Febre Tricolor – Descoletivamente

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Bons jogadores como João Schmidt sofrem com a ausência de jogo coletivo
Bons jogadores como João Schmidt sofrem com a ausência de jogo coletivo

A dificuldade que o São Paulo tem de chegar aos títulos é a ausência de jogo coletivo. Assim o é nas últimas sete temporadas, com breves intervalos na Copa Sulamericana de 2012 e alguns jogos da Copa Libertadores 2016. Atuar descoletivamente prejudica os bons jogadores que dependem da fluência de uma equipe, e provoca uma péssima sequência de resultados em longo prazo. Este é o árduo e difícil movimento que Ricardo Gomes terá que conduzir para poder chegar em alguma glória nos próximos tempos.

O atual São Paulo sofre a cada jogo por ausência de conjunto. Tem a melhor defesa da América Latina, formada hoje por Buffarini, Maicon, Rodrigo Caio e Mena. Os laterais funcionam como os grandes jogadores do setor que o Brasil tinha em abundância, sobretudo na década de 90. Contra o Botafogo, apesar da falha de cobertura aos 47 do segundo tempo, Buffarini cobriu o setor defensivo diversas vezes e chegou a linha de fundo para cruzar decisivamente em pelo menos cinco oportunidades, uma delas numa cabeçada de Chávez que passou a centímetros do gol. Mena já vem se destacando desde a Libertadores e tem tido um grande entrosamento, principalmente com Michel Bastos pela esquerda. Também tem um excelente senso de cobertura.

Quanto aos zagueiros, as atuações de Maicon fizeram a diretoria investir seis milhões de euros em seu futebol (muito para os padrões brasileiros, mas razoável se imaginar o que poderia dar ao time). Já Rodrigo Caio joga bem a tanto tempo que foi um dos destaques do Brasil no Ouro Olímpico e desperta interesses de equipes como Sevilla, Milan e Barcelona. Mesmo com todo o poderio desse sistema defensivo, o mesmo tem sido prejudicado por ausência de um jogo coletivo que o sobrecarrega. A bomba estourou contra o Juventude, por exemplo. Clube da Série C muito bem treinado pela dupla Antônio Carlos/Galeano, que atacou nas costas de laterais (Bruno e Carlinhos), que nem de perto chegam na qualidade de marcação dos titulares tricolores gringos.

Prejuízo técnico

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Alguns bons resultados alcançados nos últimos anos se deram por sensíveis esforços da direção do clube ao trazer jogadores de alto quilate, foram os casos de Kaká, Ganso, Luís Fabiano, Pato, Kardec, Jádson, Calleri ou com grandes jogadores revelados como Lucas Moura. Entretanto, a presença dessas estrelas escondeu problemas relacionados à coletividade da equipe. Estes jogadores decidiam pelo seu elevado talento individual e não aparentava aos olhos do torcedor os problemas de entrosamento da equipe. Em determinado momento custou caro trazer jogadores desse nível, quando o clube chegou a passar por dificuldades financeiras.

No atual momento da equipe veio a realidade. A presença de craques no ataque da equipe é limitado. Resume-se a Michel Bastos (que apesar de grande jogador, tem alguns momentos ruins) e o peruano Christian Cueva; estrelas solitárias do sistema ofensivo do São Paulo. Como não há jogo coletivo na equipe outros bons jogadores sofrem para se desenvolver, são os casos de Thiago Mendes, João Schmidt, Kelvin, Centurión, Wilder e outros. Nem mesmo uma das melhores defesas da América Latina poderá dar estabilidade ao clube se não há o entrosamento do plantel como um todo, e é nisso que o treinador terá que trabalhar arduamente.

O claro déficit técnico do atual elenco sãopaulino na parte ofensiva poderá ser superado pelo equilíbrio coletivo e retomado em médio prazo o caminho das vitórias. Atrelado a isso, o São Paulo precisa retomar a força de sua divisão de base. Hoje projeta Luiz Araújo, mas tão logo estejam recuperados poderá também contar com jovens talentosos como Lucas Fernandes e David Neres. Precisará desses nomes para crescer ofensivamente. Caminho árduo que o torcedor terá que esperar, pacientemente.

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Alexandre Velame é Jornalista e Advogado, são-paulino há quase três décadas e usuário da SPNet desde 1997. Escreve nesse espaço aos domingos.

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