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Claudio Zaidan
O título paulista deste ano será um marco histórico; resta saber se para o São Paulo ou se para o Corinthians. É fato que o São Paulo já havia encarado dois períodos longos sem vencer o campeonato estadual, mas seu recorde negativo foi atingido no ano passado: 13 temporadas sem ganhar o Paulista. Foi em 2005 a última vez que guardaram no Morumbi o troféu da Federação Paulista. O time, então, era comandado por Emerson Leão, mas havia sido formado por Cuca no ano anterior. Depois do título paulista, Leão aceitou um convite para trabalhar no Japão e foi substituído por Paulo Autuori.
Ainda em 2005, o São Paulo conquistou a Libertadores e o Mundial; aliás, na decisão contra o Liverpool, além da atuação extraordinária de Rogério Ceni, foi notável a preparação feita por Autuori. Chegou Muricy Ramalho e o clube faturou três Brasileiros seguidos: 2006, 07 e 08. Com tantos títulos de incontestável relevância acumulados em tão pouco tempo, não incomodava ficar sem o Paulista.
Última taça levantada pelo São Paulo foi a Copa Sul-Americana em 2012
Depois de 2008, porém, a única taça que o time profissional levou para o Morumbi foi a Copa Sul-Americana de 2012, o que aumenta a inquietação pela sequência sem título estadual; sequência, de resto, inédita para o clube. O São Paulo experimentava angústia parecida há 49 anos, depois de 12 campeonatos paulistas sem a faixa. Em 1970, com Toninho, abarrotado de títulos pelo Santos, Gerson, excepcional craque do Botafogo, e Roberto Dias, o tricolor ganhou o Paulista. Contratou, então, o uruguaio Pedro Rocha, um dos melhores jogadores da história do futebol, e levou o troféu também em 71.
Do mesmo modo que o São Paulo precisava muito do título em 1970, a conquista do estadual deste ano teria importância singular para o clube. Já o Corinthians busca um feito que conseguiu pela última vez ainda nos tempos do histórico artilheiro Teleco: três títulos paulistas seguidos. De 1937 a 39, o Paulista foi do Corinthians, que já havia conseguido ficar com a taça de 1922 a 24 e de 28 a 30. De 1932 a 34, só deu Palmeiras, então Palestra Itália. Não é moleza ganhar três Paulistas seguidos.
Nos últimos 80 anos, só o Santos conseguiu; e foram três vezes: de 1960 a 62, de 67 a 69 e de 2010 a 2012. Aqui, vale ressaltar que Pelé foi campeão em 58; 60 a 62; 64 e 65; 67 a 69; e 73 (quando o título ficou com Santos e Portuguesa). Toninho ganhou cinco Paulistas seguidos: de 67 a 69, com o Santos, e em 70 e 71, com o São Paulo. O Corinthians poderá, assim, se tornar o primeiro a somar quatro sequências de três títulos. Se conseguir, chegará a 30 títulos estaduais e terá a chance, no ano que vem, de alcançar o recorde do Paulistano, único que faturou quatro Paulistas seguidos, a saber, de 1916 a 1919.
Na decisão desde ano, me parece perda de tempo tentar ver favoritismo. O São Paulo, que sofreu além do razoável para se classificar para as quartas do Campeonato, melhorou muito já no primeiro jogo contra o Ituano, ou seja, desde que o meio-campo passou a ser formado por Luan, Liziero e Igor Gomes. Resolvido o problema no meio, cresceu ainda mais o futebol talentoso de Antony. Mancini também acertou ao escalar Hudson na lateral direita. Nos embates contra o Palmeiras, o time passou por 180 minutos que lhe deram confiança e alguma maturidade; mas também foi notória certa dificuldade para acertar o gol. Cuca, é claro, notou isso e deve estar usando cada oportunidade nesta semana para treinar finalizações.
O Corinthians, por sua vez, como reconhece Carille, tem feito um movimento pendular entre atuações boas e ruins. Foi assim contra o Santos: na Arena, o Corinthians jogou suficientemente bem para vencer sem muito sofrimento; no Pacaembu, porém, só conseguiu ir aos pênaltis porque Cássio foi, de novo, excepcional. O fato de Carille reconhecer os problemas é o primeiro e necessário passo para que ele arrume as coisas. Jadson pode ser uma das soluções; também é preciso que Gustavo volte a jogar no nível em que estava antes de sua contusão, quando resolveu várias paradas para o Corinthians. A boa notícia para Carille é que Manoel e Henrique melhoraram consideravelmente, além da clara evolução de Clayson nos chutes da entrada da área e nos cruzamentos.
A maior preocupação de Carille, agora, deve ser que seu meio-campo marque mais e melhore sua armação, o que passa por errar menos passes. Muitas vezes, há favorito em um clássico. Não é o caso, no entanto, desta decisão paulista.