Mais dez taças: conheça a receita de sucesso da base do São Paulo

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LANCE

Pedro Smania, coordenador das categorias de base do Tricolor, explica ao LANCE! o processo de avaliação implantado pelo clube em Cotia e faz projeções para o futuro

Supercopa Sub-20

Se amargou mais um ano sem títulos no futebol profissional, o São Paulo teve muito o que comemorar nas categorias de base: foram mais dez títulos conquistados pelos garotos de Cotia em diferentes categorias. Além disso, o elenco principal está repleto de garotos criados na base, casos de Luan, Liziero e Helinho. Até o técnico, André Jardine, é #MadeInCotia. 

LANCE! ouviu Pedro Smania, coordenador das categorias de base do São Paulo desde fevereiro de 2017, para entender a receita de sucesso usada pelo clube com seus garotos. 

– Sempre falei com os profissionais de Cotia e com os atletas sobre a importância da competitividade, de vencer. Não vencer a qualquer custo, mas dentro dos princípios do São Paulo Futebol Clube. Entregar 100%, não negligenciar em nenhum momento o dom que se tem. Isso está enraizado aqui na base do São Paulo. Nem sempre vamos vencer, mas sempre vamos entregar 100% e isso nos deixará mais perto da vitória. Foi por isso que a gente ganhou a Supercopa Sub-20 dentro do Allianz Parque com um homem a menos desde o primeiro tempo. Perdemos a final da Copinha de 2018 para o Flamengo, mas a todo momento nos entregando. Ficamos insatisfeitos com o vice, mas satisfeitos com a entrega. Esse é o modelo cultural que a gente quer para o São Paulo – disse o dirigente, que fazia trabalho semelhante no Figueirense.

Os meninos de Cotia ganharam Brasileirão de Aspirantes (sub-23), Copa do Brasil Sub-20, Supercopa Sub-20, FAM Cup Sub-17, J-League Challenge Cup Sub-17, Paulista Cup Sub-16, Torneio Brasil-Japão Sub-15, Campeonato Paulista Sub-15, Paulista Cup Série Prata Sub-14 e Campeonato Paulista Sub-11.

Veja a entrevista completa com Pedro Smania:

LANCE!: A que você atribui o sucesso da base do São Paulo?
Pedro Smania: 
Nós criamos a avaliação 360 graus. Avaliamos o desempenho atual e o desempenho potencial para determinar se o atleta fica ou se a gente acha que ele deve sair. A entrada ou a saída de um atleta do clube não depende exclusivamente de uma pessoa. É um colegiado que avalia dentro de critérios estabelecidos por nós.

Como se determina que um garoto será aceito em Cotia?

Abaixo dos 14 anos, temos uma gama de atletas monitorados por todo o país. É uma avaliação estritamente técnica, feita pelo nosso setor de captação. A partir do momento em que precisamos decidir quem vai alojar em Cotia, com 13 ou 14 anos, os garotos passam por esse processo de avaliação do desempenho potencial. O que a gente avalia? Os critérios técnicos, claro, mas uma série de outros quesitos como criatividade, como é o comportamento do atleta em campo, a rede de apoio… Como é o comportamento dos pais, a família, o empresário. Qual é o envolvimento que essas pessoas têm? O nivelamento escolar, teste de raciocínio lógico, tomada de decisão… Uma série de avaliações para entender o potencial de cada atleta. O foco disso é errar o mínimo possível, trazer atletas com o maior potencial possível para dentro do Centro de Formação de Atletas.

Há o exemplo de um garoto que tenha passado por todo esse processo?
A geração 98 passou por todo esse processo, até pela criação dele. Posso incluir o Éder Militão, o Liziero, o Luan. Eles variavam entre A e B+ na avaliação potencial. Atletas B+ e A têm grandes chances de chegar ao profissional. O Militão é titular do Porto e estava como A na nossa avaliação.

Hoje, o São Paulo tenta levar o modelo de jogo da base para o profissional. A ideia é ter todos os times do clube jogando da mesma forma, propondo jogo?
O modelo de jogo da base do São Paulo é um modelo de proposta de jogo. É até um nome batizado aqui: propositivo. Esse foi colocado como nome do que gostaríamos de ter aqui: é ficar com a bola, controlar o adversário, pressionar após a perda da bola… É o que a gente considera o modelo do São Paulo.

A efetivação do Jardine foi uma notícia ótima para vocês, não?

O processo de formação é uma escola. O aluno que vamos entregar para o mercado tem que ser o mais próximo possível do que o mercado exige. Ter um profissional lá com a mentalidade já enraizada daquilo que a gente faz na base é muito mais fácil. O atleta que sai da base chega ao profissional com naturalizada. Mas o fato de nós termos a nossa ideia e nosso modelo de jogo não significa que outras ideias estejam erradas. A gente respeita outros profissionais com ideia de jogo diferente, cada um tem uma linha. Mas nós acreditamos que esse modelo que estamos implementando seja o ideal para o São Paulo.

O São Paulo foi campeão brasileiro sub-23, mas é interessante ter uma categoria para garotos dessa idade?
Ainda não temos uma resposta final para isso. Estamos caminhando agora para a criação do nosso sub-23, com muitos voltando de empréstimo, muitos descendo do profissional… Ainda há uma série de dúvidas de quanto vale a pena ter essa categoria, até que ponto vale a pena estender contratos. Confesso que precisa ser mais debatido em âmbito nacional, em termos de calendário. É uma categoria que precisa ser debatida, sim. O custo é um dos pontos que precisam ser discutidos. O quanto custa estender o processo de formação até 21, 22 ou 23 anos?

Você acredita que o processo de formação termina em qual idade?

​Estudos indicam que o atleta consegue seu ápice de performance com 22, 23 anos, na maioria. Os que são fora da curva obviamente conseguem jogar no profissional com 16, 17, 18, 19 anos, o que não é normal. O normal é ter mais segurança, conhecer melhor o corpo quando está um pouco mais velho. É preciso analisar: valeria a pena emprestar esse atleta ou vale a pena mantê-lo com você em uma equipe sub-23? Quando empresto um atleta, não sei quais as condições que ele vai encontrar, se ele vai jogar ou não, quais os interesses do outro clube…

A geração atual, com Liziero, Luan, Helinho, Igor Gomes e Antony, é a mais preparada que Cotia já mandou ao profissional?
O que eu acho legal é que essa geração é mista. A geração de Luan, Liziero e Militão é 98. A geração Igor Gomes é 99. Precocemente temos a geração 2000, com Helio e Antony. São três gerações seguidas já no profissional. Isso é sinal de que o processo está sendo bem feito.

Os zagueiros Rodrigo e Walce e o lateral-direito Tuta serão promovidos definitivamente?
Rodrigo é 98, ele está no profissional, ano que vem não consegue mais atuar na base. O Tuta e o Walce são 99. O Walce iria para a Copa São Paulo, mas não vai porque é capitão da Seleção Sub-20 e em janeiro temos o Sul-Americano. Vamos debater o quanto vale a pena ele estar no profissional ou aqui jogando. Helio, Antony, Walce e Tuta são quatro que podiam estar na lista da Copinha e não estão.
Nota da redação: Rodrigo, Tuta e Walce chegaram a integrar o elenco principal durante o Brasileirão, mas não jogaram.

O São Paulo foi finalista das últimas quatro Copas RS, com três títulos, e não ganhou a Copinha no período. É mais difícil mesmo?
Em termos técnicos a Copa RS acaba sendo mais difícil. Parece contraditório, mas fomos tricampeões da RS e não ganhamos a Copa SP. Talvez a derrota da final de 2018 seja a mais doída, sofremos demais. Tomamos o gol aos três minutos e pressionamos o jogo inteiro. Me dói até hoje.

Para o Brenner, hoje, é melhor jogar na base ou no profissional? Ele sobrou no sub-23, mas não consegue se firmar na equipe principal.

Ele é uma joia que precisa ser cuidada. Tem experiência de profissional, já fez gol pelo profissional, tem um potencial altíssimo. É um menino muito dedicado, bom de lidar com ele. Ele precisa de rodagem, precisa jogar, precisa experimentar mais. Já faz mais de um ano que ele está no profissional, então esse acompanhamento já fugiu da nossa alçada. A gente não acompanha mais. Quando desceu, foi muito bem.

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