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GloboEsporte.com visita bairro pobre onde o meia tricolor cresceu, na Argentina, para contar sua história. Jogador estará à disposição para o jogo desta quarta
A infância foi complicada, vivida em um bairro violento de Avellaneda, distrito de Buenos Aires. Em casa, a família sofreu com a perda prematura do pai. Mas a bola foi a companheira que, apesar das dificuldades, manteve Centurión nos eixos. Do campo localizado no bairro de Villa Luján até o CT da Barra Funda, onde ele treina diariamente com a camisa do São Paulo, muita coisa mudou no atacante que hoje está com 22 anos. Menos a personalidade que, mesmo quando mais novo, o fazia enfrentar os marcadores que abusavam da violência para tentar pará-lo.
Em recente entrevista publicada no jornal Clarín, da Argentina, Centurión disse que desde cedo se acostumou em ser alvo dos rivais.
– No meu bairro, costumo dizer que a primeira falta que sofri já foi na altura do peito. Exatamente por isso, me acostumei a dar um toque e saltar, porque sabia que vinha algo por baixo. O melhor dos jogos como esse é que você acaba fazendo a alegria de muitas pessoas – afirmou o jogador, que é uma espécie de malabarista da bola. São famosos seus vídeos postados no Youtube nos quais ele leva marcadores ao desespero com seus dribles.
O GloboEsporte.com esteve em Villa Luján na tarde desta segunda-feira e pode conferir de perto as dificuldades enfrentadas por Centurión e seus familiares. Muitas casas de tijolos, ruas esburacadas e estreitas, pessoas com fisionomia bastante arredia. Inclusive, dois adolescentes abordaram a reportagem perguntando a razão de estarem sendo feitas fotos do local. Quando tudo foi explicado, foi solicitado que deixássemos o local.
Centurión ainda não convenceu o técnico Muricy Ramalho, que constantemente cita sua irregularidade nas entrevistas coletivas. Mas tem grande prestígio com o torcedor que, nas redes sociais, pede sua escalação entre os titulares, destacando principalmente as boas partidas que fez contra o Corinthians, pelo Paulista, e San Lorenzo, pela Taça Libertadores.
Ele não se importa e segue trabalhando duro. Apesar da pouca idade, tem personalidade de sobra. Quando adolescente, já estava na base do Racing quando aceitou tirar uma foto segurando uma arma – o que lhe trouxe problemas. Até hoje, tem de lidar com questionamentos sobre a imagem polêmica.
No clube de Avellaneda, muitas pessoas falaram com enorme carinho do atacante. Mas também ressaltaram seu forte temperamento. O GloboEsporte.com visitou a antiga casa de Centurión na última segunda-feira. Circulou pelo bairro e conversou com algumas pessoas que o conheceram. É o caso de Cecilia Contarino, coordenadora e psicóloga da Casa Titta, entidade criada pelo Racing que cuida e dá suporte a jovens que ficam no clube após serem aprovados nas peneiras.
Ela conta que a timidez de Centurion não pode ser confundida com marra.
– Ele tem dificuldade com pessoas que não conhece. Aqui no Racing era querido por todos. As pessoas em São Paulo devem estar fazendo julgamento errado dele. O Centurión não é mascarado, ele só é tímido, tem muita dificuldade em se expressar – afirmou Cecilia Contarino,
Os que vêm de família mais humilde, como ele, contam com apoio psicológico quando chegam à Casa Titta. Centurión não dormia no clube, mas era figura constante durante as refeições. Os treinos eram realizados no centro que contém três campos, sala de musculação e refeitório. Estrutura que hoje atende aproximadamente 120 jogadores.
A família tem um capítulo muito importante na vida do jogador. O sonho de ser jogador de futebol só virou realidade por causa da avó, Yayá, que diariamente encarava duas viagens de ônibus só para ver o neto jogar no time do seu coração. Ela gosta tanto do clube que tem uma tatuagem do escudo do Racing nas suas costas.
Beatriz, a mãe, trabalhava quase que em tempo integral para conseguir criar a família. Ela foi faxineira de um hotel, depois virou costureira. Hoje, como o filho está bem de vida, ela ganhou uma loja de roupas femininas em Avellaneda. Em recente entrevista ao jornal Olé, o jogador deixou claro que a força que veio de dentro de casa foi fundamental para superar as dificuldades.
– Minha família é de ferro. Minha mãe nunca deixou faltar nada. Uma irmã está constituindo sua família, a outra vende trabalha vendendo gorros. Meu tio é funcionário de uma fábrica durante praticamente 24 horas. Nunca fui de reclamar de nada. Minha família sempre esteve junto nas fases boas como nas fases ruins – afirmou o jogador.
A preocupação com a família é tamanha que hoje os familiares não moram mais em Villa Luján. Como o jogador recebe no São Paulo praticamente cinco vezes mais o que ganhava no Racing, ele comprou um apartamento para a família em Avellaneda. E, quando foi procurado pela reportagem do GloboEsporte.com para falar sobre os familiares, se recusou de prontidão e mostrou até certa irritação. Ele preza pela privacidade dos familiares.
Dentro do grupo são-paulino, a adaptação está cada vez melhor. Do seu jeito mais reservado, Centurión já participa de algumas brincadeiras do grupo. Ela já foi vítima de pegadinhas de Luis Fabiano e conversa muito com Pato. Ele mora no mesmo condomínio do volante Souza e sempre consegue uma carona para ir e voltar do CT, já que ainda está se ambientando à nova cidade.
Se dentro de campo, a fase ainda não é a esperada, já que ele tem altos e baixos, fora das quatro linhas tudo vai tudo bem. Centurión é noivo da modelo Melody Parisi, com quem pretende se casar em 2016. Ela, inclusive, já foi ao estádio do Morumbi para vê-lo em ação. Os momentos de folga do casal são dedicados a receber os amigos da Argentina em casa ou a passeios em um shopping da zona sul de São Paulo.
Muricy Ramalho deverá deixar Centurión na reserva na partida contra o San Lorenzo, nesta quarta-feira, às 22h, em Buenos Aires, pela Taça Libertadores da América. Mas hoje, pode-se dizer que ele é uma espécie de 12º titular. Se precisar é só chamar. Inspirado por Maradona, cuja imagem está tatuada em sua perna esquerda, o gringo está pronto para recolocar o São Paulo nos eixos na temporada.