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Douglas Ceconello
Chegada do técnico uruguaio transformou o São Paulo em uma equipe consistente, que hoje permite aos seus torcedores ao menos o inafiançável direito de acreditar.
A cada quatro anos, após o repentino retorno daquele grande spa mental chamado Copa do Mundo percebemos que estão em xeque os principais pilares da nação: a República, o matrimônio e a situação do nosso time. É possível suspeitar, mas jamais ter certeza de como será a retomada após a contenda mundial. Pois, até agora, os são-paulinos têm motivo de sobra para acreditar que o hiato russo veio em abençoado momento – com tempo para treinar, Diego Aguirre conduz o time para um glorioso recomeço de campeonato. O São Paulo, há pouco tempo apontado por adversários modestos como “aquela CARNIÇA”, hoje é um forte candidato ao título.
Depois do retorno, foram duas vitórias de grosso calibre. A primeira aconteceu sobre o líder Flamengo, diante de um Maracanã latejante, e diminuiu a diferença para a liderança para apenas um raquítico pontinho. E depois contra o Corinthians, rival mais atravessado que uma espinha de tainha – na verdade, até bem pouco tempo, quase todo clássico vinha sendo inconveniente para o Tricolor.
Os triunfos aconteceram com autoridade, sem interferência do acaso, e em ambos foi possível perceber a interferência do catedrático dedo uruguaio de Aguirre. O futuro é um ônibus que geralmente nos ignora no ponto em plena madrugada, então não se pode cravar um desfecho para o São Paulo nesta temporada – nem para o técnico charrua, ansioso pela consagração no lado de cá da fronteira, após trabalhos bons, mas incompletos, no Inter e no Galo.
É fato, no entanto, que hoje o São Paulo é um time de futebol que reflete ideias interessantes dentro de campo. Aguirre apanhou a massa falida que herdou de Dorival Jr. e transformou aquilo no embrião de uma equipe consistente. E, especialmente, apostando em um repertório não óbvio, como a escalação de KINGNALDO mais avançado para apanhar o Corinthians de calças curtas, entre outras manobras. Mas não se restringe apenas a escolhas, é claro. No clássico de sábado, apenas um time jogou. Apenas um time quis vencer. Que isso tenha acontecido contra o principal rival, e num Morumbi lotado, é uma senha para que os são-paulinos ao menos se permitam o inafiançável direito de acreditar.
Se há algo muito positivo no trabalho de Diego Aguirre é que o treinador uruguaio lança mão de alternativas que fogem da obviedade, mas ao mesmo tempo jamais coloca seu ideário acima da necessidade de vencer. Após o vultoso triunfo diante do Corinthians, a oitava vitória em 14 jogos pelo Brasileiro, o técnico disse que, ganhando ou perdendo, o que não vai mudar é “o sacrifício e a entrega a cada jogo”. Para a torcida são-paulina, que recentemente se viu obrigada a conviver com formações que jogavam com o ímpeto de uma capivara acometida por um ataque de asma, essas palavras soam como uma confortante milonga oriental, dedilhada entre um e outro trago de esperança.