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Alexandre Lozetti
Refém da medíocre política de benesses a conselheiros, São Paulo sobrevive sem perspectiva de se fortalecer como instituição.
Nenhuma palavra escrita desta linha para baixo depende do resultado do jogo desta quarta-feira. O São Paulo pode golear ou ser goleado pelo Talleres, e não deixará de ser um clube sequestrado por interesses medíocres de seus dirigentes e conselheiros.
O atropelamento sofrido na última década por Corinthians e Palmeiras tem tudo a ver com a pequenez da administração do São Paulo. O mais novo golpe em sua torcida foi usar um jogo importantíssimo para promover uma excursão de senhores que pouco colaboram com o clube.
A versão presidente de Leco tem sido assim. Capaz de insultar ídolos e levar para passear qualquer um que tenha votado nele ou possa representar uma dor de cabeça ao seu mandato. Seus atos após 40 meses no cargo mostram que Leco não queria ser presidente para melhorar o São Paulo, mas sim para satisfazer um capricho. Egocentrismo. Encantamento.
Leco, presidente do São Paulo — Foto: Marcos Ribolli
Entre os turistas do AeroLeco está Douglas Schwartzmann. Entre 2014 e 15, tornou-se o principal aliado de Carlos Miguel Aidar, que renunciaria meses depois por denúncias de corrupção. Uma gravação feita pelo ex-vice Ataíde Gil Guerreiro mostrava ele e Aidar, brigados, ambos acusando Schwartzmann de pedir comissões nos mais diversos negócios.
Desde então, nada foi provado contra Schwartzmann. Há 15 meses, ele criticou ferozmente a benesse de viagens a conselheiros e pediu impeachment de Leco. Agora se beneficia dela. Porque no São Paulo a palavra tem pouco valor. Elogia-se hoje para demitir amanhã. Critica-se hoje para se beneficiar amanhã. Promete-se hoje para descumprir amanhã. São todos iguais.
O São Paulo está sequestrado. É refém. Está sufocado num porão do Morumbi onde essa gente se reúne periodicamente para debater o futuro sem qualquer conhecimento. Não sabem de futebol, não sabem de administração, não sabem de gestão. E para o profundo sofrimento de milhões de torcedores, não há previsão de resgate.
Ninguém pede resgate e ninguém se mostra disposto a resgatá-lo.
O São Paulo está fadado ao enfraquecimento sem freios se continuar nas mãos de 0,0007%– ínfimo percentual de conselheiros diante da imensa terceira maior torcida do país. Esses que babam por banalidades como ingressos e passagens. O álibi de Leco de ter herdado um clube caótico prescreveu. Ele é tão responsável como seus antecessores, e daqui para frente mais do que eles.
Douglas Schwartzmann, ex-diretor de marketing e conselheiro do São Paulo — Foto: Marcelo Hazan
Entre a coragem de fazer o São Paulo avançar e o comodismo de se ajeitar na política de conchavos, o presidente deixa clara sua opção. Entre a ousadia de procurar mentes novas, apolíticas e dispostas a estimular o São Paulo e o conforto de se cercar de bajuladores, também.
Acalmar o Conselho com agradinhos como viagens ao lado dos jogadores é método ultrapassado. Já era velho quando praticado por Juvenal Juvêncio, muito mais competente, mas tão eficaz em cultivar poder que se perdeu em meio a conchavos e alianças.
A versão oficial diz que o AeroLeco simboliza a pacificação do clube com o convite a diversos partidos políticos são-paulinos. É preciso ser muito burro para aceitar essa explicação. Pacificar com carne, vinho e cerveja argentinas? Ignorar que quem se abraça hoje trocou insultos há meses e trocará novamente em 2020, quando haverá eleições?
Entregar cargos executivos a conselheiros também serve para pacificar? Tornar um assessor pessoal remunerado é pacificador?
Enquanto isso, não há planos para o Morumbi, para o CT da Barra Funda, para o marketing, não há ambição para o futebol, não há sintonia entre base e profissional, não há nada que possa interessar ao torcedor.
A indecente viagem de Córdoba ficará gravada como um dos tristes capítulos do interminável sequestro do São Paulo.