UOL – Guilherme Palenzuela
Comissão técnica e elenco organizaram para depois do jogo, ainda no vestiário, uma pequena festa para Ataíde Gil Guerreiro, com direito a bolo de aniversário. O dirigente foi celebrado em cerimônia que serviu como agradecimento após os últimos acontecimentos no clube. Para Muricy e para os jogadores, é o vice-presidente de futebol quem protege o time das discordâncias que rodeiam o futebol na cúpula são-paulina.
A aliança entre vice-presidente de futebol e o vestiário do São Paulo não contempla o presidente Carlos Miguel Aidar, segundo quem faz parte de comissão técnica e elenco. Muricy Ramalho não encontra tal respaldo no mandatário máximo do clube, segundo tais relatos, como apontado desde a primeira derrota para o Corinthians, no Itaquerão, pela Copa Libertadores.
O maior exemplo da blindagem de Gil Guerreiro ao futebol aconteceu no último sábado, véspera do clássico contra o Corinthians no Paulistão. O episódio acabou se tornando, para Muricy e jogadores, a maior prova de fidelidade do dirigente: frente à pressão da principal torcida organizada do clube, que faria protesto naquele dia em frente ao CT da Barra Funda, e estaria próxima de comissão técnica e elenco, o vice-presidente de futebol tirou o time do CT e levou o treino para o estádio do Morumbi. No local, abriu as arquibancadas para que a organizada fizesse o protesto de longe, sem contato direto com os atletas.
No elenco do São Paulo, a atitude foi vista como um drible de Ataíde. Para quem está dentro do futebol do clube, a pressão da torcida no CT é algo que seria visto como positivo dentro da cúpula são-paulina – para Ataíde Gil Guerreiro, não. Por tudo isso, a retribuição com a festa e com o bolo no vestiário.
Neste turbilhão que já era evidente e que Muricy Ramalho trouxe à tona depois do jogo de quinta-feira está, além do racha interno na diretoria em relação ao futebol, a relação conturbada da principal torcida organizada do clube – a mesma dos protestos – com ele próprio e com Ataíde Gil Guerreiro. Membros da Torcida Tricolor Independente criticam o vice-presidente de futebol e também o treinador. Muricy, no entanto, mostrou-se em dúvida quanto à sinceridade das manifestações.
“Essa torcida que sempre grita meu nome… É estranho, né?”, falou Muricy. “São coisas que não dá para a gente se aprofundar. Porque a gente não sabe o que acontece às vezes. São coisas difíceis de se aprofundar porque a gente não sabe o que é”, completou o treinador.
Na partida desta quinta-feira, a organizada criticou Ataíde e o volante Souza, especificamente. Ambos reclamaram, após a derrota para o Corinthians, que a torcida são-paulina não compareceu ao Morumbi com o peso que devia. Os mesmos torcedores, durante o jogo, também ironizaram Muricy Ramalho e cantaram pedindo “trabalho”. Depois, pelo Twitter, a organizada afirmou que está na hora do técnico comandar a seleção brasileira e disse que fará esse pedido em todos os jogos daqui em diante.
Muricy Ramalho já afirmou que não cederá à pressão, seja da torcida organizada ou interna, de parte da diretoria. Afirmou nesta quinta-feira que só sairá do São Paulo antes do término de seu contrato se alguém derrubá-lo. O técnico está incomodado com as discordâncias internas e crê que a turbulência atrapalha muito a evolução do time, como disse com as próprias palavras. Ele sabe, pelo menos, que nesta instabilidade terá Ataíde Gil Guerreiro a seu lado.
O São Paulo enfrenta a Ponte Preta, em Campinas, pelo Paulistão, no domingo. Depois, joga pela Copa Libertadores, contra o San Lorenzo (ARG), quarta-feira, no Morumbi.