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Menon
Daniel Alves participou do programa “O Grande Círculo”, comandado por Milton Leite. Ficou, para mim, uma mensagem dúbia. Ele tem noção do seu tamanho? Sim, ele se considera o maior jogador da história do futebol (falamos de títulos), e isto é ótimo. Ele não aceita questionamentos, o que é péssimo. Afinal, os grandes sempre serão os mais cobrados. Daniel quer fazer história, repetiu algumas vezes. E quer um tapete vermelho estendido para que, digamos, possa mostrar sua genialidade em paz. Precisa de tempo.
Ele usou a expressão “tudo gera debate”, mais de uma dezena de vezes. Debate, no sentido de polêmica. Ora, não se pode perguntar qual a melhor posição para ele, dentro de campo? Lateral ou meia? No programa, foi muito bem na resposta. Quer jogar no meio para ter mais a bola. É um jogador “coletivo” e quer fazer seus companheiros jogarem cada vez melhor Nenhuma polêmica. Mas, há pouco tempo, respondeu a mesma pergunta dizendo que repórteres nunca jogaram bola e não poderiam opinar.
Gerou debate, o que ele odeia. Como não? Durante a Copa América, disse que quem critica a seleção, crítica o Brasil. Uma discussão que existe desde a Copa de 70. São representantes do Brasil ou do futebol brasileiro? Gera debate. Como não? Ao se colocar acima do debate, Daniel Alves está se colocando acima da opinião pública. O maior jogador da história não pode ser questionado. Ora, até Pelé o é. Ao dizer que é um choque cultural perceber que tudo “gera debate”, ele está criticando um certo tipo de jornalismo que, com todos os defeitos possíveis, é muito melhor do que o que se acostumou a viver na Espanha.
Lá, o que se tem é algo acrítico. Os jornalistas de Madrid (Marca), vestem a camisa do Real. Os de Barcelona (El Mundo Deportivo) jogam juntos com o Barça. E, na Copa, se unem pela Espanha. É um comportamento que não condiz com a profissão. Vão à cabine de imprensa e vestem a camisa. Literalmente. Camisa da seleção. E se comportam como tietes de jogadores. Imagino como Daniel Alves reagiria a alguma crítica caso se posicionasse sobre queimadas na Amazônia ou óleo derramado nas praias do Nordeste. Mas isso, ele não faz. Diz que não somos patriotas, mas não dá o primeiro passo. Não percebe o peso de sua opinião.
Geraria debate. E ele não quer. Ele quer deixar um legado. Fazer palestras dando sua vida como exemplo. Todo jovem pode deixar Juazeiro e ganhar o mundo. Coisa de coaching. De auto ajuda. Não gera debate. Deveria.