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Bruno Grossi
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Lugado recebeu quadro com camisa autografada por todo o elenco após jogo
O ídolo uruguaio Diego Lugano encerrou sua segunda passagem pelo São Paulo neste domingo, no empate em 1 a 1 com o Bahia no Morumbi. Ovacionado pela torcida durante a partida e aplaudido pelos companheiros após o apito final, o zagueiro ainda recebeu outra homenagem na sala de imprensa do estádio, quando foi presenteado com uma placa e um quadro com uma camisa autografada por todo o elenco tricolor das mãos do presidente Leco e do diretor executivo de futebol Vinicius Pinotti. Aos 37 anos, Lugano ainda não decidiu seu futuro, mas se despede do São Paulo satisfeito com os objetivos alcançados.
“Como eu sempre falo, não consigo falar de mim mesmo. Gosto de falar do entorno. Não sei se consegui deixar a marca que sempre sonhei. A pergunta deve ser feita ao entorno do São Paulo. Sigo com paz interior, tranquilidade e alegria por ter dado tudo o que podia ao São Paulo, por ter recebido coisas do clube que nunca sonhei, principalmente das pessoas. Nunca vou esquecer, sou o cara mais grato do mundo nesses 15 anos de relacionamento com o São Paulo. Sou o cara mais feliz do mundo pela intensidade das vitórias e derrotas, sempre com dedicação. Estou muito tranquilo para tomar qualquer decisão”, disse o jogador de 213 partidas, 13 gols e quatro títulos importantes pelo clube.
Para Leco, que fez um discurso antes da última entrevista de Lugano como jogador do São Paulo, a “dedicação visceral” do uruguaio precisa ser exemplo para o clube nos próximos anos. O atual presidente tricolor já havia convivido com o zagueiro na época de sua contratação, em 2003, quando trabalhava como diretor de futebol do clube.
“Eu, com a vivência que tenho e com a honra de ser presidente desta instituição, sei que a vida é feita de momentos difíceis, mas que fazem parte da nossa trajetória. Hoje é um momento de despedida deste moço que está a meu lado, com os filhos aqui na frente. E tenho que ressaltar tudo o que ele significa, fez e faz pelo São Paulo. Diego fez, no São Paulo, as conquistas todas possíveis, absolutamente todas. Foi campeão paulista, brasileiro, da Libertadores e do Mundial. É um símbolo que nossa torcida a todo momento reproduz daquilo que representa o mais puro e verdadeiro sentido de honrar essa camisa. Que sua dedicação visceral seja exemplo para as próximas gerações, que nunca esqueçam o real sentido de amor e respeito por essa camisa. Isso está registrado em nossa história e foi inoculado por ele em todos jogadores que o admiram. Que a vida continue te premiando a conquistar tudo aquilo que merece e certamente vai fazer”, discursou o presidente do São Paulo.
Lugano agora sai de férias com o futuro indefinido. Ele voltará para o Uruguai para refletir se continua atuando em outro clube fora do Brasil ou pendura as chuteiras. Neste segundo cenário, um cargo diretivo no São Paulo não está descartado como alternativa para o futuro.
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APOSENTADORIA
“Nunca se sabe o momento de parar ou não. Eu joguei a Copa do Mundo de 2014 e fiquei seis meses parado. Achei que a lesão tinha encerrado minha carreira. Demorei para me recuperar, mas consegui no Paraguai e aqui tive uma regularidade grande de treinamentos fortes e diários, com a ajuda de todo elenco. Aquele tempo perdido, interiormente, ainda não recuperei. Fica uma sensação natural se você não se aprofundar nisso. Sempre procuro escutar profissionais e gente capacitada para me assessorar e me ajudar a ver coisas que não vejo. Tem muito jogador, em todo esporte, que decide parar, mas não tem certeza, por estar fisicamente bem. E a maioria se arrepende. Tenho medo de tomar uma decisão apressada e não poder voltar atrás. Preciso de tempo para pensar, para ver se tenho necessidade ou não. Os últimos meses aqui foram tão lindo e intensos que não deu para pensar sobre mim. E nem quis. Queria me dedicar inteiramente ao momento.”
CARGO NA DIRETORIA
“Como vocês sabem, o São Paulo se aproximou para saber minha projeção de vida, para ver se eu queria ficar no clube, mas por tudo o que falei anteriormente ainda não consegui dar a resposta ou mesmo discutir algo. Seria irresponsável comigo mesmo e com o clube, a torcida, a diretoria. Obviamente, se não paro hoje, paro em seis meses, um ano e o convite do São Paulo, um dos maiores clubes do mundo, me faria pensar. Nunca pensei que poderia viver o que vivi aqui. Quero desfrutar coisas e ter sensações que me encham a vida. Preciso analisar friamente.”
FILHOS JOGADORES
“Os dois já jogam. Nico está no Uruguai, com o Defensor, mas até certa idade o estudo é prioridade. Só com 18 anos vão tomar decisões. O futebol é muito difícil, não depende só do talento ou do esforço, mas de coisas também alheias ao jogador. Mas hoje vem do talento de receber, de incorporar a quantidade de informações que um atleta tem hoje. Um atleta precisa de muitas coisas para desenvolver tecnicamente e fisicamente, O talento não é mais o nato, da rua, da pelada, é da capacidade de se adaptar, de entender e incorporar as informações que um clube dá. Hoje sabemos tudo sobre nós mesmos: deficiências, pontos fortes, aeróbicos, potência, velocidade, o quanto pula, deficiências de concentração. São muitas coisas. E o talento para receber isso e crescer faz diferença. No futuro isso será ainda mais importante.”
EXEMPLO AOS FILHOS
“São muito mais importantes as ações do que o que você fala. Ser coerente é muito difícil. Tento dar a eles exemplos com atitudes. Não sou um cara de papo alongado, de discursos bonitos, pelo contrário. A essência das pessoas vem das atitudes diárias, pequenas, que faz com que seu entorno goste de você, sinta confiança e respeito. É a minha forma de ver a vida, faço isso na família e no vestiário.”
DUAS PASSAGENS PELO SÃO PAULO
“Esse ano complicado serviu para que a instituição se reencontrasse. Foi muito complicado, dramático, mas cada um assumiu sua postura, sua posição, seus erros, e isso tirou o São Paulo da situação ruim. Isso mostra grandeza na vida de qualquer pessoa. Esse São Paulo vai ser lembrado não como o ano em que quase caiu, mas sim como o ano que que o São Paulo se reencontrou, resgatou uma essência do torcedor leal e nobre, apaixonado, que vai servir para os próximos anos.”
VÍDEO DOS JOGADORES
“Sempre falo que o reconhecimento da torcida, de vocês da imprensa que convivem no dia a dia, pelo resultado do trabalho, mostra realmente que você deixou uma marca. Ontem à noite, a comissão técnica e a assessoria fizeram um vídeo muito emocionante para mim, porque sabem que isso mexe comigo. Meu ponto fraco são as coisas íntimas, mas não chorei. Eles até cobraram, mas nunca derrubaria lágrimas na frente deles. Foram emoções impossíveis de administrar pela quantidade de carinho. Eu achava que conseguiria, mas não tenho. São presentes que a vida me deu e a sensação enche minha alma para sempre.”