Em pé, no último degrau da arquibancada leste, aflito e com o pensamento de que estava acontecendo de novo, de que mais uma vez o grito seria sufocado e toda a emoção postergada. Todo mundo, como eu lembro e relatei, lembra onde estava aos 49 minutos do primeiro tempo de São Paulo x Flamengo, 24 de setembro de 2023, final da Copa do Brasil. O petardo de fora da área da canhota de Rodrigo Nestor é o gol mais importante do Tricolor nos últimos 10 anos.
Naquele momento o grito saiu da garganta, as lágrimas começaram a descer e nem o calor de 38 graus que fazia no Morumbi naquele domingo atrapalhou toda a emoção e comemoração que veio depois. Ainda vieram 45 minutos tensos, mas aquele gol mostrou que o título ficaria ali, com a gente.
Rodrigo Nestor, anunciado como reforço do Bahia, passou os últimos 11 anos vestindo a camisa do São Paulo. Começou com desconfiança de parte da torcida, embora eu tenha sido sempre seu defensor, e só foi dar a volta por cima naquele gol. O que é injusto, porque uma semana antes foi do seu pé esquerdo que saiu o cruzamento para o gol do Calleri no Maracanã. E foi dele a assistência para o Luciano no segundo gol da final do Paulista de 2021, que acabou com o jejum de títulos do São Paulo.
Ganhou títulos na base, sempre com protagonismo. Subiu e demorou a firmar, talvez pelo seu físico mais franzino, algo não valorizado no futebol atual. Mas compensa com visão de jogo, velocidade e disposição. Além de um pé bem calibrado tanto para chutes como para passes e cruzamentos.
É com dor no coração que vejo Rodrigo Nestor saindo do São Paulo. Por mim, ficaria ali toda a carreira. Sempre haveria, para mim, lugar para ele no elenco, jogador versátil e que nunca reclamou de estar na reserva.
Mas precisamos admitir que ele merece buscar novos ares e tentar avançar na carreira. Não há lugar para ele nos onze titulares, atualmente. E, recuperado da contusão que o atrapalhou em 2024, é natural que queira jogar. Continuar a ser protagonista.
A proposta foi boa para todos os envolvidos. Sorte do Bahia, que terá Rodrigo Nestor em seu elenco. E sorte do São Paulo que o teve nos últimos anos. Tenho certeza que ele retornará. Os braços da torcida estarão abertos.
Obrigado e até breve, Rodrigo Nestor!
André Barros é jornalista e são-paulino, não necessariamente nesta ordem
