LanceNet – Bruno Grossi
Adrian Heath foi um dos espectadores mais fiéis do Campeonato Brasileiro do ano passado. O inglês de 54 anos garante ter visto a maioria das partidas do São Paulo no segundo semestre por um motivo especial: observar Kaká, que em poucos meses seria seu comandado no Orlando City, clube que está em seu primeiro ano na MLS (Major League Soccer), a principal competição de futebol dos Estados Unidos. Emprestado ao São Paulo em 2014, Kaká foi motivo de apreensão para Heath.
O técnico do Orlando City ficou assustado com o ritmo alucinante do calendário do futebol brasileiro, algo que poderia prejudicar Kaká antes do fim do empréstimo com o Tricolor e antes, também, de sua chegada em solo norte-americano. No maior estilo Muricy Ramalho, Heath condena o fato de os clubes brasileiros jogarem “quarta e sábado, quarta e sábado”, mas agradece por ter recebido seu novo reforço em boas condições físicas.
– Os jogadores do Brasil provavelmente disputam mais jogos do que qualquer outro time de todo o mundo, e é muito difícil quando você joga sábado e quarta, sábado e quarta, viajando para jogar. Ainda tem a Libertadores, o Brasileirão, a Copa do Brasil… é muito dificil a quantidade de jogos. Eu estava desejando que a temporada acabasse logo e ele (Kaká) estivesse saudável para vir a Orlando, porque só então ele teria umas semanas de descanso para se recuperar – disse Heath, ao LANCE!, em tom de brincadeira.
Nos jogos que viu do Brasileirão, Adrian Heath se impressionou de verdade com um companheiro de Kaká no São Paulo, o goleiro Rogério Ceni. O treinador de 54 anos não entende como um atleta apenas 12 anos mais novo que ele ainda possa viver tão boa fase. O comandante do Orlando City entende que a carreira de Ceni não terminará em 2015 e reforça dizendo que “é claro” que ele desejaria ver o Mito trocando o Morumbi pelos Lions.
– Eu gostaria, sim, de ter um goleiro tão bom quanto ele. É claro que eu queria! Ele nem parece um goleiro, do jeito que faz gol. É incrível que com a sua idade ainda jogue em um nível profissional incrível. É um grande profissional e tenho certeza que continuará por muitos anos – afirmou Adrian Heath, antes de desconversar sobre a possibilidade de indicar Ceni à direção do Orlando City:
– Acho que ele não viria. E já temos goleiros aqui, também. Já ficarei muito feliz se puder vê-lo jogar mais anos pelo São Paulo.
Encantado também com Paulo Henrique Ganso e Alexandre Pato, Adrian Heath acredita que Kaká marcará época no futebol dos Estados Unidos, e atribui essa premonição à postura apresentada pelo camisa 8 dentro e fora das quatro linhas.
– O Kaká é um líder dentro de campo, os outros jogadores olham para ele o respeitando pelos seus feitos, eles sabem que aquele cara já foi o melhor do mundo, que já jogou no Milan, no Real Madrid, no São Paulo, na Seleção Brasileira, uma lista de coisas importantes. Isso sem contar a vida dele fora de campo, é um cara muito bom e muito tranquilo – completa, encatando, o experiente treinador.
“Os bons jogadores saem do Brasil muito cedo”
Adrian Heath reconhece que esperava mais do nível do torneio mais importante do futebol brasileiro. Mas tem uma explicação para a falta de qualidade que viu pela TV em boa parte dos jogos acompanhados no ano passado: os bons jogadores brasileiros deixam o país muito cedo. Segundo o treinador, fã da escola brasileira de futebol técnico, é preciso segurar as promessas para voltar a apresentar um alto nível esportivo.
– O futebol brasileiro teve alto nível por muito tempo, e provavelmente produz mais jogadores que qualquer outro país do mundo. Quando eu estava assistindo agora, a gente vê que os bons jogadores estão deixando o país muito cedo, e não é fácil para o time segurar eles. Eu acho que um dos problemas é que os jogadores antigamente saíam com 23, 24 anos, e agora é com 18, 17 anos. Então isso acaba afetando o nível do futebol brasileiro.