Vento Sul – Súplica São-Paulina em tempos de Cólera

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Nasci no ano de 1991, atualmente tenho 27 anos, sendo destes, praticamente 21 dedicados ao São Paulo Futebol Clube e posso afirmar que vi praticamente de tudo relacionado ao time. Acompanhei cada fase, cada vitória, cada derrota, cada conquista e cada título. Eram tempos em que ser São-Paulino era sinônimo de ser respeitado, tamanha sua grandeza e importância no cenário futebolístico brasileiro e mundial.

Confesso que não está sendo nada fácil escrever essa coluna, tricolores. Talvez vocês percebam que o texto desta semana carece de informações relevantes, dados, métrica ou linguagem mais rebuscada. Hoje, meu coração está na ponta dos dedos que digitam cada palavra, e ele está despedaçado.

Eu vi Rogério Ceni, Cicinho, Lugano, Mineiro, Raí, Kaká, França, Luis Fabiano, entre outros, dando o sangue a cada partida, jogando sempre com aquela raça digna de os fazerem ocupar o lugar que ocupam hoje: eternizados como grandes ídolos do clube. Não havia um jogo sequer que não enchesse o torcedor de orgulho do time que escolheram amar e apoiar incondicionalmente. Bons tempos estes, que os rivais não tinham nenhum argumento para fazer uma piadinha.

Mas como nem tudo são flores na vida de quem escolhe torcer pro São Paulo, também vi o clube caminhar pra situação na qual que se encontra hoje, incrédula. Não sei dizer ao certo o momento em que eu percebi a gravidade da situação, apenas senti como se houvesse levado um soco na boca do estômago após entender o que se passa.

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Como todo torcedor, tentei minimizar o momento, me empolguei com as contratações e me iludi com os excelentes resultados apresentados nos primeiros jogos, escrevi sobre, inclusive. Mas o que é a vida do são-paulino senão viver de ilusões, não é mesmo? Só que chegamos a um ponto em que não é mais possível fechar os olhos para o que vem acontecendo. A crise que se instalou na instituição superou todos os limites do aceitável e eu sinto que todos estão sentados, imóveis, vendo o barco afundar sem tomar iniciativa alguma de salvamento.

São anos me iludindo, na esperança de que algo seja feito para reverter a crise que se arrasta, interminável. O mais triste é que eu vejo que ela fortalece a cada dia, sem qualquer previsão de ir embora. Também vimos nossos rivais passarem por momentos ruins e crises severas e convalescerem! Eles superaram as crises e retomaram sua posição, voltaram a ganhar títulos, aprenderam nos momentos difíceis e tentam não cometer os mesmos erros novamente.

Parece que nós não estamos sabendo lidar com tudo que está acontecendo. Falta diálogo, falta comunicação, falta interesse, falta TUDO. A torcida, agora cansada, começa a se desentender, a se atacar, o que fortalece aqueles que são os principais responsáveis por isso tudo (já aviso que usarei uma linguagem mais agressiva a partir de agora, portanto, tirem as crianças da sala).

Crises se instalam e crescem como uma espécie de erva daninha e, se forem alimentadas, rapidamente se transformam de plantas rasteiras e inofensivas em matadoras das árvores mais altas (perdoem a analogia meio tosca). Obviamente, alguém tem que assumir a responsabilidade e agir de todas as formas possíveis para tirar o clube desta situação.

E quem seria esse alguém? Sim, A DIRETORIA! Coloco toda a responsabilidade desta crise sem fim nela. O São Paulo vive UMA CRISE INSTITUCIONAL gerada pela diretoria, que insiste em fechar os olhos para o que está acontecendo. Estamos sendo geridos por pessoas que estão mais preocupadas com a própria imagem do que com a salvação do clube. Cada decisão tomada por esta gestão gera um resultado catastrófico para o tricolor paulista.

Perdemos tudo que tínhamos! Respeito, prestígio, tradição. Hoje não amedrontamos um time sequer, nem o menor deles. Chegamos a um ponto que os rivais já nem falam mais nada por “dó”. O que mais será preciso acontecer para que alguém desta maldita diretoria faça algo digno, de pelo menos, um comentário como “aleluia, uma decisão sensata”?!

Senhores diretores, os senhores estão obstinados a acabar com o São Paulo Futebol Clube, mas saibam que nós não permitiremos. O tempo de apatia está para acabar e estejam cientes, que enquanto vocês se reúnem, bebem whiskeys caros, fumam charuto da melhor qualidade e riem da cara do torcedor e trabalhador, que labora duro o dia inteiro para receber, por mês, o que vocês gastam em um almoço no Fasano e, mesmo assim, ainda ajuda o clube de alguma forma, seja pagando um sócio torcedor, comparecendo aos jogos ou comprando uniformes em prestações à perder de vista, o descontentamento com seus deboches e incompetência só aumenta, e uma revolução está na iminência de começar.

Torcida, é hora de irmos direto ao foco desta crise! Vejo muitos são-paulinos discutindo e se desentendendo por motivos alheios ao real problema. A união é necessária para que consigamos salvar o clube. É chegado o momento de protestos, de fazer com que nossas vozes sejam ouvidas, valorizadas e respeitadas. Estamos assumindo um fardo e levando o São Paulo nas costas há ANOS! Graças ao nosso amor incondicional, livramos time de rebaixamentos, ajudamos nas receitas, lotamos estádios E NÃO TEMOS CONTRAPRESTAÇÃO DA DIRETORIA!

O São Paulo está sobrevivendo, sem perspectiva de se fortalecer como instituição! Morremos a cada dia devido aos interesses MEDÍOCRES de dirigentes e conselheiros que possuem um rei na barriga e não veem nada além do seu umbigo. Nosso presidente é egocêntrico, mimado e se comporta como um moleque riquinho da elite paulistana.

No jogo ida quarta-feira, contra o Talleres, Leco aproveitou a importância desta partida para proporcionar uma “excursão” para 25 dirigentes e conselheiros que não colaboram em nada com o clube, levando apoiadores e (pasmem) oposição para um “rolezinho” às custas do clube. Um acontecimento trágico que foi apelidado como “AeroLeco”. Há 40 meses no clube, Carlos Augusto de Barros e Silva já demonstrou que preside o São Paulo apenas para satisfazer seu ego e sua arrogância.

40 meses de uma gestão que não apresentou uma solução sequer para fortalecer a instituição e retomar o prestígio. O São Paulo virou palanque para politicagens baratas, refém de uma gestão que não sabe absolutamente nada. Não sabe administrar, não tem conhecimento de futebol, não sabem gerir, não sabem ser nada além de incompetentes!

O que me deixa mais transtornada em toda essa situação é que não há qualquer sinal de mudança. O São Paulo está pedindo SOCORRO, mas não se vê, em lugar algum, qualquer manifestação para resgatá-lo. Eu me recuso a acreditar que a acomodação seja maior que a indignação de ver aquele que já foi um dos maiores clubes do mundo morrer lentamente.

A cada dia que passa o tricolor paulista, amado clube brasileiro, morre um pouco. Enfraquecido, o São Paulo hoje tem um presidente que prefere o comodismo de uma política de conchavos do que o empenho para salvar o clube. Hoje o torcedor se depara com um jogo de politicagem digno de congresso nacional, política suja para garantir alianças e se cercar de bajuladores por meio de viagens e outras regalias. Que morte horrível do soberano.

Enquanto apenas assistirmos, calados, o sucateamento que esses pilantras estão dispostos a fazer com toda a história do clube, a crise tende a se agravar cada vez mais. Devemos estar atentos, também, para não deixarmos falsos salvadores surgirem se aproveitando do momento de desespero de milhões de torcedores, é hora de pensar e agir friamente.

Certa vez li que o número de membros da diretoria, dirigentes e conselheiros, soma o percentual ínfimo de 0,0007% da torcida do São Paulo. Estamos deixando estes 0,0007% livres para fazerem o que quiser com o clube! A má gestão afeta desde o roupeiro até o atacante da equipe e parece que isso não preocupa ninguém.

Estamos em tempos de cólera, onde pouco se pensa em solução e muito se fala para ofender. Deixo aqui a minha súplica: que saibamos reconhecer e cobrar dos verdadeiros culpados por esta crise sem precedentes, a diretoria! Eles nos desrespeitam, nos fazem de chacota e muitos torcedores ainda dizem amém para seus mandos e desmandos. Meu coração se parte em mil pedaços por presentear um dos capítulos mais tristes da história do tricolor paulista. O São Paulo não está perdendo só em campo, ele está perdendo a vida!

Ainda continuarei amando, apoiando, mas, ACIMA DE TUDO, criticando e apontando responsáveis! Espero, do fundo do meu coração, que essa diretoria “Jim Carrey” faça algo, nem que seja reconhecer sua incompetência para administrar um clube do tamanho do São Paulo e peça para sair.

Uma coisa é certa, se essa situação perdurar por muito tempo, o São Paulo, certamente, sucumbirá. E nesse momento nos arrependeremos de não termos feito algo quando tínhamos condições de fazer. Precisamos deixar as memórias boas de Raí e companhia dentro dos gramados e entendermos que o contexto agora é outro! Sempre haverá respeito, mas não podemos concordar com todas as suas ações e declarações simplesmente pelo fato de ser um ídolo, é o futuro da instituição que está em jogo, vamos acordar para a vida!

Encerro minha coluna de hoje com um último recado à diretoria e aos são-paulinos desesperados, assim como eu. Senhor presidente, tentar cultivar poder com agrados e viagens de conselheiros apoiadores e tentativas de comprar a oposição não te manterá no poder. Juvenal Juvêncio, que era infinitamente mais competente que o senhor, tentou essa tática e sucumbiu. O senhor não tem planos concretos para marketing, para o CT da Barra funda, tampouco para o Morumbi, e é isso que vai te derrubar. Se o senhor não oferece nada que possa interessar a nós, torcedores, logo perceberá que temos muito mais influência e importância para sua gestão do que pensa.

Os senhores diretores e conselheiros são ratos que veem o São Paulo como uma grande “teta” a ser sugada até secar, momento este que vocês voltarão para o porão (de onde nunca deveria ter saído) até encontrar outra teta cheia para ser sugada. Mas adivinhem só? A torcida será o veneno de rato, e vocês, certamente, morrerão asfixiados. Vocês, propositalmente, implantaram esse estado quase paralítico de apatia e cólera dentro da instituição, mas ele será quebrado, podem ter certeza. Charlatões aproveitadores não terão mais vez por aqui.

Torcedores, vamos fazer valer a nossa voz! Somos a terceira maior torcida do país, precisamos nos manter firmes para sermos notados e nos fazermos presentes no dia-a-dia do clube (pelo menos até que tudo se ajeite). O São Paulo não vive sem nós, muito menos os parasitas que o estão nos devorando vivos! Nós temos o poder para mudar essa situação. Vamos apoiar as manifestações, incentivar o diálogo e meter o terror se for preciso (sem violência, lógico).

Reitero que meu desabafo de hoje foi pobre de referências, mas rico de sentimentos. Foi meu coração tricolor que desabafou. Mantenho a esperança de que vamos conseguir nos livrar do câncer que nos adoece morbidamente a cada dia, é só nos mantermos perseverantes. Sigam firmes, tricolores! Nosso time, mais do que nunca, precisa de nós. A revolução vem de baixo.

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@morganakoenig ou [email protected]

Morgana Koenig é advogada, catarinense, praticante de artes marciais, ama escrever e é completamente apaixonada pelo São Paulo Futebol Clube.



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