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Por Marcelo Hazan e Marcelo Prado São Paulo
Muricy desiste de ver camisa 10 como homem de presença na área e cogita usá-lo mais recuado; Casagrande o vê como um Pirlo, mas Caio aponta “falta de pegada”
Nos dois jogos mais importantes do São Paulo na temporada – ambos contra o Corinthians -, Paulo Henrique Ganso teve atuação de abaixo da expectativa. Após a segunda derrota para o rival alvinegro, domingo, pelo Paulistão, o técnico Muricy Ramalho se disse preocupado com o futuro do jogador.
A questão é tática. Muricy se cansou de pedir para Ganso jogar mais próximo à área adversária. E também já entendeu que o meia gosta de atuar mais recuado, armando as jogadas, quase sempre “plantado” no círculo central, como fez no Santos, no primeiro semestre de 2010 (seu melhor momento na carreira). Ou seja: um “meia clássico”, das antigas. Mas em pleno século 21.
O técnico tricolor, então, pensou em escalá-lo como “um segundo volante”. Muricy disse que pediu para Ganso fazer essa função no final do clássico do último domingo. Mas já adiantou que não pretende mantê-lo nessa posição. Motivo: Ganso “não gosta”.
– Ele tem essa dificuldade. No fim do jogo (contra o Corinthians), coloquei ele de segundo volante. Se tivesse mais pegada, era a posição ideal – disse Muricy, após a derrota para o Corinthians.
– Ele não gosta de entrar na área. Prefere o passe do que o gol, mesmo falando direto com ele. Eu paro o treino, mas no jogo… É a característica do jogador. É difícil. Ele sempre foi assim – emendou o treinador.
A frase do técnico Muricy levanta o debate sobre qual a melhor maneira de aproveitar Ganso em campo. O camisa 10 não tem conseguido fugir da marcação, principalmente em jogos contra times de marcação compacta, como faz o Corinthians.
Que Ganso sabe jogar bola, ninguém discute. A dúvida está mesmo em como escalá-lo. Os ex-jogadores Walter Casagrande e Caio Ribeiro, ambos comentaristas da TV Globo, têm opiniões um pouco divergentes. Enquanto o primeiro concorda com Muricy, enxergando a possibilidade de fazer de Ganso um volante como o italiano Pirlo, o segundo prefere vê-lo mais adiantado, logo atrás dos atacantes.
Caio Ribeiro faz uma ressalva: Ganso precisa de jogadores velozes ao seu lado para colocar os companheiros na cara do gol.
Foi dessa forma que Ganso brilhou no Santos de 2010 (veja no campinho de cima) e conseguiu chegar à Seleção com Mano Menezes, que o usou num 4-2-3-1 (veja no campinho abaixo).
– Eu gosto do Ganso atrás dos dois atacantes, desde que haja um time de velocidade, para fazer a bola girar e encontrar os jogadores na frente – diz Caio.
A questão é que o Santos de 2010 era uma equipe muito rápida, com jogadores como Wesley (na época, um jogador veloz), Neymar e Robinho. No São Paulo atual, Ganso joga com Souza, Luis Fabiano e Alan Kardec, atletas com perfil de mais força física. Isso faz diferença.
– Muita gente dentro do São Paulo entende que o Ganso precisa de jogadores velozes ao seu redor – relata o jornalista Alexandre Lozetti, do blog Bastidores FC.
Caio Ribeiro até aprova a ideia de usá-lo como segundo volante, mas apenas numa medida emergencial, durante a partida, exatamente como o técnico testou
– Acho legal a declaração do Muricy. No decorrer da partida, dependendo de como o jogo se apresenta, pode ser uma saída. Quando precisa achar espaço na defesa, pode abrir mão de um volante e colocar o Ganso por trás, enxergando o jogo de frente, pode dar certo. Desde o início, você ganharia na saída de bola, mas perderia na pegada, porque é um setor que exige mais marcação – opina Caio.
Com as diversas mudanças de escalação e sistema do São Paulo em 2015, Ganso também atuou aberto pela direita na goleada por 4 a 0 sobre o Danubio, do Uruguai. O setor foi o mesmo ocupado por ele no time de 2014, com a companhia de Kaká, que ficava aberto na esquerda (veja abaixo).
Casagrande, porém, entende que Ganso poderia, sim, ser escalado como volante, desde que tenha outros jogadores “pegadores” ao seu lado. A inspiração é Andrea Pirlo. Na seleção italiana e na Juventus (e também antes no Milan), Pirlo se posicionava entre dois volantes de marcação forte, ficando incumbido quase exclusivamente da armação.
– Acho que dá. É um jogador com ótimo passe, e a bola sairia redonda de trás. Só precisaria de um marcador ao lado dele para ajudar no meio de campo. É uma possibilidade de arrumar um jeito de o Ganso voltar a jogar como atuava no Santos. Seria um Pirlo – diz Casagrande.
– Não dá para pedir ao Ganso ser um Elias, mas sim um Pirlo. Comparando os dois, acho possível – completa o comentarista.
A decisão está nas mãos de Muricy. O time treina na tarde desta quarta-feira, no CT da Barra Funda, e encara o São Bento, quinta-feira, no Morumbi. Antes do importante jogo contra o San Lorenzo, da Argentina, na próxima quarta, pela Libertadores, o time ainda encara a Ponte Preta, em Campinas. Até lá, fica a dúvida: onde e como Ganso vai jogar?
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