UOL
Arnaldo Ribeiro
Nem Rogério Ceni e nem Raí. O maior ídolo da história do São Paulo comandou os dois e chama-se Telê Santana. Nenhum outro time do país tem num treinador a sua principal figura. É o Flamengo do Zico. O Corinthians do Sócrates. O Vasco do Roberto. O Palmeiras do Ademir. O Inter do Falcão… E o São Paulo do Telê. Com o Mestre na batuta, o São Paulo conquistou o Brasil, a América, o Mundo. E, mais do que isso, tornou-se um clube popular. Foram os títulos e o simbolismo da “Era Telê” que transformaram a torcida (supostamente de elite) na terceira maior do Brasil.
Telê chegou ao São Paulo em outubro 1990 desacreditado. Com a fama de pé frio, depois de ter fracassado nas Copas de 82 e 86 e de uma passagem mal sucedida pelo Palmeiras no Campeonato Paulista daquele mesmo ano. Acertou um contrato simbólico até dezembro. E foi ficando. Ficando e ganhando. Perdeu o Brasileiro de 1990 para o Corinthians, que tinha um time inferior, mas mais competitivo. E aprendeu muito com isso – mais até do que nas derrotas nas Copas, quando o futebol arte não triunfou.
No São Paulo, Telê aprendeu a ganhar (na marra), a jogar pelo resultado e pelos títulos – sem deixar de lado suas convicções de jogo limpo. O Telê do São Paulo foi pragmático (interessante notar hoje o dilema de Fernando Diniz entre resultado e desempenho se analisarmos Telê). Para conquistar seu primeiro título, o Brasileirão de 1991, Telê inventou Ronaldão como volante ao lado de Bernardo e escalou Zé Teodoro na final para Cafu marcar Gil Baiano do Bragantino.
Desde então, não abriu mão de um time competitivo, brigador e de sede por vitórias, pelos resultados. O time campeão da Libertadores e Mundial de 1992 tinha Pintado. O de 1993, tinha Doriva e Dinho. Todos jogadores “rudes”, marcadores. Tudo o que o Brasil não teve na Copa de 1982 e o seu primeiro São Paulo não teve, em 1990. Telê se reinventou. Aprendeu a ganhar. Apagou a fama de pé frio. E entrou para a história como o Mestre. Sim. Ganhar é fundamental…
Convivi intensamente com Telê no final de sua carreira, entre 1994 e 1996 (quando sofreu a isquemia cerebral), como setorista do São Paulo. Era eu quem transcrevia as suas colunas semanais para a Folha S. Paulo. Tenho mais de sete fitas (sim, fitas!) gravadas (a espinha dorsal de um livro) com depoimentos dele. Guardo com enorme carinho. De vez em quando escuto uma delas… Nunca convivi com uma pessoa que amasse tanto futebol quanto ele – e olha que eu amo muito esse troço. Nunca vi um treinador transformar-se no maior ídolo de um clube de futebol no Brasil. Não teremos outro assim.
LEIA TAMBÉM:
- “É um maluco maravilhoso”: como Zubeldía superou drama para virar técnico intenso e apaixonado
- “Momento mais difícil do ano”: como a morte de Izquierdo marcou o 2024 do elenco do São Paulo
- São Paulo concede folga ao elenco e dará atenção especial a trio que apresentou desgaste físico
- Relembre o último duelo entre São Paulo e Bragantino no Nabizão
- André Silva é quem precisa de menos tempo para marcar pelo São Paulo no Brasileirão