São Paulo erra ao usar réguas de adversários para criticar própria torcida

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GLOBOESPORTE.COM

POR RODRIGO CAPELO

Danilo e Souza disputam a bola em São Paulo x Corinthians pelo Campeonato Paulista de 2015

Após a derrota do São Paulo para o Corinthians no Morumbi diante de 18.720 pagantes no último domingo, criticaram a torcida são-paulina o volante Souza, o técnico Muricy Ramalho e o vice-presidente de futebol Ataíde Gil Guerreiro. “Tenho certeza absoluta de que nem se a gente deixasse os portões abertos encheria o Morumbi”, do dirigente, é a declaração mais forte. Mas o São Paulo vai tão mal assim em público e renda no Campeonato Paulista de 2015? E por que a “culpa” seria do torcedor?

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Deixe de lado a partida contra o Danubio pela Libertadores, cujos 16.689 pagantes marcaram o pior público do time tricolor na competição continental desde 1992, porque esta ocasião foi marcada por troca de operadora das bilheterias, problemas com carteirinhas de sócios-torcedores e outras falhas de planejamento do clube. No Estadual, o São Paulo tem ido melhor do que em 2014 e 2013.

A média de público dos quatro primeiros jogos em 2015 – três pequenos e um clássico com o Corinthians – é de 12.618 torcedores. Em 2014, a média da primeira fase, com sete pequenos e um clássico com o Santos, foi de 9.257. Mesmo em 2013, quando na primeira fase o São Paulo enfrentou oito pequenos e teve dois clássicos com Corinthians e Palmeiras, a média de público foi inferior à de hoje, com 11.223 pagantes por jogo. Hoje melhorou pouco, mas melhorou. Outras comparações são pouco corretas.

Também tem entrado mais dinheiro em caixa. A média de receita líquida, após descontadas despesas e impostos, está em R$ 221 mil em 2015, acima dos R$ 116 mil de 2014 e dos R$ 209 mil de 2013, sempre a considerar somente a primeira fase. O São Paulo desta temporada fatura mais porque tem mais clássicos em casa e porque cobra mais caro, R$ 35,5 em média contra R$ 23,5 de 2014 e R$ 28,2 de 2013.

Souza, Muricy e Ataíde criticam a torcida porque usam as réguas de Palmeiras e Corinthians, algo injusto com o torcedor são-paulino. Palmeirenses têm médias de 26.536 torcedores e R$ 1,3 milhão de receita líquida por jogo porque se arriscaram na reforma do hoje chamado Allianz Parque. Corintianos têm médias de 27.361 pagantes e R$ 694 mil de lucro por partida porque aproveitaram a Copa do Mundo e conseguiram construir seu estádio, a Arena Corinthians. O planejamento e o riscos tomados pelos adversários na última década possibilitaram que ambos chegassem a esses números. O São Paulo tentou sediar Copa, tentou instalar cobertura, falou muito, mas executou pouco no Morumbi.

Usar a régua do adversário para medir a própria torcida não funciona. Nem em número, nem em comportamento. É notório que o são-paulino tem mais interesse em ir ao Morumbi em jogos decisivos. No Paulista de 2014, o melhor público foi registrado nas quartas de final, com 16.955 pagantes que viram a derrota nos pênaltis para a Penapolense, acima dos 16.337 que foram ao estádio para um clássico com o Santos já na décima rodada. Em 2013, o público das quartas de final contra a mesma Penapolense foi de 32.995, superior aos 20.930 do clássico contra o Corinthians na 16ª rodada. O mesmo se vê em competições nacionais, padrão endossado e incentivado na última década pelo próprio São Paulo – quando o marketing supervaloriza títulos, 6-3-3 e soberania, este é o efeito que se pode esperar.