Último técnico a barrar Ceni no São Paulo critica apelido de ‘Mito’ e diz: ‘Não confio nele’

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ESPN.com.br

Gustavo Setti e Patrick Mesquita.

Gazeta Press

Márcio Araújo, técnico
Márcio Araújo, técnico que barrou Rogério Ceni no São Paulo

Durante os mais de 25 anos defendendo o São Paulo, Rogério Ceni ganhou o status de titular absoluto, mas nem sempre foi assim. Hoje chamado de “Mito” pela torcida, o goleiro já perdeu a posição por opção técnica e até hoje não caiu nas graças do então treinador Márcio Araújo, que não esconde a rusga em relação a um dos maiores ídolos do clube.

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O caso que deixou marcas no técnico aconteceu em 1992, durante o Campeonato Paulista da categoria júnior. O clube do Morumbi enfrentava o Mogi Mirim. O jogo estava 2 a 2 quando o time do interior cruzou para dentro da área. Ceni até tentou afastar, mas falhou ao dividir com um adversário e viu a bola morrer no fundo da rede. O erro, além de ter resultado em derrota, também custou a vaga do camisa 1.

No vestiário e na frente de todos os jogadores, o goleiro levou um esculacho de Márcio Araújo e perdeu a titularidade – foi a última vez que ele foi deixado no banco do São Paulo por opção de um técnico.

“Eu não confio muito nesse rapaz”, disse em entrevista ao ESPN.com.br. “Não lembro direito o que aconteceu naquele jogo. Você tira um jogador, põe outro. Não foi nada pessoal, foi uma circunstância que tinha. Eu, com todo respeito, não gosto muito dele, não. Não gosto dele como pessoa.”

“Nunca tive afinidade com ele. Tenho que medir as palavras pra não criticar do jeito que eu gosto. Você imagina um sujeito que se coloca em um patamar que nada acontece acima dele, se coloca como se fosse de outro planeta, como se tivesse machucado a imagem dele. Pode acontecer com qualquer um, é algo normal e cotidiano (perder a vaga de titular). Mas esse espírito soberbo… deixa pra lá”, discursou.

Márcio também não vê Rogério nem como o maior ídolo a vestir a camisa do clube tricolor e muito menos como um “Mito”. “Eu prefiro outros jogadores a ele na história do São Paulo. Não queria ser indelicado pelo momento da carreira. Não queria que fosse uma mancha. Eu sempre olhei o lado humano, a pessoa. Não é aonde a pessoa chegou, mas o jeito que a pessoa chegou. Ele (Ceni) tem uma história muito relevante no clube, mas eu gosto muito mais do José Poy, do Serginho Chulapa e do Oscar. O mito precisa ser muito mais profundo do que ele é. Parabéns para ele, mas, efetivamente, se me convidassem pra tomar um café com o Zé Poy ou com o Rogério, eu ira toda vez com o falecido Poy”, falou.

Assim como tirou Ceni do time em 1992, o mesmo Márcio Araújo promoveu a estreia de Rogério nos profissionais no ano seguinte, quando o São Paulo ficou com o título do Troféu Cidade Santiago de Compostela, na Espanha.

“Não saímos do país com ele titular. Quem o colocou de titular fui eu. Eu que, por justiça e por competência dele, o coloquei. Jamais posso negar suas conquistas e o brilhantismo que ele teve. A minha colocação foi extremamente profissional, que é minha função. Pessoalmente, eu não o colocaria. Não estou lá pelo lado pessoal. Se perguntar pra mim, eu prefiro a pessoa que eu tenho o prazer de conviver do que um cara que ganhou muitos títulos na carreira”, contou.

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Márcio Araújo já jogou pelo São Paulo na década de 1980
Márcio Araújo já jogou pelo São Paulo

O treinador ficou cerca de um ano e meio no time tricolor. Neste período, o São Paulo venceu a Copa São Paulo de Futebol Júnior e o Campeonato Paulista de Aspirantes, ambos em 1993. Desde então, Rogério e Márcio voltaram a se encontrar diversas vezes como adversários. A relação, porém, nunca foi próxima.

“Nas vezes que fui jogar contra o São Paulo como técnico, nem sequer nos cumprimentamos. Cada um do seu lado. Seguiu para ele, seguiu pra mim. Não tenho muita vontade de ter contato com ele. A vida dá voltas, não posso falar que nunca vai ter, mas eu prefiro outro tipo de pessoa para ser meu amigo”, explicou.

Márcio Araújo começou a carreira de jogador justamente no time tricolor, na década de 1980, quando chegou a ser titular no lugar de Paulo Roberto Falcão. Como técnico, já comandou mais de uma dezena de clubes, entre eles, Atlético-MG, Goiás, Palmeiras, Coritiba e Bahia. Ele chegou a ficar três anos parado depois de treinar o São Caetano em 2012 até finalmente voltar à ativa no começo deste ano, no Bragantino. O último trabalho, porém, durou só um mês.

“Parei esses últimos três anos, meu filho nasceu e me propus a cuidar dele junto com minha esposa. Meu filho mais velho tem 27 anos, e eu não o vi crescer. Eu me propus a ficar parado, cuidar, ver meu filho falar ‘papai’, mas, com isso, o mercado acaba se fechando. Uma hora, Deus abre a porta novamente”, disse.

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Carlão (dir.), quando trabalhou no Bragantino no começo de 2015
Carlão (dir.), quando trabalhou no Bragantino

O substituto de Ceni

O escolhido para entrar no lugar de Rogério Ceni depois daquele jogo contra o Mogi em 1992 foi Carlos Magno. O goleiro ganhou a vaga e lembra bem do episódio.

“Eu era recém-chegado do São José. Ele (Rogério) iniciou o Paulista sub-20 como titular em 1992, eu estava no banco, o Rogério não foi bem, falhou, e o Márcio Araújo decidiu me colocar no jogo seguinte. Na realidade, mesmo eu sendo o titular na época, o Valdir de Moraes chamava o Rogério para treinar nos profissionais”, contou.

Carlão, como é conhecido, foi titular durante o Paulistão até perder o posto depois de uma goleada. “Perdemos por 4 a 0 do Juventus, da Mooca, e, no jogo seguinte, o Rogério voltou a ser o titular. Foi tudo bem natural. Eu não tive falhas em nenhum dos gols, mas foi uma derrota pesada, então acabei saindo do time.”

O goleiro deixou o clube do Morumbi pouco tempo depois, uma decisão considerada errada. “Eu tinha 18, 19 anos, vislumbrei a chance de ser profissional e pedi para sair do São Paulo. Foi uma decisão errada e me arrependo até hoje”, afirmou.

Magno se aposentou em 2004, tornou-se preparador de goleiros do São Caetano, ainda passou pela base do Palmeiras e, desde 2013, trabalha no Corinthians sub-20, com breve passagem pelo Bragantino neste ano.

“Depois do São Paulo, rodei bastante no interior. Se eu for numerar todos os clubes que joguei, são 13. A grande dificuldade que a maioria dos jogadores profissionais do interior tem são as poucas competições. Você disputa a A-2, A-3 do Paulista e depois não consegue clube para disputar um Brasileiro. Então, tomei a decisão de seguir um outro caminho. Ficar batendo cabeça no interior, não tinha mais perspectiva de voltar a atuar em alto nível”, explicou.

3 COMENTÁRIOS

  1. Grande Márcio Araújo, são pessoas como VC que engrandecem o futebol, apenas os inteligentes conseguem enxergar a verdadeira face da Múmia.

    Mas parece que finalmente acabou, sua presença nefasta encerrou definitivamente, agora é só colocar cloro ou desinfetante por onde ficaram seus tapurus.