Febre Tricolor – Nefelibata

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Raí participou da profissionalização do São Paulo

O fato de mais um ídolo ter assumido um cargo importante no futebol do São Paulo deixou a crítica especializada ressabiada quanto à probabilidade de sucesso de quem encampa o desafio. Como é de praxe não foi levado em conta o currículo, as características, a capacidade e ética de quem aceitou a função, nem mesmo a sabedoria de quem deixou de jogar profissionalmente há 17 anos. Diferente de comentaristas que estão nas nuvens, afirmo sem medo de errar: a contratação de Raí como executivo de futebol foi precisa.

Nefelibata, aquele que vive nas nuvens, foi qualidade atribuída por Aristófanes a Sócrates. O sentido pejorativo dado aos seus pensamentos, que soavam como meras divagações acerca da vivência. Os comentários acerca da contratação de Raí pelo São Paulo ficaram exatamente nesta prateleira; hipóteses e tentativas de adivinhações, e poucas análises técnicas sobre o que o mesmo pode render como comandante máximo do futebol Tricolor.

Já que se fala muito sobre a tentativa de Raí como “coordenador de futebol” no ano de 2002, quem lembra exatamente do episódio sabe que o mesmo não quis prosseguir no cargo por faltar profissionalismo em diversos departamentos do clube. O Estatuto Social aprovado no ano passado pelo São Paulo, com a criação de cargos de executivos remunerados, fez com que Raí voltasse a participar da direção, ainda que como conselheiro administrativo.

O que isso significa na prática? Só pra pegar a ponta do iceberg, na medida que você tem remunerações e amplia a gestão profissional de qualquer empresa, evita as tentativas individuais de corrupção, propina ou suborno. São práticas coronelistas, onde as decisões são concentradas. Foi exatamente contra isso que Raí lutou durante mais de 10 anos, e faz todo sentido participar no momento em que a casa ficou “organizada”.

Publicidade

Politicamente

Durante minhas atividades profissionais acompanhei bastidores da política em algumas oportunidades. Não dentro do clube, mas em outros campos. A legitimidade que Raí tem com o torcedor do São Paulo, no cargo de diretor de futebol, o torna uma figura mais forte que a do próprio presidente. É tolo e ingênuo achar que o mesmo pode ser “fritado”, e ninguém melhor que o mesmo pra saber disso, no auge dos seus 52 anos. Conhece a política do São Paulo mais do que qualquer comentarista de TV ou Rádio.

Empreendedorismo

Raí possui uma experiência empreendedora que foi pouco ou quase nada ressaltada pelos meios de comunicação desde a sua apresentação. Ao lado do jornalista Paulo Velasco, possui uma agência de marketing e publicidade (Raí + Velasco) que gerencia não só a sua carreira, mas também a de personalidades como o arquiteto Ruy Ohtake, a jogadora de basquete Magic Paula e o ex-goleiro, treinador e comentarista Zetti.

Os contratos de publicidade de Raí extrapolam as barreiras nacionais. Mantém acordos de cerca de cinco anos com a rede de hotéis franceses Accor e com a France Television. Foi durante mais de uma década responsável pelo anúncio de feirão de imóveis da estatal Caixa Econômica Federal, e manteve acordos com marcas como Volskwagen, Veja Multiuso e Sony, as quais associou à sua imagem publicitária.

No futebol, concluiu Mestrado de Gestão Esportiva, em Londres (ING). Na área esportiva e cultural, realizou empreendimentos como cinema de rua do Cine Sala, do bairro Pinheiros, na Zona Sul de São Paulo; lançou academia inspirada no treinamento esportivo de atletas profissionais, o Raí Training, ao lado do preparador físico Carlinhos Neves, mantendo negócios com exclusividade junto à Cia Athlética até a Copa do Mundo de 2014; e escreveu livro infantil entitulado “Turma do Infinito”, do gênero de ficção, publicado em 2011 pela editora Cosac Naify. Tem ainda lucratividade com a Sala Raí, onde recebe personalidades nos shows e jogos no Estádio do Morumbi.

Empreendedorismo social

Ramo pouco desenvolvido no Brasil, Raí é um dos pioneiros na área do empreendedorismo social. No dia 10 de dezembro de 1998 inaugurou a Fundação Gol de Letra, ao lado do sócio e ex-jogador Leonardo, onde atende 2,1 mil crianças e adolescentes nas sedes localizadas em São Paulo e Rio de Janeiro. Em 2006, foi um dos fundadores do “Atletas pelo Brasil”, também focado na resolução de questões sociais de interesse público.

O conhecimento de Raí se estende ao setor de comunicação. Foi durante anos correspondente em Londres da Rádio CBN, do sistema Globo. Foi ainda contratado da emissora ESPN, vinculada à empresa Walt Disney. Também foi contratado do canal GNT para uma série de programas direto de Londres, que antecederam os Jogos Olímpicos de 2016. Através de sua empresa, Raí é contratado ainda para centenas de palestras motivacionais no segmento empresarial.

Momento pessoal

Alguns comentaristas o consideravam um “bon vivant” dado as suas diversas empreitadas no exterior. Como se pode ver, de acordo com o currículo que fora aqui demonstrado, tais viagens só poderiam ter cunho profissional ou cultural. Até mesmo uma suposta fama de mulherengo ficou para trás, pois o mesmo mantém uma relação estável com Viviane Lesher há pelo menos quatro anos. O ex-jogador é tão humilde que prefere enfrentar a Grande São Paulo sem ter sequer um veículo.

Dedicação integral

Atribuir identidade de jogo ao São Paulo é desafio de Raí

Mesmo com sucesso nos diversos ramos que empreendeu, Raí assumiu desafio como executivo de futebol do São Paulo prometendo dedicação integral. Se não tivesse absoluta certeza de que pode contribuir para o clube nesse momento, não deixaria um pouco de lado suas diversas atividades profissionais, extremamente lucrativas.

Definiu claramente as metas que pretende traçar no futebol do São Paulo. Quer implantar uma identidade de jogo à equipe, desde as categorias de base. Quem assistiu as partidas do time comandado por Telê Santana, deve imaginar como seja essa filosofia: o mínimo de toques na bola possíveis e o máximo de objetividade na busca pelo gol.

Acredita que o elenco do São Paulo é qualificado e precisa apenas de algumas peças. De fato, os times vitoriosos do Tricolor, com títulos, se deram através da manutenção de uma base de jogadores. Incorporações de bons atletas que têm sido especulados nos meios de comunicação, como Gustavo Scarpa, Marcos Rocha, Alisson, Jean e Zeca, tornariam completo esse grupo.

O cargo de diretor executivo de futebol do São Paulo acaba mais por ser político do que técnico. Terá como missões dar uma estabilidade ao vestiário, instituir uma identidade vitoriosa e, no sentido estrito, os trabalhos burocráticos como a contratação de jogadores, terá auxílio de profissionais extremamente capacitados, que já desenvolvem o setor, como o advogado Alexandre Pássaro.

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Alexandre Velame é Jornalista e Advogado, são-paulino há quase três décadas e usuário da SPNet desde 1997. Escreve nesse espaço aos domingos.

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