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Após fazer apenas um jogo pelo clube e passar quase a temporada inteira em recuperação de cirurgia no joelho, atacante renovou contrato e conta as expectativas para próximo ano
Morato viveu um ano atípico: destacou-se no Ituano, foi emprestado ao São Paulo, jogou só uma vez pelo clube, em 19 de abril, dando assistência na vitória por 2 a 1 sobre o Cruzeiro, pela Copa do Brasil, e, 17 dias depois, se machucou dando carrinho em jogo-treino no CT, precisando passar por reconstrução dos ligamentos colateral medial e cruzado posterior do joelho direito. E a sua primeira meta em 2018 é, exatamente, dar um carrinho de novo.
– No primeiro lance, vou dar um carrinho para tirar toda essa maré ruim, esse medo que tive. Tenho de dar esse carrinho. E tem de ser no Morumbi. Minha primeira meta é jogar lá, já que meu único jogo aqui foi no Mineirão – falou o atacante de 25 anos ao LANCE!, sorrindo, em uma conversa bem-humorada em meio ao seu tratamento exatamente durante as férias do elenco.
Enquanto os colegas descansam, Morato segue uma rotina de tratamento em dois períodos de segunda a sexta para se recuperar. O Tricolor renovou seu empréstimo até dezembro de 2018, e ele só deve voltar a ficar à disposição em fevereiro. Mas já fala em querer ficar concentrado com o elenco mesmo sem poder participar integralmente da pré-temporada e conta como foi passar uma inédita temporada como torcedor.
Confira como foi a entrevista exclusiva de Morato para o LANCE!:
Você se machucou dando um carrinho em jogo-treino. Vai dar carrinho de novo?
Com certeza. E não será em jogo-treino, será no Morumbi. No primeiro lance, vou dar um carrinho para tirar toda essa maré ruim, esse medo que tive. Cheguei a falar que nunca mais daria carrinho, mas nunca mais é o caramba. Vou dar, sim. Tenho de dar esse carrinho (risos). Falo brincando, mas, se tiver de dar um carrinho de novo, vou dar. Fazer o quê? É um recurso, e a gente nunca sabe.
Quais são as suas metas para 2018? Além de dar um carrinho no Morumbi…
(Risos) É poder estrear no Morumbi. Estou com isso até hoje, porque estreei no Mineirão. Quero pisar no Morumbi, é a minha primeira meta. Poder voltar, estar com elenco, treinar, fazer um coletivo vem primeiro, mas não vejo a hora de estrear no Morumbi, a nossa casa. Todas as vezes em que fui ver jogo no Morumbi, pensei: caramba, estou no clube e não estou. Não vejo a hora de estrear no Morumbi, de verdade. E, aos poucos, ir conquistando meu espaço. Bem aos poucos mesmo. Sei que largo atrás, até pela lesão, mas o ano é longo, terá muitas oportunidades. Quem sabe a gente volta aqui em dezembro para falar que fico de vez. Essa é a meta.
Como você soube que ia renovar?
Um dia antes. Eu sabia que eles estavam conversando, mas, para eu não me frustrar, evitei, pedi para meu empresário falar só quando fechasse ou se não fosse mais fechar. Desde que me machuquei, vivi essa expectativa, pensando que fui bem em um jogo, mas foi um jogo só. Eu me perguntava mil coisas, me questionava. Eu e meu empresário sempre conversamos, temos uma relação muito próxima, dez anos juntos. Naquela noite, achei que ele perguntaria como estou, mas ele me ligou falando: ‘vamos renovar por mais um ano, se prepara porque amanhã vamos assinar, estou muito feliz’. Pô, se ele estava feliz, imagine eu. Fomos jantar e foi um momento especial, como na primeira vez em que assinei para vir por empréstimo para o São Paulo.
E como está sua rotina de tratamento agora?
Estou na fase final, né? Já é bem mais dividido o trabalho: a primeira parte de manhã no Reffis, de fortalecimento e mobilidade, e à tarde faço exercícios no campo já com bola, fazendo alguns saltos, giro, que já visam mais a minha volta ao campo. Enquanto o médico não me libera, vou ganhando esse tempo para ganhar mais confiança.
Tem alguma previsão para quando você vai, de fato, voltar a trabalhar no campo?
Já estou correndo e até corro intervalado. Em linha reta, não tem problema, posso fazer, o problema é mudar de direção. Aos pouquinhos, o pessoal vai me soltando, até porque tem um tempo ainda de recuperação. Fazer a transição para o campo mesmo, com preparador físico, é só para depois de 10 de janeiro. Devo perder o início da pré-temporada com a galera. Mas, querendo ou não, já estou condicionado fazendo esses treinos aqui, está puxado para mim.
Então você abriu mão das férias?
Sim. E abriria mesmo se tivesse a opção de ter férias. Ficaria aqui treinando tranquilamente, porque sei que no ano que vem terá bastante oportunidade, corrido. De certa forma, terei oportunidade. Venho treinando dois períodos de segunda a sexta, mas não venho mais sábado de manhã, como vinha antes. Será assim até dia 22 (esta sexta-feira), aí paro e, depois, volto com a galera, mas para fazer os trabalhos no Reffis. Só que ainda preciso passar no médico, fazer uma ressonância para ser liberado. É esperar…
Mas você faz algo no fim de semana?
Nem dá porque é muito puxado, de verdade. Por mais que eu pense em fazer, penso já na segunda-feira: se eu fizer no sábado, chego moído aqui na segunda e os caras vão me arrebentar. Prefiro descansar e arrepiar no Reffis do que eu chegar cansado.
Ainda sente dor no joelho operado?
Antes, a cada coisa nova era uma dor diferente no joelho, e ainda é assim. Na hora em que estou acelerando e preciso parar, ele acusa um pouco. Tenho dores de readaptação, na hora de fazer força para arrancar, diminuir a velocidade, mudar de direção. Mas são detalhezinhos, estou muito perto dos 100%. E não tem como, ficam algumas dores no meio do caminho. O pessoal fala que, para parar de doer mesmo, leva um ano, um ano e meio. Mas nada que me limite, posso voltar a treinar e jogar, o joelho ficará muito próximo do que é. Estou bem, no caminho certo. Tenho ficado muito feliz com meu joelho porque ele não incha, não me dá essa decepção. Tem reagido muito bem. Por ter sido uma cirurgia muito grande, o médico diz que está muito bem, e acredito, vejo que está chegando muito próximo ao que era.
Você estará à disposição nos primeiros jogos do Paulista?
Acredito que não. Termino essa fase do Reffis em janeiro e, depois, terei de fazer uma pré-temporada meio que à parte, com o preparador físico. Devo começar a pré-temporada mesmo uns dez dias depois do pessoal. Mas são muitos fatores. São oito meses parado, é muito tempo. Vão faltar ritmo de jogo, condicionamento físico, segurança… São todos esses obstáculos ainda.
Nesse período só fazendo tratamento, você chega a sonhar que está jogando?
Não. A única coisa que eu sonhava era que o fisioterapeuta estava dobrando meu joelho. Agora é engraçado, mas era perrengue. Eu acordava desesperado, assustado. Pensava: ‘Jesus amado, o que está acontecendo?’ Eu sofria muito de dor no início. De manhã, era sem massagem, com ele dobrando meu joelho.
Então é verdade mesmo quando dizem que jogador treina mais quando está machucado…
Muito mais. Fiquei agora pouco uns 20 dias com o Jonatan Gomez (o argentino terminou a temporada tratando tendinite no joelho direito) no Reffis. Uma vez, ele virou para mim e falou: ‘não estou aguentando, aqui treina muito mais do que lá em baixo, vou voltar para lá’. Tem muito mais exercício. E você tem de fazer, senão vai sentir falta. Se eu não me dedicasse na minha recuperação, talvez eu não estaria neste estágio, de estar muito próximo de voltar. E os números vêm mostrando que estou bem, muito próximo da força que eu tinha antes de me machucar.
Sem poder jogar, como foi a rotina como torcedor neste Brasileiro?
Só não fui aos jogos do primeiro turno porque estava com imobilizador, não podia nem andar. O meu primeiro jogo foi contra o Cruzeiro, de virada, já na primeira rodada do segundo turno (3 a 2, em 13 de agosto, no Morumbi). Ir para os jogos era legal já por sair de casa, porque minha rotina era do Reffis para casa, não saia nem para jantar ou visitar alguém. Aí comecei a ver como é o torcedor passando pela rua e achei bacana. Nesse jogo contra o Cruzeiro, era Dia dos Pais, foi do caramba ver um coroa levando os filhos pela mão… Futebol é além do que a gente imagina, eu pensava ‘daqui a pouco, sou eu levando meus filhos’. Foi legal. Mas vivi tudo isso de vestiário, vi o pessoal triste por sair derrotado, decepcionados, e vi a alegria das três vitórias consecutivas, que seriam para engatar e ir embora naturalmente, só que vieram tropeços novamente. O importante é que foi um baita aprendizado para mim.
Deve ter sido curioso, porque você nunca teve essa rotina de torcedor.
Nunca tive porque sempre joguei, a vida inteira. Não tem como, você torce pelo time que passa: torci por Mogi Mirim, Ituano, é torcer para seu patrão ir bem para não ficar desempregado. Mas aqui foi diferente, de vibrar mesmo, até o pessoal reconhecia e eu metia o boné para baixo, saía. Foi bacana.
No último jogo da temporada, despedida do Lugano, como estava o clima no vestiário?
Só costumo ir para o vestiário no início, na reza, senão fica tarde para ir para casa. Mas vi a emoção, o Lugano falando mais daquele momento, realizado dentro do São Paulo como é, e realizou o sonho de muita gente, muita criança que viu ele chegar aqui. Eu era uma dessas crianças. E hoje presenciar a despedida dele, desculpa a palavra, é do c… É um momento marcante.
Se é isso com o Lugano, como será ter o Raí como diretor executivo de futebol?
Estou vivendo um momento aqui… Teve Rogério Ceni, Raí, Lugano. Independentemente da cirurgia e das circunstâncias, peguei todos esses caras. Vou ter história para contar para a criançada. É bacana. E o Raí já está trabalhando. Desde que assumiu, tem vindo ao CT para conversar, pergunta. Está interagindo, tomando corpo dentro do clube. Já falou comigo, e desejei sorte, falei que, por mais que seja um cargo novo para ele no clube, não é novidade, ele já vinha exercendo coisas parecidas e vai dar certo.
Como é a sua relação com o elenco? Mudou no fim da temporada?
Não muito, porque continuei no Reffis, com rotina diferente da galera. Mas a partir da volta, no dia 3, será muito próximo, contato direto. Talvez eu fique concentrado com os meninos, não para fazer a pré-temporada, mas para já me integrar, interagir, que é importante para mim.
Como é a sua relação com o Dorival?
Antes de renovar, a gente tinha conversado, do que estava para acontecer, como seria a minha volta. Não sei se ele já operou, mas me explicou, para eu não me frustrar achando que já estou bom, com ritmo de jogo, querendo jogar. Falou para eu ir devagar, porque foi uma cirurgia difícil, e que posso contar com ele, que serei bem-vindo. Ele me desejou sorte. Foram poucas conversas, mas firmes, diretas, bem esclarecedoras.