Febre Tricolor – Na era da modernidade

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Presidente terá poderes restritos no novo estatuto
Presidente terá poderes restritos no novo estatuto

Dois aspectos destacaram-se na semana em que o São Paulo sepultou definitivamente suas chances de participação na Nova Libertadores: a aprovação do texto final do projeto do Novo Estatuto Social do clube – realmente necessário para o ingresso na era da modernização – e o desabafo do (por que não?) ídolo zagueiro Rodrigo Caio, sobre o descomprometimento de jogadores do elenco. Tratarei da principal mudança do estatuto social em relação ao anterior (sim, já existia um) e farei um diagnóstico do elenco em homenagem ao defensor.

Começando pelo novo estatuto, a mudança mais significativa é a criação do Conselho de Administração. As prerrogativas desse conselho aparecem no Artigo 106 do documento. Entre elas a de aprovar a celebração de contrato cujo valor esteja acima de 1500 contribuições associativas; contratos cujo prazo de duração seja maior do que o tempo de mandato da Diretoria Eleita; contratos que impliquem em pagamento de comissões, gratificações ou remunerações de qualquer natureza; e contratos celebrados por cônjuge, companheiro ou parentes de linha reta, colateral ou por afinidade até o 4º grau, de membro da diretoria.

Como se vê vão passar pelo crivo dos nove conselheiros administrativos, conforme previsão estatutária, não só os contratos de elevados valores e prazos, mas também qualquer tentativa de se distribuir comissão decorrente de venda de jogador e de favorecimento a parentes de diretores. Ficou inviável ocorrer algo do tipo, pois haveriam diversos responsáveis envolvidos.

O que motiva a criação de leis, decretos e regulamentos são justamente fatos ocorridos, principalmente no Brasil, em que temos por cultura da repressão, e não da prevenção. Essas competências do conselho estão relacionadas a suspeitas ocorridas nas gestões de ex-presidentes do Tricolor, repetidamente divulgadas na imprensa e que não cabe aqui relembrar.

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Caberá ao Conselho de Administração, ainda, aprovar a proposta orçamentária anual do clube; aprovar remunerações de conselheiros, diretoria executiva e presidente eleito (sim, este poderá ser remunerado); escolher e destituir “Auditores Independentes”. O novo texto assim traz ao status estatutário a possibilidade de contratação de auditorias imparciais para fiscalização das contas de gestão.

A criação do Conselho de Administração faz com que o presidente eleito no clube, indubitavelmente, tenha menos poder e seja obrigado a submeter as principais decisões a esses nove conselheiros.

Remanesce ao presidente as competências de representar o clube judicialmente, assinar negócios jurídicos e títulos de crédito, indicar diretores sociais e contratar membros da diretoria executiva (inclusive associados), estes após aprovação do conselho. O São Paulo deverá passar agora a funcionar administrativamente como uma multinacional, que submete suas principais decisões a um conselho executivo. O novo estatuto será agora submetido à assembleia geral de sãopaulinos.

Diagnóstico do elenco

Críticas duras e sinceras de um dos líderes do elenco
Críticas duras e sinceras de um dos líderes do elenco

O Tricolor tem excelente conjunto de jogadores recém-promovidos ao elenco profissional, mas é difícil aproveitar todos ao mesmo tempo sem que haja jogadores protagonistas para mostrar-lhes o caminho e atuarem no momento em que os meninos estão oscilando.

O caso de João Schmidt me parece exemplar: características de passe diferenciadas e pequenos ajustes para se tornar um atleta de nível Europa. Esse jogador, especificamente, precisa ajustar o seu poder de marcação e de uma breve evolução para ser um dos protagonistas da equipe, mas isso pode não ocorrer devido à impaciência e tentativas de querer cadeira cativa na equipe titular do próximo ano.

O exemplo foi só para ilustração. Temos riqueza em bons jogadores jovens como Lyanco, Auro Jr., Matheus Reis, Artur, Lucas Fernandes e Luiz Araújo. Ideal para o São Paulo seria não desperdiçar nenhum destes, pois todos são talentosos. Vejo David Neres como um caso a parte. Este pode ser um protagonista do futebol brasileiro, por já ter todo esse futebol após recém-subir. Veremos em sua segunda temporada. Alguns podem ser emprestados, mas deveriam ser mantidos.

Como jogadores chave temos hoje Buffarini, Rodrigo Caio, Maicon, Mena, Thiago Mendes e Cueva. Precisa partir dessa base para formação de um clube vencedor. Breno e Wellington Nem deverão integrá-la no próximo ano. A Temporada 2016 mostrou que atletas como Bruno, Húdson, Chávez e Rogério vão ser úteis e deveriam estar no elenco.

Apesar de serem bons jogadores e um deles craque, entendo que Wesley, Carlinhos, Michel Bastos, Róbson, Kelvin, Daniel, Ytalo e Gilberto deveriam procurar novos ares ou serem envolvidos em negociações. Poderão funcionar em um outro esquema tático e num outro clube.

A partir disso temos clara a necessidade do São Paulo buscar no mercado meia-armador, centroavante, goleiro e volante. O reforço de um jogador-chave para ser o “matador” da equipe é o de mais urgência, por exemplo Calleri. Pra trazer um meia de ligação teria que ser protagonista. Quanto as posições de volante e goleiro poderiam ser atletas para disputá-las.

Falei em fazer esse diagnóstico do elenco em homenagem a Rodrigo Caio por ser um jogador que merece respeito. Usou palavras duras e sinceras para falar tecnicamente/taticamente sobre a falta de intensidade e posicionamento dos companheiros. Falta de mentalidade vencedora, em outras palavras.

Desde 2011, apesar de ser um dos líderes da equipe, Rodrigo Caio sofreu com o São Paulo desorganizado. Um torcedor sofredor nesse período, como vários que lêm essa coluna. Estreou aos 17 anos numa derrota de 5 a 0 contra o Corinthians, e participou desse ano da goleada de 4 a 0 sobre o rival. Está na seleção brasileira principal, após ter sido chamado de “jogador de condomínio”. Merece o respeito do torcedor e é um jogador massacrado pela instabilidade da equipe, assim como foi o atacante França nos anos 90, que marcou 182 gols, mas nunca conseguiu jogar num time tão vencedor dentro do São Paulo.

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Alexandre Velame é Jornalista e Advogado, são-paulino há quase três décadas e usuário da SPNet desde 1997. Escreve nesse espaço aos domingos.

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