Dedo quebrado, cirurgia e conselho de Ceni: o épico início de Denis no gol

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GloboEsporte.com

Alexandre Lozetti e Bruno Laurence

Sucessor do maior ídolo tricolor, goleiro operou o joelho nas férias e quebrou dedo da mão no primeiro dia de treinos do ano. Para não perder chance, usou luva especial.

Denis São Paulo (Foto: Érico Leonan/saopaulofc.net)

Denis mandou fazer uma luva especial para seguir jogando (Foto: Érico Leonan/saopaulofc.net)

A sucessão de Rogério Ceni, por si só, seria espinhosa para qualquer substituto. Afinal, trata-se do fim da carreira do maior jogador da história do São Paulo. Mas o destino tratou de dar traços épicos ao início da trajetória de Denis como goleiro titular da equipe. Imaginem a situação: depois de sete anos no banco de reservas, finalmente e literalmente como número 1, ele quebrou o dedo médio da mão direita no primeiro dia de treinos de 2016.

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Depois da atividade, Denis, em sigilo e cheio de receio de perder a grande oportunidade da vida, se consultou com um especialista e ouviu a recomendação: teria de ficar quatro semanas sem treinar. Depois de uma risada, mistura de desdém com nervosismo, respondeu ao médico:

– Então corte meu dedo fora.

O médico não cortou, e Denis não parou. Sua reação imediata foi telefonar para o fabricante de suas luvas, em Santa Catarina, e fazer um pedido inusitado: “Temos um problema”, disse o goleiro ao amigo. O problema seria produzir imediatamente, sem tempo a perder, uma luva com apenas quatro dedos na mão direita, para que Denis pudesse unir seu dedo quebrado ao do lado com uma proteção, uma imobilização para continuar treinando.

Na manhã seguinte, por incrível que pareça, a estranha luva estava em suas mãos. Depois de uma avaliação e da contundência do goleiro, o departamento médico do São Paulo ratificou sua decisão e deixou a comissão técnica tranquila para não tirá-lo do time.

Denis fez toda a pré-temporada e disputou as primeiras partidas de 2016 com uma luva normal, de cinco dedos, e outra com quatro, já que dois dedos estavam unidos. Não houve diferença entre suas atividades e as dos outros dois goleiros, Renan Ribeiro e Léo.

 Corta meu dedo fora”
Denis ao médico que sugeriu que ele parasse por quatro semanas

Seu desempenho foi positivo. Primeiramente pelo estilo de jogo deste novo São Paulo, que, se faz poucos gols, também oferece chances raras aos adversários, e também pela boa forma de Denis, que sofreu, até agora, cinco gols em oito jogos. Nenhum por sua culpa.

Se um dedo quebrado for pouco para poder chamar de dramático o início de ano do sucessor do M1TO, ele passou ainda por uma artroscopia no joelho direito. É um processo cirúrgico menos agressivo que os demais, e foi feito nas férias para que ele pudesse iniciar a temporada sem nenhum problema na região.

Para continuar jogando depois de tantos percalços, Denis teve um conselheiro especial: o próprio Rogério Ceni, ao saber do dedo quebrado, revelou ao sucessor que passou por perrengue semelhante no início de sua trajetória de 19 anos como titular do São Paulo.

No fim de 1996, Zetti deixou o clube, e Rogério, que havia passado quatro anos no banco, enfim, assumiria a vaga. Numa exibição entre paulistas e cariocas, logo no comecinho das férias, em dezembro daquele ano, uma dividida com o ex-atacante Edmundo quebrou o dedo mindinho da mão esquerda de Ceni.

Ainda mais radical do que Denis, ele não contou para ninguém, nem mesmo para os médicos do São Paulo. Cuidou-se durante as férias e se reapresentou com o dedo imobilizado.

– O dedinho eu não tinha como unir ao dedo do lado porque ele dava a sustentação para pegar a bola, para abrir a mão e fazer a defesa. Então, estendi meus treinos físicos até onde consegui, e quando comecei a treinar com bola, nas primeiras defesas, sentia muita dor – lembra Ceni.

Agora, Denis atua apenas com uma proteção e luvas normais. E até usou a faixa de capitão no último jogo, contra o Rio Claro, em que Michel Bastos não foi relacionado. Quem colocou em seu braço foi Lugano. O goleiro foi um dos quatro que deram entrevistas após a derrota para o The Strongest, aconselhado pelo uruguaio, que defendeu a ideia de que o tal “pacto do silêncio” pelos direitos de imagens atrasados só desgastaria ainda mais os jogadores perante a torcida.

Dor? Até sentiu no começo, mas ignorou. Afinal de contas, nem se compararia à dor de perder, sete anos depois, a chance de levar a camisa 1 do São Paulo de volta aos gramados, já que a 01 de Rogério Ceni está eternizada. Sucedê-lo não seria mesmo fácil…