UOL – Guilherme Palenzuela
O São Paulo de 2015 tem um dos melhores elencos do Brasil, conquista resultados positivos neste início de ano, mas não joga um futebol envolvente e regular, e se viu atormentado por duas derrotas para o rival Corinthians e por uma crise interna, na diretoria. Neste cenário, o experiente Muricy Ramalho resolveu mudar a velha preferência pela bola e pelo campo e hoje opta pela conversa: para ele, o elenco são-paulino precisa dialogar mais e entender, de fato, quais são as próprias deficiências.
O treino de terça-feira, véspera do jogo contra o San Lorenzo, foi marcado para as 9h30. A entrada da imprensa, no entanto, só foi permitida às 10h30. Normalmente, Muricy Ramalho pede que os jornalistas aguardem do lado de fora do CT da Barra Funda por, no máximo, meia hora. Desta vez, a demora foi maior porque o treinador colocou o elenco para conversar.
Muricy se reuniu com os atletas e, desta vez, pediu que eles falassem. A ideia era que cada um pudesse expor aquilo que pensa sobre o trabalho feito no dia a dia e sobre o que ainda impede o São Paulo de atingir o próprio potencial. O técnico quer que cada jogador exerça e encare cobranças com naturalidade. Quer um elenco mais autocrítico e exigente, e que consiga apontar os próprio erros antes, durante e depois dos jogos sem ferir as relações internas.
“Foi um diálogo aberto em que ele deixou o jogador se expressar, conversar. É válido isso. Faz parte. Isso é muito bom, saber que o treinador deixa e dá a possibilidade de o jogador poder falar. Acho que é sempre válido. Tanto quando o time estiver muito bem como quando o time não estiver muito bem, é sempre bom saber o que o companheiro tem a falar”, analisa o lateral Carlinhos, autor da assistência para o gol de Michel Bastos, nos últimos minutos da partida contra os argentinos.
A estratégia de Muricy Ramalho faz parte do resgate de um bom ambiente no CT da Barra Funda. Há uma semana o treinador reclamou publicamente de um racha interno na diretoria e pediu tranquilidade para trabalhar. Para Muricy, é preciso criar uma relação muito próxima entre jogadores, comissão técnica e todos que estão no departamento de futebol para que se resgate o bom ambiente de meses atrás. As conversas, para afinar pensamento e encerrar possíveis discordância, fazem parte desse processo.
“Pus eles para falar um pouco. Senão fica só o técnico lá falando”, explicou Muricy, ainda depois da vitória sobre o San Lorenzo que deixou a situação do São Paulo mais tranquila na Copa Libertadores.
A conversa entre atletas e treinador tomou parte do treino tático. Mas era esse o objetivo de Muricy. O treinador dá palestras fora do campo e analisa, com vídeos, os erros de cada jogo. Para ele, neste momento, é mais importante o diálogo.
“A gente conversou muito. Que a gente estava descansado, que a gente tinha que melhorar, que o torcedor viria para ajudar. As duas derrotas contra um rival são complicadas, não é fácil para os jogadores. Essa semana a gente estava muito positivo. A conversa entre nós foi muito boa”, disse.
Ainda em 2013, poucas semanas depois de reassumir o São Paulo para tentar salvar o time de uma crise no futebol sem precedentes, Muricy Ramalho também viu a necessidade de conversar mais com o elenco. Daquele momento até o fim da temporada houve interrupções na rotina de treinos para conversas internas.
Muricy também promoveu uma conversa com o elenco antes da partida contra o Corinthians, no Morumbi, pelo Paulistão, da qual saiu derrotado por 1 a 0. Depois daquele jogo o treinador se mostrou satisfeito com o empenho da equipe, apesar de frustrado pelo placar.