São Paulo defende alegria rara da torcida para se levantar em clássico

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UOL

Bruno Grossi

O duelo entre São Paulo e Palmeiras, pela 28ª rodada do Campeonato Brasileiro, é enorme. E vai além da acirrada disputa pela liderança. Principalmente para os tricolores. A partida no Morumbi, às 18h deste sábado (6), mexerá com o orgulho do clube e ainda mais com o de uma torcida que nos últimos dez anos comemorou apenas dois títulos.

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Nesse período árido em taças, o são-paulino se acostumou a vibrar com pequenos oásis. Manter o tabu histórico contra o Palmeiras no Morumbi talvez seja a principal dessas conquistas singelas. Vitórias convincentes foram construídas mesmo quando o rival chegava como favorito, a exemplo do que aconteceu nas edições de 2016 e 2017 do Brasileirão. Mas o desafio que se apresenta agora é bem maior.

Os encontros das duas últimas temporadas foram precoces, no início do primeiro turno. Ninguém ainda despontava para nada. Nenhum caminho seria definido por aqueles clássicos. Tanto que o Tricolor, vencedor em ambos sem nem sequer sofrer um gol, brigou contra o rebaixamento nas duas vezes. E o Palmeiras foi campeão em 2016 e lutou pelo título no ano seguinte.

O peso do Choque-Rei deste sábado é infinitamente maior. Restarão dez jogos para o Brasileirão terminar. O Palmeiras poderá abrir quatro pontos de vantagem para um rival que liderou o torneio por nove rodadas. O São Paulo poderá desbancar um bicho-papão que ressurgiu com Luiz Felipe Scolari, a ponto de ser candidato a vencer a Copa Libertadores da América e a Série A usando praticamente dois times diferentes.

Isso gerou uma euforia alviverde que contrasta com a apreensão tricolor. O São Paulo precisa reagir após estragar seu melhor primeiro turno da história com um começo terrível no returno. Essa preocupante queda fez com que o orgulho de brigar por coisas grandes novamente acabasse minguando um pouco nas últimas semanas. E natural que esse temor por mais uma temporada sem troféus aumente com a chance de cair para um arquirrival.

Por mais imediatista e cruel que possa ser, a reestruturação comandada por Raí e Diego Aguirre fica sob risco. Não de ser jogada fora pelo clube – pelo menos é o que parece. Mas sim de ser alvo de reclamações acumuladas por fracassos e descasos passados. A história de que o São Paulo ficou sem créditos para pedir paciência a seu torcedor pode reaparecer.

Mas não seria a primeira vez que o atual projeto enfrentaria tal desconfiança – embora o sarrafo, a exigência, agora tenha subido. Depois de jogar bem e morrer na praia na semifinal do Campeonato Paulista, contra o Corinthians, e na quarta fase da Copa do Brasil, contra o Atlético-PR, a sensação era de que o time poderia crescer em seu novo estilo brigador. Só que o excesso de empates na largada do Brasileirão e a derrota para o próprio Palmeiras no primeiro turno geraram descrença.

Foi preciso provar em jogos grandes que o São Paulo, de fato, estava se reerguendo. Foi assim com o fim do tabu na Arena da Baixada, contra o Atlético-PR, onde o clube nunca havia vencido. E ganhou ainda mais força na volta da Copa do Mundo, com as vitórias incontestáveis contra Flamengo e Cruzeiro, fora de casa, e Corinthians, no Morumbi. Jogos grandes que ajudaram a moldar a fé da torcida e a força do time de Aguirre.

É necessário, entretanto, que elementos desse auge são-paulino sejam resgatados. A começar pela volta do lesionado Everton, que mal jogou no segundo turno do Brasileirão devido a problemas físicos. Ele tem treinado ao longo da semana e deve ser titular na ponta esquerda. Além disso, Nenê tem sido muito discreto. Ainda que mantenha certa regularidade em gols e assistências, ele se tornou muito menos participativo nas partidas. Está muito próximo da área, esperando que os volantes, que não têm tanto poder de criação, lhe entreguem a bola. Como camisa 10 e referência técnica, deve se apresentar mais.

Como os créditos adquiridos ao longo do trabalho de Aguirre ainda estão valendo, a torcida deve cruzar a marca de 50 mil presentes contra o Palmeiras. Voto de confiança. Aposta. Fé. O São Paulo que promete dias melhores precisa provar que está pronto para desfrutá-los.