…
– Sidão tem 30 e pouco (34). O Marquinhos (Marcos Guilherme) também, por mais que pareça que tem 25 (tem 22 anos). Precisamos desse elenco médio, mas isso é com diretoria e comissão técnica.
Então, na sua avaliação…
– É muito bom, mas perdemos jogadores importantes. Nas últimas dez rodadas tivemos um funcionamento. Precisamos melhorar o elenco, mas é bom. Agora daí para dizer que vai ser campeão ou não… é difícil. Quando você consegue uma sequência, como quando ganhamos de Santos, Flamengo e Atlético-GO, éramos o melhor do Brasil no último mês. Perdemos para o Grêmio e voltamos a ser os piores. Não é assim.
Como viu seu desempenho pessoal no ano?
– Parecido com o ano do time: nos primeiros quatro ou cinco meses foi muito bom, fazendo gols, com o time em uma regularidade muito boa. E depois irregular como o time. Às vezes fazendo grandes jogos, como contra Palmeiras, Atlético-PR, Santos, Flamengo, Atlético-GO fora de casa e Palmeiras fora de casa, nos primeiros 20 minutos antes de ser mandado para o hospital (risos). Irregular. Também tive jogos ruins. O importante foi ter ajudado o time a sair da situação difícil.