O torcedor sempre vai encontrar superlativos para o seu time, para o bem ou para o mal. “Nosso elenco está entre os melhores do Brasil”, “com esse monte de bagres não vamos a lugar nenhum”. É natural quando envolve paixão. Quando escrevo aqui, por muitas vezes, tento colocar a razão à frente: nem sempre consigo.
Quase nunca.

Mas vou tentar tirar o uniforme e vestir a camisa de comentarista isento para analisar o clássico da Arena Barueri. Ele traduz perfeitamente a situação atual: o São Paulo, um time que atualmente ocupa o segundo escalão do futebol brasileiro, entrou em campo para segurar o Palmeiras, que está na primeira prateleira. E não há problema nenhum em confirmar isso: é até melhor, para dosar as expectativas.
Diante deste contexto não dá para dizer que o resultado foi trágico. O gol, em linhas corretamente traçadas – mas que nunca são traçadas corretamente quando o atacante veste uma camisa branca com faixas vermelhas e pretas – foi marcado por um atacante que custou 25,5 milhões de euros ao Palmeiras. Hoje este valor, na realidade do São Paulo, só é imaginado no curso contrário, de venda de jogadores.
Em partidas assim o erro tem que ser próximo ao zero. E o São Paulo errou muito, na frente com as poucas chances, algumas bem claras, perdidas, e na marcação. Era difícil ficar com a bola, muitos passes errados, partidas tecnicamente abaixo de jogadores que não costumam ter jornadas ruins.
Mesmo assim, o gol só saiu nos acréscimos. É metade do copo meio cheio? Pode ser.
Não dá para exigir muito mais do que isso do atual elenco. Não é um elenco ruim, mas não está na primeira prateleira do futebol brasileiro. Apesar de discordar do presidente Julio Casares em muitas coisas, nesta tenho que concordar: ele montou um time competitivo. Das muitas entrevistas que assisti dele, jamais foi prometido título, mas competitividade. Não é um elenco dos sonhos, mas também não condiz com a atual classificação do Campeonato Brasileiro.
Essa competitividade permite sonhar com títulos nas copas, pois como destacou nosso treinador, Luis Zubeldía, na coletiva pós-clássico, são torneios em que se permite elencos menos robustos serem campeões. Mas, para isso, é preciso que um dos elos esteja junto: a torcida.
Foi a torcida que empurrou o São Paulo no título da Copa do Brasil em 2023. Foi a torcida que impediu que o time amargasse resultados piores em situações de crise, como em 2017. A torcida nos últimos anos criou uma simbiose com os jogadores e foi fundamental, em diversos momentos, para que três pontos e classificações improváveis se tornassem realidade.
Quando a torcida entender, como entendeu nos últimos anos, qual o seu papel e qual o atual tamanho das expectativas que este elenco propõe, conseguiremos ter melhor desempenho. Seremos nós, mais uma vez, os responsáveis por empurrar eles.