Recorde de torcida e homofobia: como foi o clássico das arquibancadas

118

Fonte: UOL – Pedro Lopes e Vagner Magalhães

De um lado, mais de 35 mil corintiano: do outro, 1.800 são-paulinos. Enquanto Corinthians e São Paulo se encaravam dentro de campo, os 38.487 torcedores no Itaquerão – recorde pós-Copa no estádio – travavam seu duelo à parte nas arquibancadas. Com a homofobia como tema constante, as duas torcidas trocaram provocações durante os 90 minutos.

Davi x Golias

Nos primeiros minutos do jogo, os são-paulinos tentaram fazer frente ao ensurdecedor barulho da massa corintiana. Dos dois lados, os tradicionais gritos de incentivo aos times. Isso, porém, durou muito pouco: o gol de Elias, logo aos 11 minutos, mudou o cenário. No pequeno espaço destinado à torcida visitante, o clima de silêncio e apreensão chegou para ficar. Roendo as unhas, os são-paulinos entoaram, sem muito entusiasmo, um ou outro canto nos raros momentos de chegada de sua equipe.

Publicidade

Homofobia

Independentemente do que acontecia dentro de campo, a homofobia foi o tema mais recorrente nas provocações entre as duas torcidas. Do lado alvinegro, gritos de “bicha” a cada toque de Rogério Ceni na bola. O “troco” são-paulino veio em gestos simulando beijos com as mãos, em referência à foto postada por Emerson Sheik em redes sociais, na qual dá um selinho na boca de um amigo.

Gozação: o freguês voltou

Com o segundo gol, marcado por Jadson, os gritos de incentivo da torcida do Corinthians viraram gozação. “O freguês voltou” foi o canto favorito; timidamente, os são-paulinos responderam gesticulando com as mãos que o jogo teria sido roubado, e, mais uma vez, relembrando os selinhos de Emerson Sheik.

Desolação

Nos 15 minutos finais, festa corintiana, e desolação total entre os são-paulinos. Enquanto os gritos de “olé” ecoavam em volume altíssimo, causado pela acústica do Itaquerão, alguns torcedores do São Paulo desistiram de assistir à partida e foram sentar atrás das arquibancadas – alguns já caminharam em direção à saída.

Os que permaneceram, abriram mão da criatividade, e trocaram cantos por insultos mais comuns. Dedos médios em riste, ofensas às mães corintianas e, como é costumeiro no futebol, ao árbitro da partida, que não marcou falta de Sheik em Bruno no lance que resultou no segundo gol alvinegro.

Promessa de violência

O apito final soou, mas a troca de provocações continuou, separada por um cordão de policiais e pela barreira de acrílico que dividia as torcidas. Dos dois lados, promessas de violência, o famoso “te pego lá fora”. Com as mãos, os torcedores ensaiavam socos e chutes, dando a entender que as alegrias e amarguras vividas no Itaquerão seriam comemoradas ou afogadas com violência. Felizmente, no estádio, não houve incidentes.

A preocupação da semana: chegada e saída de torcedores

O acesso das torcidas, mais especificamente da do São Paulo, foi o principal assunto da semana. Como o metrô encerra suas atividades às 0h30, a diretoria são-paulina alugou 60 ônibus para que os torcedores pudessem ir e voltar do Itaquerão (a liberação dos são-paulinos foi atrasada para evitar confusões).

A chegada pelo setor sul do estádio foi tranquila. Apesar de a PM afirmar que só embarcariam nos ônibus aqueles que tivessem ingressos em mãos, cerca de 100 são-paulinos chegaram até o estádio sem portar os bilhetes.

O grupo ficou perto do portão de entrada até que a PM decidisse afastá-lo, meia hora antes do início do jogo. Assim, esses torcedores tiveram de ficar próximos ao local em que os ônibus ficaram estacionados, a cerca de 500m do estádio.

Durante a partida, dois desses torcedores deixaram o local e tentaram arrumar briga com alguns corintianos, também sem ingresso. Porém, a polícia interveio e separou a torcida dos dois clubes. Ainda assim alguns corintianos chegaram a lançar um morteiro contra os são-paulinos, sem que ninguém se ferisse.

Na volta, os ônibus foram novamente escoltados até o Largo do Paissandu. Muitos torcedores haviam deixado os carros em estacionamentos da região e rapidamente deixaram o local. Outros aproveitaram os bares abertos para se reunir. Novamente, nenhum conflito foi registrado.

A saída dos torcedores corintianos de Itaquera também foi tranquila. Com o metrô funcionando até a 0h30 houve tempo suficiente para que aqueles que optaram pelo transporte coletivo pudessem deixar o jogo sem dificuldade. Alguns, com o placar de 2 a 0 a favor do Corinthians, deixaram o estádio ainda com a partida em andamento.