Caso Daniel: versão de suspeito de matar jogador e depoimentos de testemunhas têm divergências

2268

GloboEsporte.com

Inquérito policial mostra diferença nas versões sobre a morte do jogador; empresário disse que matou Daniel porque o atleta tentou estuprar a esposa.

A versão de Edison Brittes Júnior – suspeito de matar o jogador Daniel na Região de Curitiba – sobre a noite do crime e depoimentos de testemunhas têm divergências, conforme aponta o inquérito policial que a RPC, afiliada da Globo no Paraná, teve acesso.

Pessoas que estavam na casa de Júnior, onde começou a confusão, amigos e parentes de Daniel foram ouvidos pela Polícia Civil do Paraná. Mas, a polícia não informou quantas testemunhas já prestaram depoimento.

Publicidade
Edson Brittes Júnior diz que perdeu o controle ao agredir jogador Daniel  — Foto: Reprodução/RPC

Edson Brittes Júnior diz que perdeu o controle ao agredir jogador Daniel — Foto: Reprodução/RPC

Na noite de quarta-feira, a equipe da RPC gravou uma entrevista com Júnior, no escritório do advogado dele, Cláudio Dalledone. O empresário contou que, ao chegarem em casa, a esposa Cristiana Brittes quis ir para o quarto dormir.

– Eu escovei os dentes dela, coloquei o pijama nela e botei ela para dormir – disse o empresário, em entrevista.

Roupa

Antes de irem para a residência da família Brittes, eles estavam em uma boate comemorando os 18 anos de Allana Brittes, filha do empresário. Mas, de acordo com a polícia, nas imagens que Daniel enviou para um amigo, Cristiana está aparentemente dormindo, com o vestido que estava usando na festa e com o mesmo colar. Na entrevista, Júnior ainda contou que ouviu a mulher gritar por socorro.

– De repente, uns 40 minutios que eles tinham chego, eu escuto gritos de socorro. Meu Deus, é a Cris. Levantei, a gente já estava sentado nas banquetas, levantei e fui para meu quarto – relatou.

Pedido de socorro

Uma das testemunhas contou uma versão diferente à polícia. Disse que Júnior perguntou onde estava Daniel. Cerca de trinta minutos depois, Júnior entrou na casa e começou uma gritaria. Júnior estava acompanhado de outro homem.

Contudo, o advogado de uma testemunha – considerada chave pela polícia – havia dito anteriormente que, em meio à festa na casa, a esposa do suspeito teria gritado por “socorro”.

A testemunha disse que Júnior agrediu Daniel com socos e pontapés, dizendo que ele tinha mexido com a mulher dele, que Daniel era estuprador e que teria mexido com mulher de bandido.

Faca

Ainda de acordo com a testemunha, Júnior pegou uma faca na cozinha. Júnior disse que matou Daniel com uma faca, mas que a mesma já estava no carro. Na entrevista à RPC, o empresário contou que usou uma faca para matar Daniel. Ao ser questionado se tinha saído de casa com a faca e se pensava em cometer o crime, ele disse que não.

Na entrevista à RPC, Júnior contou que usou uma faca para matar Daniel. Ao ser questionado se tinha saído de casa com a faca e se pensava em cometer o crime, ele disse que não.

– Não pensava, eu não pensava em nada. Eu tinha uma faca no carro, uma faca pequena, que eu usava no carro, que fica junto com as ferramentas no porta-malas. Eu não sabia que eu ia fazer aquilo, eu estava desesperado, fora de mim. Olhei no porta-malas e vi o que tinha – falou.

Conversa

A família teria tentado convencer testemunhas a contar a mesma história sobre o crime. Uma testemunha conta que foi chamada por Allana para conversar. Elas encontraram em um shopping – o pai e a mãe de alana estavam junto. Essa testemunha disse que família orientou o que deveria ser dito, caso fosse procurada, pela polícia.

De acordo com a testemunha, Edison Júnior propôs que eles ‘fechassem um elo’, e que se alguém falasse algo, ele saberia quem era. A testemunha disse que entendeu a fala como uma ameaça.

Segundo a polícia, Daniel era conhecido de Allana e inclusive tinha participado da festa de aniversário da garota no ano passado.

Corpo de Daniel foi encontrado em estrada rural de São José dos Pinhais — Foto: Reprodução/RPC

Corpo de Daniel foi encontrado em estrada rural de São José dos Pinhais — Foto: Reprodução/RPC

Família presa

Júnior foi preso na quinta-feira em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana da capital paranaense. De acordo com a defesa do suspeito, Daniel tentou estuprar a esposa de Júnior.

Cristiana Brittes e Allana Brittes, esposa e a filha do empresário, também foram detidas. De acordo com a Justiça, há fundadas razões de participação dos três no crime.

O advogado de Júnior e de Cristiana informou que famíla ainda não foi ouvida oficialmente pela polícia, apenas passou por uma audiência de custódia.

As prisões dos três são temporárias e valem por 30 dias. O corpo de Daniel Corrêa de Freitas foi encontrado no último sábado, dia 27, em uma mata perto de uma estrada rural na Colônia Mergulhão, em São José dos Pinhais.

Polícia procura outros suspeitos

A Polícia Civil do Paraná procura por outros três suspeitos que teriam participado da morte de Daniel.

– Nós estamos identificando quem são as pessoas que estavam na casa junto do principal suspeito. Sabemos que três pessoas entraram com ele e o jogador dentro do carro para matar Daniel – afirmou o delegado Amadeu Trevisan, da Delegacia de São José dos Pinhais.

O delegado disse que o jogador não teve como reagir à agressão que sofreu dentro da casa.

O crime

Segundo o delegado, Daniel foi espancado e torturado antes de ser colocado dentro de um carro que levou o jogador desacordado até o local do crime, onde o corpo do jogador foi encontrado.

A defesa de Júnior sustenta que, apesar de estar acompanhado de amigos, o empresário cometeu o crime sozinho. A polícia acredita que cerca de dez pessoas presenciaram o espancamento de Daniel.

O suspeito se descontrolou quando viu Daniel deitado na mesma cama que Cristina, no quarto do casal, e espancou o jogador, conforme o delegado. De acordo com a defesa do suspeito, Daniel teria se trancado no quarto com Cristiana para tentar estuprar a mulher.

Não se sabe ainda se o jogador teve relações sexuais com a mulher, segundo a Polícia Civil.

Perícias

Uma perícia foi feita na casa onde Daniel foi agredido. Com as informações, a polícia espera esclarecer se a porta do quarto onde a esposa de Edison e o jogador estavam precisou ser arrombada ou não. O carro usado para levar Daniel desacordado até a cena do crime também será periciado.

O Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Paraná (CBPMPR) ainda busca a faca usada no crime. Segundo a polícia, ela teria sido jogada em um riacho nas proximidades onde o corpo do jogador foi encontrado.

O Corpo de Bombeiros ainda busca a faca usada no crime. Ela foi jogada em um riacho nas proximidades onde o corpo do jogador foi encontrado, conforme a polícia.

Daniel

O meia Daniel estava emprestado pelo São Paulo ao São Bento, time que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro. Em 2017, jogou no Coritiba.

Daniel nasceu em Juiz de Fora (MG) e tinha 24 anos. Revelado pelo Cruzeiro, o meia também passou pelo Botafogo e Ponte Preta.

O atleta foi velado e enterrado em Conselheiro Lafaiete (MG), onde a família dele mora.