À sombra de uruguaios históricos, lateral ‘quase desbancou’ Dario Pereyra em 85

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LanceNet – Gabriel Carneiro 

Dario Pereyra, Márcio Araújo, Ruben Furtenbach, Renato Sampaio e Gilmar Rinaldi em 1985 (Foto: Reprodução/Facebook)

Nenhum outro clube entre os grandes paulistas jamais contratou tantos jogadores de uma mesma nacionalidade quanto o São Paulo contratou uruguaios ao longo de sua história. Talvez nem todos tenham alcançado as glórias de Pablo Forlán ou Pedro Rocha, dois dos maiores ídolos da história do clube, mas o exemplo de raça independe da época, dos títulos e das condições de trabalho na relação íntima entre o Tricolor e ‘La Celeste’.

– Os uruguaios têm uma disciplina, uma educação e uma cultura diferentes do Brasil. Respeita-se o trabalho e cumprem-se os horários e as determinações com muito vigor, não só dentro do esporte, mas na vida cotidiana. Isso é fundamental em qualquer empresa, e no futebol não é diferente. O torcedor gosta disso nos uruguaios e eu tive sorte de participar dessa história – lembra o ex-lateral-esquerdo Ruben Alfredo Furtenbach, uruguaio que atuou no Tricolor nos anos de 1985 e 1986, em entrevista ao LANCE!.

Lembra dele? Provavelmente não. Mas Furtenbach é um dos 18 uruguaios que já defenderam o Tricolor e um dos vários que não conseguiram entrar para a história. Na época, sua contratação gerou polêmica, porque não era permitido ter dois estrangeiros no mesmo clube, e o São Paulo já tinha Dario Pereyra. Desconfiava-se que o clube fosse querer negociar seu beque uruguaio, segundo a imprensa da época, mas na verdade Furtenbach é filho de pai brasileiro, tinha dupla cidadania e acabou sendo companheiro do – este sim – ídolo, sob o comando do técnico Cilinho.

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– Isso é engraçado. Em 1985 um empresário do Uruguai, inclusive o mesmo que levou o Dario, resolveu me dar uma chance no Brasil e me colocou em testes no São Paulo. Lembro que a polêmica na imprensa foi muito grande, achavam que eu queria derrubar o Dario, mas como isso pode ser verdade? O que ninguém sabia é que meu pai era brasileiro e eu tinha dupla nacionalidade, entao podia jogar no São Paulo como brasileiro. Aí fiquei em período de testes durante 30 dias e o Cilinho, que era o treinador, me avaliou e deixou ficar. Fiquei até o fim do ano, depois renovei mais um – afirmou o ex-lateral, que hoje trabalha como auxiliar técnico do ASA-AL.

Nesta quarta-feira, o São Paulo não terá nenhum uruguaio em campo. Nem famosos e nem anônimos. Mas os exemplos de raça, espalhados pela história contada e não contada, estão aí para servir de inspiração ao clube que sonha em avançar às oitavas de final da Libertadores. E precisa de colhões para chegar lá.

OS URUGUAIOS QUE NÃO BRILHARAM

Primórdios – O primeiro São Paulo tinha um uruguaio, Emilio Armiñana, em 1930. Depois, a tradição seguiu. Até os anos 50 jogaram Acosta, Gutiérrez, Platero, Ramon, Squarza, Urruzmendi, Vega e até um técnico: Conrado Ross.

Los professores – Juan Ramon Carrasco, técnico do Atlético-PR em 2012, jogou no São Paulo em 1990, após passagem frustrada pelo Peñarol. Já Diego Aguirre, que atualmente dirige o time do Internacional, foi atleta tricolor de junho a setembro de 1990. Chegou com moral, por indicação do técnico Pablo Forlán, mas teve vida curta e terminou o ano na Portuguesa.

Só na foto– Gustavo Matosas venceu quatro títulos em seu único ano no São Paulo, 1993, e talvez seja o mais vencedor da lista. O problema é que raramente saía do banco. Tido como “novo Dario Pereyra”, acumulou decepções em várias posições: no meio, na zaga e até no ataque. Conseguiu fazer só 19 partidas pelo clube. Completam a lista os cinco “estrelados” e também o anônimo Ruben Furtenbach.

BATE-BOLA com RUBEN FURTENBACH
Uruguaio, ex-jogador do São Paulo

Você já conhecia o São Paulo quando veio jogar em 1985?
Na época o São Paulo não era muito conhecido porque não ia jogar lá. O Santos ia muito jogar lá, a Seleção, mas o São Paulo não. Quando eu cheguei o São Paulo não tinha muito nível internacional. Depois que conquistou as duas Libertadores e se firmou é que se tornou uma febre.

Então hoje o São Paulo é uma febre para os torcedores uruguaios?
Sem dúvida. É uma identificação muito forte, de ver jovens uruguaios torcendo pelo São Paulo. Tive sorte de participar um pouco dessa história.

Mas só lembram do Pedro Rocha, do Pablo Forlán, do Dario…
Ah, são patamares diferentes, né? Eu participei de bons times, no Paulista de 85, no Brasileiro de 86, mas eles estão muito acima de mim. Sempre defendi bem a camisa do São Paulo, mas estamos falando de outro nível de jogadores, de grandes referências.

E você não quis mais voltar para o Uruguai por qual razão, depois de deixar o São Paulo em 1986?
Na verdade eu voltei em 87 e joguei a Libertadores pelo Bela Vista. Meses depois nosso eterno capitão Chicão me levou para o XV de Piracicaba e criei raízes, fiquei cinco anos. Aí depois disso realmente só joguei em clubes brasileiros. Araçatuba, Inter de Limeira, Matonense, um monte… só parei em 98, pelo Marília. E dois anos depois comecei a trabalhar em comissões técnicas como auxiliar. Em 2003 fiz parceria com o Vica e seguimos até hoje, agora no ASA-AL.