Respaldado no cargo, treinador diz que, mesmo com a vitória por 2 a 0 desta quarta-feira, vai demorar a dormir e fala em “pressão absurdamente estúpida” no futebol brasileiro
Dorival Júnior concedeu entrevista coletiva nesta quarta-feira, após a vitória por 2 a 0 sobre o CRB, com um discurso bem parecido com o do frustrante 0 a 0 diante da Ferroviária, no domingo. Apesar de agradecer ao apoio da diretoria, que se recusou a demiti-lo no São Paulo, o técnico não se diz nada tranquilo. E sabe que continuará pressionado, mesmo com o fim de uma sequência de três partidas sem vitória.
– Não diminui a pressão. Infelizmente, futebol no nosso país é assim. Não falta trabalho e lealdade, tive resposta muito positiva da diretoria porque sempre demonstrei lealdade e dignidade desde que cheguei. Os resultados não são bons, o trabalho está sendo feito, com dificuldades, e São Paulo pensou diferente da grande maioria. Mesmo se fosse outro aqui, reconheceria o valor da atitude tomada. Sempre jogo pelo resultado seguinte, sempre foi assim e sempre será, ganhando sempre ou oscilando, como agora. Poderiam avaliar mais trabalho do que resultado, que nem sempre espelha o que acontece. Esse calendário é um problema muito sério, e estoura sempre no treinador.
Dorival Júnior relatou que o desempenho melhor e a vantagem que abriu para a partida de volta da terceira fase da Copa do Brasil (no dia 14, em Maceió, pode até perder por um gol de diferença do CRB para se classificar) não são suficientes nem para uma noite de sono mais tranquila. Seu foco já está no duelo de domingo, contra o Linense, fora de casa, pelo Campeonato Paulista.
– Não tem como ser diferente. Todos em volta relaxam, mas treinador não tem isso. Poderia ter goleado, ser líder do Paulista, mas não faz parte do dia a dia do treinador relaxar. A pressão é grande, absurdamente estúpida no nosso país, é um fato que não vai mudar. É uma cadeia que fomenta o dia a dia do futebol e do esporte. Então vou fazer minhas orações, agradecer, dormir lá para as 5h e, às 7h, já estar de pé trabalhando, pensando no Linense – falou, prometendo, novamente, melhora da equipe.
– Não vou decepcionar. Eu me preparei para estar em uma grande equipe como o São Paulo. O respeito da diretoria na minha situação será sempre recíproco, com reconhecimento por tudo que passamos. Não acabou, é uma situação que persiste, mas tem coisa para acontecer. As coisas ainda vão melhorar muito, podem ter certeza. Ninguém é bobo aqui. Estou há muito tempo na bola, sei quando equipe tem consistência, mesmo sem conseguir conquistar objetivo. Não se surpreendam se o São Paulo, daqui a pouco, vir a surpreender muitos.
Confira outros temas abordados por Dorival nesta quarta-feira:
Apoio da diretoria
Fico muito satisfeito, independentemente de ser o Dorival, pelo respeito e dignidade que houve na diretoria. Analisam o dia a dia do trabalho, sabem o que tentamos fazer, e não se esqueceram que há poucos meses estávamos na zona de rebaixamento e finalizamos o segundo turno perto da liderança. Além do objetivo alcançado, as pessoas viram que algo mais poderia ter acontecido. Se tivesse sequência diferente, poderíamos buscar algo pela consistência do fim do ano. Perdemos jogadores, tivemos mínimo de tempo para treinar, e trabalho muito com dia a dia, é fundamental. Mas a forma como trabalhamos, mudando conceito, eu precisava de muito mais tempo. Mesmo assim, muito satisfeito. Não é o ideal, longe disso, faremos mais e melhor, mas confio muito no meu trabalho e sei que diretoria confia.
Encontrou time ideal?
Não é que seja o ideal. É a equipe que trabalhamos mais tempo, com esse sistema, com dois abertos, meias que chegam, a equipe se dá muito bem assim. Mas tenho de reconhecer valor de quem estava atuando. Diego fez sete dias de treino e faria a décima partida. É muita coisa para quem trabalhou tão pouco. Tivemos necessidade e ele foi valente, não reclamou. Também tenho de ver esse respaldo que ele deu para quem está entrando. Para ter Brenner e garotos atuando, precisa de quem dê sustentação para que se sintam confortáveis e em situação de produzir. Por isso, precisamos dessa mescla.
Diego Souza e Brenner juntos de novo
Podemos usar qualquer situação, desde que tenha tempo para treinar. Jamais direi que não dá para jogar com alguma formação. Precisamos de tempo para treinar e mudar conceito, é um processo todo a ser respeitado. Não adianta colocar e deixar que se vire e resolvam. treinador precisa fazer o time chegar ao último terço de campo e, aí, jogador usa criatividade, ambição, é com eles. Até então, temos de trabalhar. Nossas semanas são só de recuperação. Saímos hoje para recuperar e ir para Lins para um grande jogo. Oscilamos porque faltou sustentação física, não dá, mesmo trocando jogadores para não perder jogadores. É difícil, complicado e, se Deus quiser, isso vai até junho.
Impacto psicológico da vitória
É importante, mas muito pouco ainda. Não podemos nos apegar ao resultado. temos consistência boa defensiva e precisamos dessa consistência ofensivamente.
O que pensou quando Cueva perdeu pênalti?
No futebol, tudo pode acontecer, e muito passa pela nossa cabeça. Profissionais já vimos o mesmo filme n vezes, é natural pensar tudo que pode acontecer. Equipe jogando como vem jogando, e só resultados não aparecem. temos de prestar atenção no trabalho. É muito claro quando tem trabalho desenvolvido e quando não tem, só há luta pelo resultado. temos de começar a saber diferenciar. temos muito a melhorar e descansar equipe para domingo.
Vantagem contra CRB
Vantagem mínima. Importante, mas mínima. Não vamos entrar relaxados, o que é fundamental. Confio e sei o que minha equipe pode produzir, dentro e fora de casa.
Jean e Sidão
Fizemos em cima da hora. Sidão sentiu, Jean estava sendo preparado, entrou muito bem e espero que tenha regularidade. São oito jogos sem gol em 12 na temporada, para uma equipe que, no ano passado, precisava fazer dois gols, porque sempre tomava um. Mostramos outra situação e esperamos manter essa postura.
Choque-Rei do dia 8
Meu jogo é o jogo seguinte, não tenho como mensurar outra situação. A avaliação dos dois clássicos, não merecia perder do Corinthians, com toda frieza e respeito. Também não merecia contra o Santos. Mas a análise do resultado é fria: duas derrotas. Fiquei muito satisfeito com o que vi, queria o resultado para o torcedor ficar satisfeito mais do que ninguém. Mas, pelo que tem produzido, é impossível que coisas boas não aconteçam, e tem muita coisa boa acontecendo. se resultado não acontecer, pressão será cada dia maior sempre. Trabalhamos muito para reverter e resultados passem a valorizar o que desenvolvemos.
Respaldo do elenco
É muito difícil falar do nosso trabalho. Mas atletas percebem que melhoram individualmente e que há consistência, lealdade, sem sacanagem, proteção ou distinção, com todos tratados da mesma forma. A maioria teve oportunidade e vai continuar tendo. Nós nos preocupamos com tudo, respaldados pela comissão técnica. Nunca vi equipe como a do São Paulo, envolvendo todas as pessoas. O São Paulo tem luz própria nesse sentido, facilitando para profissional se doar ao clube, como vi pouco. Eles sabem com quem estão trabalhando, viram integridade e respeito com que se trabalha e perceberam que perderiam profissionais dedicados a eles. É uma troca, com recíproca importante. Como mostramos de forma leal o que aconteceu. Vou escalar 11, mas tenho obrigação de dar atenção a todos. Perceberam que tem gente séria querendo o melhor para o São Paulo. Quando há essa harmonia, dificilmente as coisas darão errado.
FONTE: LANCE