Retrospectiva: Tricolor derruba figurões, aposenta ídolos e busca G4

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GazetaEsportiva.net

Tomás Rosolino

O ex-goleiro Rogério Ceni beija o escudo do São Paulo FC durante jogo festivo que marca sua despedida oficial dos gramados.  Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press
O ex-goleiro Rogério Ceni beija o escudo do São Paulo FC durante jogo festivo que marca sua despedida oficial dos gramados. Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press

O São Paulo não conquistou títulos e passou diversos vexames tanto dentro quanto fora campo. 2015, porém, será um ano marcado na memória de todos os torcedores são-paulinos por muito tempo, certamente o mais representativo da atual década. Nos bastidores, por causa da renúncia de um presidente após mais de 40 anos. Em campo, por derrotas marcantes e, principalmente, pelo fim do ciclo de três grandes ídolos da torcida: o técnico Muricy Ramalho, o goleiro Rogério Ceni e o atacante Luis Fabiano.

O primeiro a deixar órfãos os torcedores foi o treinador. Vindo de um bom 2014, quando conseguiu o vice-campeonato no Brasileiro e chegu com moral à Libertadores, ele não conseguiu fazer sua equipe jogar. Com a classificação para o mata-mata ameaçada, contrastando com a excelente campanha do Corinthians, líder do mesmo grupo, tudo isso aliado a um problema de saúde, o comandante pediu as contas para cuidar de si. Lamento dos são-paulinos, que mal sabiam o que esperava por eles dali para frente.

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Quem tinha tudo para nem atuar nesta temporada era Ceni, mas ele, animado com 2014, acabou estendendo seu vínculo para tentar ao menos uma conquista no encerramento da carreira. A ideia inicial era buscar mais uma taça da Libertadores, competição que o próprio diz ter “mais valor” que os seus outros títulos. Com a queda diante do Cruzeiro, nos pênaltis, o camisa 01 resolveu mirar a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro, os outros torneios que restaram para fechar com chave de ouro sua trajetória.

Mesmo empenhado em dar adeus ao futebol por cima, o arqueiro sofreu com lesões e não pôde ajudar a equipe. Sua última grande participação foi no embate contra o Ceará, pela Copa do Brasil, quando jogou machucado e, ainda assim, fez boa partida debaixos das traves, coroada com um gol de pênalti para abrir o caminho à virada. Dos últimos 26 jogos realizados pelo time, no entanto, ele só conseguiu atuar em 11 deles. De quebra, ainda deixou o campo no intervalo da derrota por 3 a 1 para o Santos, na Vila Belmiro, que selou a queda na Copa.

Coube a ele deliciar os torcedores ja como aposentado. Quatro dias depois do encerramento de seu contrato, reuniu diversos ídolos campeões mundiais no Morumbi para realizar sua despedida. O jogo, que reuniu quase 60 mil pessoas, foi o terceiro maior público do estádio no ano e acabou resultando em uma noite inesquecível para os presentes.

Luis Fabiano, por sua vez, manteve por um bom tempo a expectativa sobre sua continuidade. Sempre fazendo questão de dizer que gostaria de permanecer no Tricolor, reclamou da diretoria e buscou diversas vezes mostrar que ainda tinha condições de ajudar dentro de campo. Não foi possível, mas ele ao menos conseguiu dar adeus dentro de campo. Contra o Figueirense, no Morumbi, conseguiu marcar um gol e ajudou na vitória por 3 a 2. “Tinha que ser assim”, disse na ocasião.

Além da saída dos três figurões, os são-paulinos ainda puderam presenciar a renúncia de Carlos Miguel Aidar, atolados em denúncias de corrupção e totalmente isolado na presidência. Outros nomes marcantes obtiveram destaque durante a temporada, como o colombiano Juan Carlos Osorio, os atacantes Alexandre Pato e Centurión. O mais controverso, no entanto, nem sequer chegou a entrar em campo: o zagueiro Iago Maidana, caso que detonou todo o escândalo envolvendo Aidar.

Campeonato Paulista

O Estadual foi a competição que menos marcou a temporada tricolor. Após passar sem grandes dificuldades pela primeira fase, conquistando 32 de 45 pontos possíveis, com um aproveitamento de 72%, o time teve sua primeira dificuldade nas quartas de final. Encarando o Red Bull, que havia feito jogo duro com os grandes e até ganhado do Palmeiras, a equipe já não tinha Muricy Ramalho. Surpreendentemente dominante, fez 3 a 0 sobre o adversário e rumou para semifinal. Já focado na Libertadores, porém, não foi páreo para o Santos, que fez 2 a 1 na Vila e seguiu para levantar a taça contra o Palmeiras.

Libertadores

Sempre importante na cabeça do torcedor são-paulino, o torneio quase teve um fim trágico para o Tricolor. Após perder por 2 a 0 e ser dominado pelo Corinthians na estreia, a equipe goleou o Danubio e derrotou o San Lorenzo, ambos em casa. No duelo contra os argentinos fora, porém, acabou perdendo por 1 a 0 e viu a classificação ficar ameaçada. A tensão por uma possível queda e problemas de saúde acabaram fazendo com que Muricy Ramalho entregasse o cargo em comum acordo com a diretoria, que já não se mostrava muito satisfeita.

Em uma arrancada, porém, o então time do interino Milton Cruz virou no último minuto para cima do Danubio, fora de casa, e depois venceu com tranquilidade o Corinthians, em casa, assegurando sua passagem às oitavas. A classificação trouxe a torcida junto, promovendo o recorde de público do Morumbi no ano na vitória por 1 a 0 sobre o Cruzeiro. Autor do gol, Centurión parecia destinado a virar ídolo, em projeção fracassada pelo mau desempenho posterior. Para piorar, no entanto, o clube não conseguiu segurar o rival na volta, perdeu por 1 a 0 e, nos pênaltis, teve de dar adeus ao torneio.

Copa do Brasil

O mata-mata nacional começou e terminou com derrotas acachapantes para o Tricolor, mas reservou ao menos um dia de glória. No primeiro jogo das oitavas de final, o time perdeu por 2 a 1 para os reservas do Ceará, lanterna da Série B, em pleno Morumbi. Após o vexame, o técnico Juan Carlos Osorio, uma das sensações do ano, recebeu do presidente Carlos Miguel Aidar a mensagem: “Para de inventar, p…”, naquele que seria o começo do fim de sua passagem pela equipe do Morumbi.

Como era de se prever, no entanto, o Tricolor conseguiu se remontar e, em Fortaleza, fez 3 a 0, com gols de Rogério Ceni, Alexandre Pato e Thiago Mendes. Na fase seguinte, despachou o Vasco sem grandes dificuldades, fazendo 3 a 0 no jogo de ida e segurando um empate por 1 a 1 na volta. Depois, porém, veio o grande pesadelo do ano: os clássicos.

Contra o Santos, já sob a batuta de Doriva, jogou bem na primeira partida, mas acabou perdendo por 3 a 1. Na volta, foi dizimado em pouco mais de 20 minutos, quando os praianos abriram 3 a 0. No segundo tempo, Michel Bastos diminuiu, mas a reação parou por aí. Caía, naquele momento, a última chance de Ceni ser campeão. Nesse dia 27 de outubro, aliás, o goleiro disputou seu último duelo com a camisa do clube.

Campeonato Brasileiro

A campanha do Tricolor no Brasileiro foi a síntese do ano. Sob o comando de três técnicos (Milton Cruz, Osorio e Doriva), viveu seus maiores vexames no ano, mas também conseguiu seu único sucesso de 2015. O começo, porém, foi bom. Na nona rodada, já com o colombiano no banco de reservas, chegou a liderar a compétição devido à vitória por 1 a 0 sobre a Chapecoense, fora de casa. Depois, no entanto, começaram as polêmicas que, mesmo fora de camp, conseguiram acabar com o moral da equipe dentro dele.

A começar pelas saídas de jogadores. No total, oito atletas que estavam quando Osorio assumiu o clube, na sexta rodada, deixaram o elenco, sendo três deles (Dória, Souza e Denilson) titulares. A debandada irritou Osorio, que entrou em atrito com a diretoria publicamente. “Pelo que fizeram com o elenco e os desfalques, não (confio neles)”, afirmou, pouco antes de aceitar uma proposta da seleção mexicana. Antes disso, já havia visto os são-paulinos sucumirem diante do Palmeiras por 4 a 0, no Allianz Parque. No returno, o alviverde também deu um golpe duro, empatando o duelo no final, com um gol por cobertura de Robinho.

Doriva, contratado para o seu lugar, teve pouco tempo para trabalhar, mas entregou a Milton Cruz um time ainda em condições de chegar ao G4. Com bons resultados, principalmente na vitória por 3 a 2 sobre o Figueirense, regada a muita emoção e selada com um gol nos acréscimos de Thiago Mendes, o novamente interino cnseguiu guiar o time à quarta colocação, assegurando vaga na Libertadores. Justamente na rodada anterior, porém, pôde assistir a uma das piores derrotas dos 85 anos de história da agremiação: goleada por 6 a 1 contra os reservas do Corinthians, que comemoravam o hexacampeonato. Apesar de toda a bipolaridade durante as 38 rodadas, no entanto, os 53% de aproveitamento foram o bastante para dar certo horizonte ao próximo ano.

Fora de campo

Apesar de a paixão dos torcedores ser quase estritamente ligada ao desempenho no futebol, o que aconteceu fora dele foi o principal. Após a saída de Muricy e a contratação de Osorio, a diretoria começou a se ver envolta em protestos da torcida e do próprio treinador pela venda de atletas. Depois, uma contratação específica causou o maior alvoroço: Iago Maidana, zagueiro de apenas 19 anos, teve valorização súbita de R$ 1,6 milhões, sendo vendido pelo Criciúma ao Monte Cristo por R$ 800 mil e, um dia depois, contratado pelo Tricolor por R$ 2,4 milhões.

A transferência chamou a atenção de todos ao ser revelada e acabou desencadeando crises internas. Em meio a discussões por comissões obscuradas e negócios como o de Maidana, Ataíde GIl Guerreiro, então vice-presidente de futebol, deu um soco em Carlos Miguel Aidar. A briga provocou a destituição de toda a diretoria pelo antigo mandatário, mas a medida não durou nem dez dias. Sem aliados e ameaçado por uma gravação, revelada apenas em dezembro, ele renunciou ao cargo no dia 13 de outubro.

Presidente do Conselho Deliberativo, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, convocou eleições das quais consagrou-se vencedor. Doriva, que era o nome trazido por Aidar, permaneceu no cargo por apenas mais três jogos, sendo demitido por Gustavo Vieira de Oliveira, executivo de futebol recontratado pelo Tricolor. Ataíde também voltou à diretoria, sendo um dos responsáveis pela chegada daquele que, na esperança do torcedor, vai ajudar a fazer de 2016, um ano tão marcante quanto, mas por conquistas, não por brigas. O argentino Edgardo Bauza, anunciado no dia 17 de dezembro, será o treinador para a próxima temporada, e já chega com uma missão definida: passar da pré-Libertadores, que se inicia no dia 3 de fevereiro, e tentar trilhar o caminho rumo ao tetra.