Enquanto esperamos por mais uma rodada do Campeonato Brasileiro, é hora de respirar história. E das boas. Hoje, o Memórias de um Gigante terá o prazer de recordar nas linhas abaixo uma verdadeira epopeia do nosso Tricolor. O jogo é considerado por muitos, inclusive pelo acima assinado, como um dos cinco maiores jogos do São Paulo Futebol Clube em todos os tempos. A virada diante do Botafogo nas semifinais do Campeonato Brasileiro de 1981 é uma das páginas mais belas do clube do Morumbi. Momento eternizado agora pela SPNet.
Golaço antológico de Everton acaba com a banca do Fogão no Morumbi
Tarde agradável de 26 de abril de 1981. Domingo. O Morumbi, inebriado pela semifinal do Campeonato Brasileiro, recebe mais de 100 mil fanáticos tricolores para a partida que reuniria São Paulo e Botafogo. A primeira partida, realizada quatro dias antes, no Maracanã, terminou 1 a 0 para o Fogão, gol de Rocha, um volante que fazia poucos gols, e que depois veio jogar no Palmeiras. Infelizmente uma doença o levou mais cedo para o andar de cima. O Tricolor, com mais pontos na fase preliminar, necessitava apenas de uma vitória simples no jogo de volta.
Em campo, o São Paulo, do treinador Carlos Alberto Silva, entrou em campo com Waldir Peres; Getúlio, Oscar, Darío Pereyra e Nelsinho; Almir, Heriberto e Renato; Paulo César; Serginho e Zé Sergio. Uma verdadeira e poética seleção, prestes a mais um baile.
O Botafogo era um time forte, assim como todos os outros três grandes clubes do Rio de Janeiro naquela época. Mas o São Paulo não tomou conhecimento do time da estrela solitária e foi para cima logo após o apito inicial do confuso árbitro Bráulio Zanotto. Porém, aos 18 minutos, Gérson abriu o placar para Botafogo, abalando o São Paulo. Aos 36, a catástrofe aumentou após o segundo gol alvinegro convertido pro Mendonça. Silêncio ensurdecedor no Morumbi. Os poucos botafoguenses já comemoravam a passagem à final.
A equipe tricolina saiu em desespero, tentando diminuir a vantagem do adversário ainda na primeira etapa. Aos 36, atendendo aos pedidos da massa, Carlos Alberto Silva coloca o jovem Everton no lugar de Heriberto. Quatro minutos depois, Serginho foi derrubado na área. Pênalti claríssimo não marcado por Bráulio Zanotto. Aí, aos 43, Serginho se joga na área e cava a penalidade. Pressionado por sua mente, o árbitro não titubeia e assinala para a marca da cal. Pênalti! Os atletas botafoguenses partem para cima de Zanotto, mas não teve jeito. Na cobrança, Serginho bate com categoria. Paulo César de um lado, a bola de outro: 1 a 2. Entusiasmado com o tento, Chulapa vai buscar a bola nas redes e aproveita para dar um chega pra lá no arqueiro do Glorioso. A O clima de beligerância estava apenas no início.
No intervalo, os atletas botafoguenses são pressionados por seguranças tricolores. Eles reclamam e um dirigente pede para que seus atletas não voltem a campo. Dizem as más línguas que até o trio de arbitragem teria tomado uns cascudos dos grandalhões seguranças do Tricolor. Na época, eu era muito menino, tinha apenas cinco anos, e acompanhava com minha família pela televisão. A TV Record transmitiu a partida ao vivo para todo o Brasil, com narração de Silvio Luiz, comentário do falecido Pedro Luiz e reportagem de Flávio Prado.
Zanotto esperou 33 minutos pela volta do Botafogo. Hoje, ele relata que deveria ter parado a partida. A pressão era grande. O São Paulo voltou aceso para etapa complementar. Empurrado pela massa, a equipe paulista perdia uma chance atrás da outra, gerando uma agonia no Morumba. Mas como aquela tarde estava desenhada para ser um dia tipicamente são-paulino, o gol de empate do Mais Querido pintou aos 21. E foi antológico: Bola lançada na área. Rocha afasta a bola da área. Ela voa sobre o campo, faz uma parábola, cai na entrada da área e vai parar nos pés de Everton que, de sem pulo, manda um balaço fantástico para o fundo das temerosas redes botafoguenses. O chute teve uma precisão cirúrgica, letal: 2 a 2. Explode o Morumbi em vermelho, branco e preto, que acabara de ver um dos gols mais lindos de toda sua história.
Os cariocas tomaram um duro golpe. O gol do nosso garoto funcionou com um verdadeiro jab no “queixo de vidro” alvinegro e já vencíamos “por pontos”. Aí, aos 42, a redenção. Tumulto na área do Botafogo, bate-rebate de novo, e a bola sobra para o valente Everton que, de biquinho, manda para o fundo do gol. O Morumbi estremeceu, parecia cair. Vaga na final garantida para enfrentar o Grêmio. Uma apoteose do futebol, marcada para sempre nos corações de todos os são-paulinos.
Ficha
São Paulo 3 x 2 Botafogo
Árbitro: Bráulio Zanotto
26 de abril de 1981
Local: Morumbi (SP)
São Paulo: Valdir Peres; Getúlio, Oscar, Dario Pereyra e Marinho Chagas; Almir, Heriberto (Éverton) e Renato; Paulo César, Serginho e Zé Sérgio;
Técnico. Carlos Alberto Silva.
Botafogo: Paulo Sérgio; Perivaldo, Gaúcho, Zé Eduardo e Gaúcho Lima; Rocha, Ademir Lobo e Mendonça (Gilmar); Ziza (Édson), Marcelo e Jérson
Técnico: Paulinho de Almeida
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