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Leonardo M. Bianchi
Ex-treinador e o jornalista Claudio Zaidan são convidados de Cleber Machado no podcast “Hoje Sim”.
Solidão no futebol. Afinal, como é a vida de um treinador que deixa a família para rodar o país e às vezes o mundo atrás de seu trabalho? Cleber Machado recebe Muricy Ramalho, ex-técnico e hoje comentarista do Grupo Globo, e Claudio Zaidan, jornalista da Rádio Bandeirantes, para falar sobre saudades de casa no futebol no Hoje Sim, podcast produzido pelo GloboEsporte.com.
Muricy Ramalho montando treino em sua passagem pelo Flamengo — Foto: Gilvan de Souza/Flamengo
Com passagens por diversos clubes no Brasil, Muricy relembra períodos em que ficou longe da família, morando em hotéis, e onde a companhia nas noites de insônia eram exatamente os programas de rádio, como o apresentado por Claudio Zaidan, o “A caminho do Sol”, atração exibida nas madrugadas da emissora paulista na época em que treinava o Internacional.
– Eu sou um cara caseiro, gosto de ficar em casa, ficava sozinho, morava em um hotel (…) Técnico de futebol tem insônia, não dorme, fica pensando no que vai fazer amanhã, quem vai contratar, é uma loucura, não é fácil, e ai você fica naquela solidão. Eu comecei a ouvir rádio e descobri esse parceiro, não larguei mais, minha madrugada era com ele – lembra o hoje comentarista Muricy Ramalho.
Isolamento no São Paulo e “não” à seleção brasileira
Ainda sobre a solidão da profissão, Muricy fala sobre o isolamento que sofreu por parte da diretoria do São Paulo quando o time foi eliminado pelo Fluminense, no Maracanã, pelas quartas de final da Libertadores da América de 2008.
São Paulo foi eliminado da Libertadores de 2008 com gol de Washington aos 46″ do segundo tempo — Foto: André Durão
– Gol do Washington, de orelha, achou um gol… Depois desse jogo, eu cheguei no hotel e a diretoria do São Paulo e o monte de gente que eles levam, os cara me isolaram de uma forma, parece que caiu um prédio na minha cabeça. Parece que eles fizeram questão de falar, ‘aquele cara é o culpado’. Porque é assim no futebol quando o cara perde, porque ninguém quer ter a culpa. (Essa solidão) é terrível – revela Muricy.
Questionado por Claudio Zaidan sobre a recusa ao convite para ser treinador da seleção brasileira em 2010, Muricy explica os “porquês” e afirma que, caso aceitasse, ficaria sem dormir.
– Se eu aceito eu não ia dormir mais, não ia ficar satisfeito, a ficar mal. Eu ia trair o presidente do Fluminense, o Celso Barros, e uma torcida que me recebeu – diz Muricy.
Muricy em reunião com Ricardo Teixeira, então presidente da CBF — Foto: Thiago Lavinas/GloboEsporte.com
– Eles me levaram para um clube de golfe, que tinha um campeonato de golfe lá. Quando os torcedores do Fluminense me viram, perguntaram o que eu tava fazendo lá, eu falei, ‘adoro golfe’, não sabia mais o que falar, porque o cara (Ricardo Teixeira, então presidente da CBF) atrasou. E ai ele me aparece de chinelo e de bermuda, lá de longe, meu Deus do céu! Estamos falando da Copa do Mundo no Brasil. E aí fomos tomar café no restaurante e começa a conversa com garçom entrando no meio, a filha dele, e aí conversa, conversa… Não me deu confiança. E ai as perguntas que eu fiz para ele no final me deixaram irritado. Conversei com ele e no final ele falou ‘e aí, tá tudo certo, você vai ser o técnico’, e ai eu disse pra ele que tinha um problema. E ele, muito arrogante, falou, ‘qual é o problema? Aqui é Seleção Brasileira’, e o Fluminense é o problema (…) Eu dei a palavra que eu ia ficar dois anos no Fluminense, não assinei, mas dei a palavra. Ai ele me deu o telefone da fazenda dele em um guardanapo e falou pra eu resolver lá, e eu resolvi, vou ficar no Fluminense – conta sobre a conversa com Ricardo Teixeira para assumir a Seleção.