Febre Tricolor – Dever de criação

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Meia são-paulino aparece como destaque dos primeiros confrontos da temporada 2019

A vitória do São Paulo por 4 a 1 diante do Mirassol, na estreia do Campeonato Paulista 2019, serviu para dar confiança ao elenco e tranquilidade para o técnico André Jardine implementar o seu método de jogo. Mas o aprendizado a ser colhido da partida é justamente o que precisa ser melhorado para o São Paulo finalmente apresentar um futebol criativo e vistoso. O coração da equipe, o setor de meio-campo, aquele que diferencia as equipes campeãs das outras, não foi capaz ainda de dar uma identidade à equipe, e este passa a ser o desafio do jovem técnico nos próximos compromissos: achar a formação ideal para ampliar ou ter alguma produção.

O encaixe das peças no setor de meio-campo será preponderante para André Jardine conseguir impor o seu estilo de jogo. No primeiro tempo deste último jogo e também do amistoso contra o Eintracht Frankfurt, na Flórida Cup, foram notórias as dificuldades de criação da equipe e de compactação. Não passa apenas por uma escolha dos jogadores que devam atuar na equipe titular, mas aquele futebol que se vê praticado na base do São Paulo, de dois toques, movimentações e criatividade constante, passa distante da equipe profissional. O que se vê no jogo do futebol profissional é um sistema truncado e robótico, que a bola gira devagar para uma ultrapassagem de lateral, que acontece de tempos em tempos, e não há uma jogada criativa e inteligente pelo meio, por exemplo.

Uma parte da mudança dessa filosofia, sim, passa pela escolha dos jogadores e pelo recado que vem do campo. O que o campo fala no momento é que o meia Nenê sai na frente dos demais concorrentes. Não passava pela cabeça de nenhum são-paulino utilizá-lo no início da temporada, mas suas atuações o credenciam para começar atuando. Fez o gol e teve boa participação no segundo tempo contra o Eintracht Frankfurt e fez uma belíssima partida diante do Mirassol, ainda que seja questionada a capacidade do adversário. O destaque ficou por conta do abandono de sua individualidade, pois deu uma linda assistência para o gol de Reinaldo e deixou o jovem e ansioso Brenner na cara do gol, em outra oportunidade. Também cobrou muito bem uma falta no travessão.

As outras escolhas para o meio-campo demandarão avaliações e criatividade de Jardine. O que parece ser uma tendência, é o encaixe de Nenê junto com Hernanes. Aí aparecem três possibilidades, sendo uma mais remota. A primeira delas e que deve ocorrer, é Nenê ser colocado como ponta direita, já que se movimenta bem naquele setor, com Helinho perdendo a vaga de titular. Se o centralizado Hernanes cair naquele lado junto com ele, melhorará também a produtividade de Bruno Peres, que fez um bom segundo tempo contra o Mirassol. Nesse caso, as outras escolhas seriam Igor Liziero e mais um. Está ficando provado que Húdson e Jucilei jogando juntos dificultam a produtividade da equipe.

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A segunda opção seria a que foi adotada taticamente no primeiro tempo de hoje: um triângulo invertido. Nesse caso, Jucilei ou Húdson completariam o meio-campo formado pelos dois armadores: Hernanes e Nenê. Nesse caso, Helinho seria mantido na equipe. O terceiro plano de jogo, e menos provável, seria Hernanes atuar como segundo volante e Nenê centralizado. Essa hipótese me parece um desperdício, diante da capacidade de decisão do Profeta. O fato é que o elenco profissional precisa se espelhar na confiança da base, de fazer uma jogada diferente, de fazer um jogo coletivo e rápido para ludibriar o adversário, e abandonar definitivamente o jogo truncado.

Observações da estreia

Jogador apresenta falhas defensivas, mas disposição física e técnica para evoluir

O que funcionou principalmente na estreia do Estadual 2019 foi a escolha pelo zagueiro Anderson Martins. De fato o jogador qualifica a saída de bola do São Paulo. No segundo tempo, o volante Húdson teve que ser recuado para dar maior compactação à equipe, pois o triângulo invertido de Jardine ficou encaixotado na boa marcação oferecida pelo Mirassol.

Chamou atenção também no segundo tempo a marcação dobrada em cima do ponta Helinho. Considerou o técnico Moisés Egert um dos pontos mais perigosos da equipe tricolor, fazendo com que a defesa evitasse o trânsito do atleta. Talvez por isso o jogador tenha feito uma partida abaixo do que está acostumado.

Bruno Peres teve uma grande evolução do primeiro para o segundo tempo. Foi uma importante peça de ataque na segunda etapa, contribuindo com uma assistência para o gol de Húdson. Apesar de ter feito um gol contra e falhado no lance do pênalti contra o Frankfurt, o jogador parece muito bem fisicamente e tecnicamente, necessitando de um pouco mais de paciência do torcedor e confiança para ser peça importante.

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Alexandre Velame é Jornalista e Advogado, são-paulino há quase três décadas e usuário da SPNet desde 1997. Escreve nesse espaço aos domingos.

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