UOL
Bruno Grossi e Samir Carvalho
- Ivan Storti/SantosFC e Marcello Zambrana/AGIF
Com exceção à forma como atuaram no mercado da bola, Santos e São Paulo iniciam 2019 mais parecidos do que você pode imaginar. E isso passa pelos técnicos das equipes. Duas figuras que levantaram questionamentos de torcedores e jornalistas, que têm ideias similares de lutar pelo jogo bonito e que largam no Campeonato Paulista com o prestígio de quem aliou bom desempenho com 100% de aproveitamento.
Neste domingo, às 17h, Jorge Sampaoli e André Jardine se enfrentarão pela primeira vez na carreira. O Pacaembu será o palco do primeiro clássico do Estadual. Um duelo que promete muitos gols, jogadas bonitas e um banho da palavra da moda: intensidade. Que terá confrontos interessantes de novos conceitos, como o “perde e pressiona” e que desafiará defesas que tentam sair jogando sem chutões.
“Jardine e Sampaoli têm ideias bastante parecidas. Até conversei com Jardine sobre isso, sobre o plano de jogo do Santos ser meio o que ele pensa, no que ele se espelha. No futebol, todo mundo pode falar o que pensa e tem esse direito. Mas o que resolve mesmo é o que acontece nas quatro linhas. quando os resultados acontecem, o trabalho é bom e os jogadores são bons. Se perde, é tudo ao contrário. Estamos começando bem. E sabemos que o Santos sofreu uma reformulação até maior do que a nossa. Mas é um baita de um treinador que está lá e com certeza será um grande jogo”, apostou o volante são-paulino Hudson, que foi revelado pelo Peixe, em entrevista ao UOL Esporte.
Sampaoli chegou ao Santos sob desconfiança após o fracasso com a seleção argentina na última Copa do Mundo. Para piorar, o treinador teve o trabalho desacreditado pela saída de atletas importantes, como Gabigol, Bruno Henrique e Dodô, e a falta de contratações. Até o momento apenas dois reforços chegaram: os gringos Soteldo e Felipe Aguilar.
Essa demora para encontrar novas contratações gerou apreensão. Sampaoli não escondeu a insatisfação por encontrar uma terra mais arrasada do que imaginava financeiramente falando. Mas seguiu seu trabalho diário, ignorando reclamações de que só pensava em estrangeiros na hora de contratar.
Já a desconfiança que pairou sobre Jardine foi diferente. Falou-se que um técnico novato não daria conta de administrar um elenco com nomes de peso como Hernanes, Nenê e Diego Souza. E que a pressão por títulos no São Paulo o faria sucumbir nos primeiros tropeços. As duas derrotas na Florida Cup deram força esse discurso, até que o Paulistão começou com bom futebol e elogios ao treinador.
“Eu confesso que não acompanho os programas esportivos. Até evito, porque é cada um dando sua opinião, são muitas pessoas e pessoas que não sabem muito o que acontece no dia a dia. É diferente de quem está vendo os treinos praticamente todos os dias. é um desafio para o Jardine, e seria para qualquer outro, administrar um grupo que tem dois jogadores para cada posição”, criticou Hudson, que prosseguiu:
“É uma gestão muito difícil, mas é um desafio para os jogadores também, de aceitar ficar no banco, de entender que o momento é de outro. E estamos cansados de saber que para ser campeão não é só com os 11. O time que começa o primeiro jogo nunca é o time que termina o último. Nós podemos ajudá-lo”.
Mesmo sem reforços, Sampaoli formou um Santos competitivo no início da temporada, com um empate (amistoso contra o Corinthians) e duas vitórias no Estadual (Ferroviária e São Bento). O argentino mostrou nos jogos o que faz nos treinos: uma equipe bastante ofensiva, com alta intensidade, que valoriza posse de bola, marcação pressão e passes rápidos.
O comandante alvinegro não abre mão de um time técnico, que não dê chutão e saiba sair jogando desde o goleiro. Por isso pediu a contratação de Éverson, que chegou ao clube por R$ 4 milhões. Sampaoli ainda se destaca por ter “ressuscitado” alguns jogadores. Jean Mota é o melhor exemplo. O meia estava na lista de “moedas de troca” e hoje é o principal destaque do time, com dois gols e uma assistência em dois jogos.
Jardine também mostrou que com os treinamentos seu discurso por um futebol mais bonito pode ser colocado em prática nas partidas. O São Paulo de 2018 corria demais, se entregava, mas era pouco criativo na hora de atacar. Com o novo técnico, já se vê inversões de bola, ultrapassagens e triangulações.
As trocas de posicionamento ao longo dos jogos também são interessantes. O lateral-direito Bruno Peres, por exemplo, sai para o meio para atrair a marcação do ponta adversário e permite que o ponta tricolor – seja Helinho ou Nenê – fique no mano a mano com o lateral da outra equipe. Uma solução para romper retrancas, pesadelo do Tricolor na última temporada.
Nenê, aliás, tem sido outra boa resposta de Jardine. O camisa 10 teve seus momentos de atrito com Dorival Júnior e Diego Aguirre, treinadores mais experientes, e a dúvida se haveria respeito do veterano jogador ao novato técnico foi debatida pela imprensa e pela torcida. Até aqui, foram dois jogos na reserva e dois como titular de Nenê. Ele só iniciou as partidas em que Hernanes foi desfalque, atuou uma vez como armador e outra como ponta e já soma três assistências na temporada.