O que é FIDC? São Paulo explica como pretende captar R$ 37 milhões no mercado financeiro

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GloboEsporte.com – Rodrigo Capelo

Entenda, em detalhes, como funciona o fundo de investimentos que a diretoria são-paulina acaba de montar para resolver problemas urgentes de caixa. A iniciativa é nova no futebol brasileiro


Elias Barquete Albarello, diretor financeiro do São Paulo — Foto: Marcelo Prado

Elias Barquete Albarello, diretor financeiro do São Paulo — Foto: Marcelo Prado

Autorizado por seu Conselho Deliberativo em reunião recente, o São Paulo colocará no mercado financeiro um novo produto, um FIDC. A diretoria tricolor espera pegar R$ 37 milhões emprestados para organizar seu fluxo de caixa, prejudicado neste primeiro semestre por compras de jogadores e pelo novo modelo de distribuição de receitas da televisão que passou a vigorar em 2019.

Elias Barquete Albarello, diretor financeiro são-paulino, recebeu o GloboEsporte.com em sua sala no Morumbi para explicar como funciona esta modalidade de crédito. Exceto o FIDC montado pelo Palmeiras para intermediar a injeção de dinheiro de seu então presidente Paulo Nobre, esta é a primeira vez que um clube brasileiro parte para esse tipo de mecanismo na tentativa de financiar o futebol.

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O que é um FIDC?
Fundo de Investimento em Direitos Creditórios. O clube de futebol pega dinheiro emprestado com investidores, que por sua vez precisarão receber esse dinheiro de volta depois de determinado período com determinada taxa de juros. Como qualquer investimento em renda fixa.

A diferença é que o FIDC tem como garantia futuras receitas do clube. Podem ser diversas. No caso do São Paulo, foi dado como garantia o contrato de pay-per-view com a TV Globo, sendo que o valor captado representa 50% do que a diretoria espera receber com o acordo.

Quanto o São Paulo espera captar?
R$ 37 milhões. Pode ser que o clube consiga um valor inferior a esse, caso o mercado financeiro não receba bem o novo produto. Não é necessário chegar a R$ 37 milhões para que o clube comece a receber o dinheiro. Todo centavo investido vai para o caixa são-paulino.

Como o dinheiro será usado?
O São Paulo fez contratações no início desta temporada, como as de Alexandre Pato e Tchê Tchê, e precisa de caixa para pagar as primeiras parcelas relacionadas a elas. Além disso, está tentando organizar seu fluxo financeiro frente à nova distribuição do dinheiro da televisão.

Tchê Tchê é apresentado no São Paulo — Foto: Marcelo Hazan

Tchê Tchê é apresentado no São Paulo — Foto: Marcelo Hazan

Por que o FIDC do São Paulo é confiável?
A fim de dar credibilidade ao fundo, a diretoria são-paulina pediu a avaliação da Standard & Poor’s, uma das maiores agências de classificação de risco de crédito do mundo. A S&P atribuiu a nota BrA- ao fundo são-paulino. Para que se tenha referência, a avaliação é superior à atribuída pela agência à companhia aérea Gol e ao Banco Mercantil.

A escala de rating da Standard & Poor’s

EscalaRating atribuído
brAAA
brAA+
brAA, brAA-
brA+, brA, brA-São Paulo FC, Tecnisa, Oi, Banco Original, Cemig, Usiminas
brBBB+, brBBB, brBBB-Gol Linhas Aéreas, Banco Mercantil, Banco Fator, Banco Fibra
brBB+, brBB, brBB-
brB+, brB, brB-
brCCC+, brCCC, brCCC-
brCC
brC
R
SD
D

Fonte: S&P

Qual o custo do crédito por meio do FIDC?
Uma vantagem é o custo inferior ao praticado por instituições financeiras tradicionais. Hoje, se o São Paulo tomasse crédito com bancos, como é praxe no futebol, pagaria cerca de 1,1% ao mês em juros. O FIDC possui um custo de 0,85% ao mês. Ambos os números são da própria diretoria tricolor. É fundamental que um clube gaste a menor quantia possível com juros, para que sobre mais dinheiro para investir em futebol.

Qualquer investidor pode emprestar dinheiro ao São Paulo?
Não existe nenhum tipo de restrição a torcedores. Corintianos, palmeirenses e santistas podem investir no FIDC são-paulino se acreditarem que o retorno oferecido por ele é superior a outras modalidades de investimento. Haverá algum impacto emocional de torcedores do próprio clube e de rivais, claro, ainda a ser medido.

Há restrições de natureza financeira. Só podem investir no FIDC são-paulino pessoas que tiverem pelo menos R$ 10 milhões aplicados em investimentos financeiros, número que reduz consideravelmente o público em potencial. A aplicação mínima é de R$ 200 mil.

Qual é o retorno oferecido pelo FIDC ao investidor?
160% do CDI, taxa de referência utilizada por bancos para empréstimos entre eles, próxima de 1% ao mês, de acordo com o diretor são-paulino. Elias afirma que investimentos de renda fixa tradicionais costumam pagar 140% do CDI, menos do que o FIDC formulado pelo clube.

Quais os prazos de captação e pagamento?
O São Paulo terá seis meses para captar os R$ 37 milhões no mercado financeiro, a começar em maio, período no qual receberá o crédito em seu caixa conforme investidores fizerem as suas aplicações. O clube depende do sucesso do produto para receber e poder usar o dinheiro.

Uma vez concluída a captação, o clube terá um prazo de carência até que comece a devolver o dinheiro aos investidores. O pagamento começará em janeiro de 2020, sendo que a partir desta data terá quatro anos para a conclusão, a terminar em março de 2023. As parcelas vão consumir parcialmente as receitas do São Paulo com pay-per-view.

O São Paulo está antecipando o pay-per-view?
O FIDC tem mecânica muito parecida com a da antecipação de receitas, na qual o clube de futebol empresta dinheiro com um banco e entrega o contrato de transmissão como garantia. Na prática, o dirigente está recebendo antecipadamente um dinheiro que só poderia receber da emissora ou de um patrocinador em uma data futura.

A diretoria entende que o FIDC não configura como antecipação de receita. Albarello explica que, como não há garantia de que o produto financeiro terá sucesso, ou seja, não há certeza de que captará os R$ 37 milhões, não o vê como antecipação. Além disso, o diretor financeiro argumenta que não há deságio na operação, como ocorre no caso mencionado no parágrafo anterior. Apenas pagamento de juros.

@rodrigocapelo