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Bruno Grossi
Nos últimos três anos, o São Paulo teve em mãos meias talentosos, de carreira vitoriosa na base, mas que nunca conseguiram repetir o nível de atuação no profissional. Lucas Fernandes e Shaylon empolgaram técnicos, receberam chances e não as aproveitaram. Desta vez, a oportunidade foi dada a Igor Gomes, que nunca foi cercado pela mesma expectativa dos antecessores. E, curiosamente, o “caçula” desse trio é quem responde mais rápido às exigências da equipe principal, que amanhã enfrenta o Palmeiras no Allianz Parque às 16h para tentar voltar a uma final de Campeonato Paulista.
Há um consenso no CT da Barra Funda e em Cotia de que Lucas Fernandes era o mais “genial” deles. Ambidestro, confundia marcadores por variar a direção dos dribles, marcava gols de fora da área e era eficiente nas bolas paradas. Depois que passou por cirurgias de ombro e joelho, voltou sem a confiança de antes, deixou de arriscar jogadas individuais e foi perdendo espaço até ser emprestado ao modesto Portimonense, de Portugal, em agosto do ano passado.
Lá, disputou 24 partidas e anotou somente um gol. Lucas só foi se firmar como titular neste ano e acumula neste momento dez rodadas seguidas iniciando os jogos. O meia tem evoluído, mas ainda está aquém do que se imaginava no São Paulo, onde os últimos meses foram marcados por atuações apagadas e pouca vibração. Ainda assim, ele é visto como um bom ativo para ser negociado, já que tem sido observado por clubes maiores de Portugal.
Um ano após a promoção de Lucas, em 2016, apareceu Shaylon, pupilo de Rogério Ceni. Na base tricolor, o jogador que nasceu nas categorias inferiores da Chapecoense era famoso por estar sempre ativo nas partidas. Entrava na área, dava muitas assistências e ainda contribuía com gols – chegou a ser artilheiro de uma temporada no sub-20 com 23 tentos. Chegou a ser comparado com Paulo Henrique Ganso e sempre se destacou pelo poder de finalização de fora da área.
No profissional, Shaylon conseguiu ser mais efetivo do que Lucas Fernandes – 4 a 2 em gols -, mas também sofreu para se adaptar ao ritmo mais forte das partidas. A percepção do departamento de futebol era de que faltava mais pilha, mais coragem para o meia enfrentar marcadores mais duros do que os que encontrava na base. Mas o São Paulo confia que isso pode ser despertado em Shaylon e por isso o empréstimo ao Bahia neste ano é visto como essencial.
Shaylon se deparou com uma realidade menos cômoda do que a que vivia no São Paulo, quase sempre na reserva. No time de Salvador, ganharia mais chances e não deixaria de ser cobrado, já que se trata de um clube de tradição, com torcida grande e exigente. E a resposta até agora tem sido boa: em 18 jogos, já fez cinco gols, um a mais do que marcou em 39 compromissos no profissional do São Paulo.
Com Lucas Fernandes já em Portugal e Shaylon no Bahia, o caminho ficou livre para que Igor Gomes pudesse ter sua chance – ainda que tenha jogado duas vezes em 2018, sempre discreto. Enquanto os antecessores começaram a ser usados aos poucos, em jogos menores, Igor entrou de cara como titular e em momento crítico para o Tricolor no Campeonato Paulista.
Era preciso garantir a classificação às quartas de final em duelo com o desesperado São Caetano, em gramado pesado no Anacleto Campanella e pressão da torcida. Igor entrou leve em sua primeira partida como titular no profissional. Tocava rápido e fácil, não se escondia. Na partida seguinte, contra o Ituano, estreou como titular no Morumbi e conduziu o time com vigor físico e presença de área, marcando os dois gols da vitória por 2 a 1.
Ainda que não tenha participado de gols na volta contra o Ituano e na primeira semifinal contra o Palmeiras, Igor seguiu como peça fundamental para um novo São Paulo que vai tomando forma. Briga o tempo todo, não prende a bola e busca sempre triangulações rápidas. Tenta aproveitar a força que tem para brigar com os marcadores e não se intimida em entrar na área. Reflexos de uma personalidade que logo chamou a atenção no profissional.
Dirigentes e membros da comissão técnica entendem que Igor pode não ter a mesma capacidade técnica, de dribles ou refinamento que Lucas Fernandes e Shaylon mostravam – embora, claro, também tenha virtudes com a bola nos pés. Mas essa diferença é compensada por uma capacidade física e mental superior. Igor se impõe mais, tem o que Diego Lugano costuma chamar de “fogo sagrado”. E é por isso que hoje depositam nele muito mais confiança do que nos antecessores.