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Desde que começou a cobrar faltas e consequentemente fazer gols, Rogério Ceni foi automaticamente obrigado a conviver com as comparações com José Luis Chilavert. O goleiro paraguaio era o maior arqueiro-artilheiro da história, com 62 tentos. O paralelo teve fim em 2006, quando o astro são-paulino ultrapassou a marca do companheiro de posição ao balançar as redes 63 vezes.
Com o passar do tempo, Ceni não apenas superou o ídolo da seleção paraguaia como pulverizou o recorde, finalizando a carreira tendo marcado em 131 oportunidades. Mas nem pense que Chilavert sente qualquer ponta de “raiva” por ver a marca ser batida. Aposentado, o ex-atleta é só elogios ao capitão do São Paulo, que sai de cena nesta sexta-feira.
Em entrevista ao ESPN.com.br, o paraguaio destacou a admiração pelo camisa 01 tricolor e tem certeza que o nome de Rogério Ceni tem lugar garantido na história do futebol mundial.
“Rogério Ceni é uma lenda viva. É um goleiro que ganhou tudo. Excelente batedor de faltas e muito bom goleiro. Acredito que ele é um grande profissional, um dos melhores goleiros da história do futebol. Ver que ambos temos qualidades é ótimo. Fico feliz que ele seja o goleiro que mais marcou e eu estou no segundo lugar”, disse.
Apesar dos elogios ao ídolo do São Paulo, Chilavert evita a comparação entre os feitos conquistados por cada um. Um dos motivos apontados pelo paraguaio é o calendário do futebol brasileiro, que proporciona até três jogos por semana.
“Estou tranquilo. Não se pode comparar uma coisa com a outra porque eu joguei na Argentina por muito tempo e jogava uma vez por semana. No Brasil, se joga uma vez a cada três dias”, analisou.
Chilavert se refere ao tempo que defendeu o Vélez Sarsfield, de 1991 até o ano 2000. Neste período, o hoje ex-goleiro marcou 48 dos 62 tentos da carreira. Ele ainda defendeu Sportivo Luqueño-PAR, Guaraní-PAR, San Lorenzo-ARG, Real Zaragoza-ESP, Strasbourg-FRA e Peñarol-URU.
O paraguaio só é melhor do que Ceni em uma estatística: foram oito gols com a camisa da seleção do país, enquanto o são-paulino nunca marcou com a amarelinha. Apesar disso, Chilavert acredita que seria desleal contar vantagem.
“Creio que são situações diferentes, jogar com a seleção do Paraguai e a do Brasil. O Brasil tem muitos jogadores com qualidade para cobrar faltas, e no Paraguai só tínhamos Arce e eu. Como goleiro, eu marquei oito gols em eliminatória e isso era muito difícil para ele”, comentou.
Por falar em seleção, Chilavert acredita que Ceni fez certo ao nunca tentar agradar dirigentes para manter um lugar no elenco brasileiro. Ao longo dos anos, o são-paulino nunca foi “querido” pela alta cúpula da Confederação Brasileira de Futebol, principalmente após a pequena confusão durante a Copa das Confederações de 1997, na Arábia Saudita, quando o goleiro tricolor se irritou quando parte do elenco tentou raspar a sua cabeça na concentração.
“Me parece perfeito caso ele não goste de como o trataram na seleção. Isso mostra a personalidade dele. Todo mundo que segue a federação já tem na cabeça a chance de trabalhar na seleção, coisa que o Rogério manifestou os problemas e isso gerou problemas entre ele e os dirigentes. O mais importante é ter personalidade, e isso o Rogério Ceni tem”, elogiou.
Certo de que Rogério Ceni vai parar no momento ideal, Chilavert deseja sorte ao agora companheiro de aposentadoria e não pensa duas vezes ao cravar que o legado do “Mito” tricolor não se restringirá aos gols, mas também ao trabalho duro demonstrado ao longo dos anos.
“Ele deixará um legado muito sensível, com uma mensagem para os jovens: você precisa trabalhar muito para ir longe. Para poder largar o futebol, você tem que trabalhar muito duro, com muito sacrifício, abdicando da vida privada. Só tenho que dar os parabéns a Rogério Ceni, que está parando em um momento ideal, com êxito e em alto nível. Todos sempre irão falar dele.”
Ainda bem mesmo senão teríamos perdido o mundial de 2002