ESPN.com
Gustavo Setti, José Edgar de Matos e Patrick Mesquita
“Lembro-me da fala do Rogério, antes de a gente sair do Morumbi para o aeroporto: ‘A gente não tem ideia do que esse jogo vai significar para nós; só dez anos depois, vocês saberão o que representa isso”
Diego Alfredo Lugano Moreno, sentado em sua poltrona no ônibus, não imaginava o que estaria por vir naquele fim de ano de 2005. Consagrado como ídolo por atuações seguras no tricampeonato da Copa Libertadores, o zagueiro uruguaio ouvia com atenção as palavras de Rogério Ceni antes do embarque para o Japão.
O título mundial veio, e só dez anos depois – como profetizou o goleiro recém-aposentado -, o uruguaio tem a dimensão da importância daquele 18 de dezembro. Em duas oportunidades, o ESPN.com.br ouviu o grande ídolo são-paulino a respeito da vitória por 1 a 0 sobre o Liverpool, em Yokohama. Uma década depois, Lugano, enfim, tem a ciência do feito daquele elenco comandado por Paulo Autuori.
“O jogador vive o momento com intensidade e não toma a dimensão. Depois que passam-se os anos, você pega as palavras do Rogério, já experiente e ganhador, e percebe o quão importante é ter uma passagem vitoriosa por um clube grande como o São Paulo”, contou Lugano, dez anos depois do feito, no mesmo Morumbi que presenciou um Ceni ‘profeta’.
Dez anos depois do título mundial de 2005, Lugano, enfim, sabe o que alcançou do outro lado do mundo. Hoje, convive com os pedidos incessantes dos torcedores pelo seu retorno. No último ato de Rogério Ceni como jogador profissional, o uruguaio ouviu mais de 60 mil vozes implorando por uma ‘volta’.
Uma década se passou, e aquela partida contra o Liverpool ainda ressurge com constância nas lembranças do experiente defensor, que capitaneou a seleção uruguaia nas Copas do Mundo de 2010 e 2014. A dimensão de tudo aquilo vivido no Japão, Diego Lugano possui apenas hoje, dez anos depois.
“Hoje tenho um pouquinho mais de noção sobre a dimensão da conquista. Todos comentamos alguma coisa daquele título, e sempre lembro daquela palavra do Rogério, porque ele tinha muito mais a visão histórica do que significaria aquele título. São coisas que marcam a nossa relação”, recordou.
Camisa 5 do clube campeão mundial em 2005, Lugano aponta para um fator diferencial. Esqueça o padrão tático implementado por Paulo Autuori, as defesas magistrais de Rogério Ceni na decisão contra os ingleses ou o gol de Mineiro, oriundo de um lapso de ‘Ronaldinho Gaúcho do Paraguai’ do folclórico centroavante Aloísio ‘Chulapa’, a ‘fome’ tornou aquele elenco único.
“O São Paulo tinha qualidades, tinha jogadores com muita qualidade, experientes, mas o mais representativo era a fome de glória, combinada com um líder acima da média que é o Rogério. Todo time vencedor tem que ter um cara acima da média”, sentenciou o zagueiro, talvez o outro grande ídolo da geração vitoriosa em solo nipônico.
Perguntar sobre o Mundial de Clubes resulta em um sorriso fácil de Lugano. Zagueiro carrancudo, de jogo físico e intimidação, o uruguaio muda ao falar do São Paulo. Fora a amizade construída – simbolizada pelo carinho no momento em que se deparou com o ‘Mineirim’ (leia-se com o sotaque carregado de um uruguaio), o Mineiro, autor do gol do título mundial, nos corredores do Morumbi antes da despedida de Ceni -, a aura vencedora daquele time o encantava.
“Naquela final do Mundial, a nível de clube, conseguiu conquistar tudo o que podia. Ganhamos o Paulista, a Libertadores e a final do Mundial, que é sempre um jogo especial. Aqueles momentos são inesquecíveis por tudo que a gente sonhou, mas ninguém percebia a magnitude do que esse título viria a ser; só o Rogério. O Rogério falava: ‘vocês não sabem o que isso pode significar para a vida de vocês ganhar esse título'”, acrescentou ao ESPN.com.br.
A ‘ficha’ de Lugano demorou dez anos para cair de vez. No entanto, dois dias depois do feito em Yokohama, o elenco capitaneado por Rogério Ceni e Paulo Autori tiveram uma ‘pequena’ noção da grandeza daquele feito.
O São Paulo parou São Paulo, como bem resumiu a Folha de S.Paulo naquele 21 de dezembro, um dia após a chegada da delegação ao Brasil. Somente no aeroporto, seis mil são-paulinos recepcionaram o time. Durante a longa carreata de dez horas, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) registrou, às 12h, um congestionamento de 95 km, bem acima dos 45 km médios para a época do ano.
No centro da cidade, mais 10 mil aguardaram o elenco na prefeitura da cidade. No Morumbi, outros 15 mil esperavam ansiosamente pela chegada da taça na carreata da vitória.
A festa pelo título mundial de 2005 se estende por uma década. Em um ano complicado, recheado de polêmicas e brigas políticas, o São Paulo tem saudade de Lugano e companhia. Mesmo passado uma década e ciente do feito, o uruguaio mais tricolor das últimas décadas ainda sofre para resumir a representatividade daquele 18 de dezembro de 2005.
Talvez os mais de 60 mil torcedores que encheram o Morumbi na despedida de Rogério – e no reencontro daqueles campeões do mundo – te respondam, Lugano. O São Paulo que parou Yokohama e a cidade homônima há uma década é quem desperta o sorriso fácil no uruguaio e, claro, nos torcedores.