Muricy explica seus problemas de saúde: “Não suporto coisa errada”

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Globoesporte.com

Técnico do São Paulo diz não ter “cintura” e explica as dificuldades da vida de
treinador: “A gente não tem sábado, domingo, aniversário, feriado, nada”

Multicampeão como técnico de futebol, Muricy Ramalho fez uma observação da própria carreira. Relembrou o caminho que percorreu para ser apontado como um treinador de ponta no Brasil e fez uma ponderação ao falar dos altos salários dos técnicos. O comandante do São Paulo afirmou que “não suporta coisa errada” e que já pensou em parar “várias vezes”.

– Não suporto coisa errada, não tenho cintura. Se o cara vacilar, não quero saber não. Não tenho esse negócio de aguentar coisa errada pelo meu salário. Não aguento não, vou embora. Já fiz isso em clubes grandes e ganhando muito dinheiro. Por isso eu sofro muito, tenho esses piripaques de vez em quando. E pensei várias vezes em parar. As coisas têm que ser mais corretas – afirmou Muricy.

Em janeiro deste ano, o técnico do São Paulo precisou ser internado, por conta de uma diverticulite. No último dia 9, teve que se ausentar novamente, para um exame. Em setembro do ano passado, sofreu uma arritmia cardíaca durante a partida contra o Fluminense, pelo Campeonato Brasileiro.

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Muricy Ramalho abre o coração sobre a carreira de técnico (Foto: Reprodução SporTV)
Muricy Ramalho abre o coração sobre a carreira de técnico (Foto: Reprodução SporTV)

O técnico revelou que a carreira, embora renda bons salários, também reserva momentos nada glamorosos. Muricy contou que não pôde acompanhar o enterro do pai por estar distante, e que apesar do dinheiro ganho mensalmente, o treinador “não tem uma vida normal”.

– Não vi meu pai ser enterrado. Ele morreu e eu estava longe, não consegui chegar. São coisas que as pessoas do futebol não sabem, que o técnico passa como ser humano. Não têm ideia. Falam que o cara ganha bem. Mas para eu chegar aqui foram mais de 20 anos (…) E não se tem uma vida normal como as pessoas têm. A gente não tem sábado, não tem domingo, não tem aniversário, não tem feriado, não tem nada – disse.

Só como técnico, Muricy possui uma longa lista de títulos. Entre os principais estão quatro Campeonatos Brasileiros, três com o São Paulo (2006, 2007 e 2008) e um com o Fluminense (2010), além de uma Taça Libertadores com o Santos (2011). Mas tudo começou em 1994, quando o treinador se sagrou campeão da Copa Conmebol dirigindo o Tricolor do Morumbi. O sucesso até lhe rendeu um convite da Seleção, em 2010, mas que o treinador rejeitou.

– Lembro de ganhar uma coisa muito difícil, mas muito difícil. E aí fortalece, quer ir atrás desse gosto da vitória. Então quando tem a primeira vez, não se esquece. Quer essa sensação toda hora, é tipo uma droga que quando você ganha, se sente bem. Ralei muito para chegar aqui, poucos chegam. É uma vida boa. Mas para chegar é muito duro, a cobrança é dura demais. Você passa a ser o seu único responsável, passa a ser o único cara que erra – desabafou.

O jornal “El Economico”, do México, pesquisou os clubes que mais demitiram treinadores desde 2002 nas 10 ligas mais importantes do mundo. Entre os 10 primeiros colocados, há sete brasileiros. O líder é o Fluminense, com 41 demissões no período. A média de permanência de um técnico no futebol brasileiro é de apenas quatro meses ou 15 jogos, ainda segundo a publicação.

Jornal mexicano revela alta média de demissões de técnicos no Brasil (Foto: Reprodução SporTV)