Prancheta Tricolor: O silêncio ensurdecedor de quem mais deve explicações

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Após a derrota para a Ponte Preta, no Morumbis, quem apareceu para dar satisfação à torcida nos microfones da imprensa foram Lucas, Calleri e Oscar, algumas das lideranças técnicas do elenco, e o auxiliar Maxi Cuberas, pois o técnico Zubeldia, suspenso, nem no estádio podia estar. Da diretoria nem um pio.

Juvenal Juvêncio tinha diversos defeitos, mas jamais se omitiu: na vitória e nas derrotas encarava e respondia os questionamentos da imprensa, doesse a quem doesse, e prestava contas com quem realmente importa, que é a torcida. Julio Casares está sumido há quase uma semana: sem publicar posts nas redes sociais, algo que parece ser um de seus prazeres, muito menos dar entrevistas. 

Casares não explicou as razões dos atrasos nos pagamentos das premiações e direitos de imagem a alguns jogadores – sequer confirmou ou negou a informação, que há dias circula nos meios de comunicação e nos canais em redes sociais dedicados ao clube. O presidente não deu sua versão a respeito da pré-temporada nos Estados Unidos, que acabou por adiar a estreia do São Paulo no Campeonato Paulista e cobrou a fatura com quatro jogos em nove dias. Ou justificou a transferência dos jogos contra a Inter de Limeira e o Velo Clube para Brasília, fora do Estado, com presença pífia de público e dificultando ao sócio-torcedor, que mensalmente contribui financeiramente com o clube, o acesso à partida.

Por fim, o atual presidente não dirigiu nenhuma palavra sobre o mais escandaloso dos fatos recentes, que foi suspeita de indicação de pessoas que não são torcedoras do São Paulo Futebol Clube, e sim dos rivais, para o cargo de conselheiro vitalício. Digo suspeita porque foi denunciada por perfis de torcedores do clube, sem confirmação oficial. Mas, extra-oficialmente, sabemos que há rivais sentados em cadeiras que não deveriam.

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Atrasos nos pagamentos são injustificáveis: o trabalhador, não importa quanto, tem o direito de receber o que foi acordado. A pré-temporada, é verdade, foi decidida antes da mudança do calendário, mas outros clubes cancelaram por antever que havia risco de gerar algum problema adiante. Levar o jogo para Brasília afastou os jogadores da família por mais uma semana, além do tempo que ficaram longe na Flórida, e prejudicou a rotina de treinamento. E sobre os conselheiros que torcem para rivais, ah!, isso exige uma justificativa.

Caso vença o São Bernardo, domingo, os posts devem voltar. Mas ele, ou alguém da diretoria, se propor a responder estas perguntas, eu duvido.

Não há como debater o que acontece dentro de campo diante de tantos problemas que se iniciam fora dele. A pré-temporada mal planejada, os atrasos nos salários, as decisões equivocadas de mando de campo, as vendas de joias da base a preços de banana são a causa do que acontece nas quatro linhas. As derrotas são consequência.

Zubeldía tem sua culpa, os jogadores têm sua culpa, muita gente tem sua culpa, mas tudo fica pequeno diante do que ocorre institucionalmente. Este deveria ser o foco de cobrança da torcida, não a maçante discussão de queda ou não do treinador.

O escudo da diretoria está enfraquecido por culpa dela própria, especialmente. A troca de técnico é como substituir um analgésico por outro: a causa da dor da torcida continuará lá.

André Barros é jornalista e são-paulino, não necessariamente nesta ordem