Análise: apesar de ter evitado queda, trabalho de Muricy deixou a desejar

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GloboEsporte.com – Marcelo Prado

Muricy Ramalho, Botafogo-SP X São Paulo (Foto: Rogério Moroti / Futura Press)Muricy sai com 60% de aproveitamento
(Foto: Rogério Moroti / Futura Press)

O aproveitamento foi de 60%. Em 109 partidas nocomando do São Paulo em sua terceira passagem, que terminou na última segunda-feira, Muricy Ramalho conquistou 58 vitórias, 22 empates e 29 derrotas. Mas, ao deixarmos os números de lado e analisarmos o trabalho do treinador, fica claro que Muricy Ramalho se despede do Morumbi com saldo negativo.

É bem verdade que ele salvou o time do rebaixamento no Brasileiro de 2013. Mas também acumulou eliminações para times menores, como Ponte Preta (Copa Sul-Americana 2013), Penapolense (Paulista 2014) e Bragantino (Copa do Brasil 2014). Sem títulos, o máximo que conseguiu foi o vice-campeonato brasileiro do ano passado.

Muricy voltou pra “casa”, como ele mesmo chama o Tricolor, no dia 12 de setembro de 2013. Após pouco mais de quatro anos separados, tempo em que o treinador ganhou muita coisa e o clube muito pouco, Muricy Ramalho tinha uma missão muito ingrata: evitar a queda para a Série B do Brasileiro.

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Naquele ano, a equipe havia começado a cair de rendimento com Ney Franco, quando inclusive foi eliminado da Libertadores sendo humilhada pelo Atlético-MG nas oitavas de final, e despencou de vez com Paulo Autuori.

Na ocasião, o discurso era de que o Tricolor necessitava do pulso firme do treinador que, após deixar o São Paulo, ganhou um Paulista, um Campeonato Brasileiro e uma Taça Libertadores da América. Em sua coletiva de apresentação, ele sabia da tarefa que tinha pela frente.

– Chegar nessa situação é complicado. Não dá pra falar não para o clube que me abriu as portas e me criou. Volto num momento difícil, mas acho que a gente vai sair dessa – afirmou.

Números de Muricy no SPFC:

No geral
Jogos: 473
Vitórias: 255
Empates: 123
Derrotas: 95

Nesta terceira passagem
Jogos: 109
Vitórias: 58
Empates: 22
Derrotas: 29

O primeiro objetivo foi alcançado. Com uma sequência de vitórias, o São Paulo decolou no Brasileiro, deixou a zona do perigo e fechou o torneio na nona colocação, com 50 pontos, 26 a menos que o campeão Cruzeiro.

O objetivo foi alcançado, o treinador ganhou um belo bônus financeiro por ter atingido sua meta, mas decretou: para 2014, era preciso mudar muita coisa para que o time voltasse a brigar por títulos na temporada seguinte.

O alívio foi tão grande nos lados do Morumbi que ninguém se incomodou com a eliminação na Copa Sul-Americana, com direito a uma derrota por 3 a 1 no estádio do Morumbi e empate por 1 a 1 em Mogi Mirim.

Terminado o ano, pensou-se em 2014 e o treinador alertou: para o ano que viria, seria necessária uma enorme reformulação. O que se viu no São Paulo foi um Muricy comandando com mãos de ferro dentro e fora de campo. Tudo o que ele pediu foi feito. Os atletas que não estavam “focados” foram afastados para o CT de Cotia ou emprestados.

Mas, dentro de campo, no primeiro semestre de 2014, as coisas não funcionaram. O time foi eliminado do Campeonato Paulista pelo modesto Penapolense nas quartas de final e teve um desempenho regular no primeiro turno do Brasileiro.

Com a parada por causa da Copa do Mundo, o São Paulo seguiu para os Estados Unidos para um período de duas semanas de treino. Mais do que o desempenho em campo (duas vitórias em testes inexpressivos), o que se viu foi o treinador aproveitando o tempo para unir o elenco. Toda “roupa suja” que vinha incomodando foi lavada.  Foi nessa viagem que o treinador chamou Alexandre Pato para dar uma chacoalhada no atacante – e o jogador melhorou muito de rendimento na sequência. A diretoria ainda trabalhou para reforçar o elenco e fechou as contratações de Kaká e Alan Kardec.

Saúde assusta, e técnico vai parar na UTI

Dentro de campo, após a eliminação na Copa do Brasil para o Bragantino dentro do Morumbi, a diretoria intercedeu, prestigiou o trabalho do treinador e avisou: se as coisas não mudassem, novos afastamentos aconteceriam. Dali para frente, o São Paulo mudou da água para o vinho. Só que o desgaste do dia a dia fez a saúde de Muricy dar um alerta novamente: em setembro, ele foi internado com taquicardia. Chegou a ficar na UTI e acabou voltando para casa após cinco dias.

No segundo turno, o time mostrou um poder de reação incrível, dando mostras que poderia entrar na briga pelo título com o Cruzeiro. No confronto direto, uma vitória por 2 a 0 deixou o time apenas quatro pontos atrás do rival. No fim, a regularidade dos mineiros foi premiada. Mas ninguém lamentou pelos lados do Morumbi. Afinal, para quem lutou contra o rebaixamento, fechar com o vice-campeonato um ano depois poderia ser considerado um lucro enorme.

Muricy Ramalho (Foto: site oficial / saopaulofc.net)Muricy  vai nesta terça ao CT para se despedir do elenco tricolor (Foto: site oficial / saopaulofc.net)

A expectativa para 2015 era enorme. Afinal, nenhum jogador foi negociado. As peças pedidas pelo treinador foram contratadas. Com vaga garantida na Libertadores, o time caiu num grupo difícil, junto com o atual campeão San Lorenzo e o Corinthians. No começo da temporada, novo susto: o treinador parou de novo no hospital, desta vez por causa de uma diverticulite, que já havia aparecido em 2011, quando ele estava no Santos.

Dentro de campo, tudo se transformou em uma grande frustração. Além de não mostrar um bom futebol, o time impressionou pela postura desinteressada.

Nos bastidores, o treinador começou a ser muito criticado. Algumas pessoas ligadas ao presidente Carlos Miguel Aidar chegaram a sugerir que ele fosse demitido após a derrota para o Corinthians por 2 a 0, pela Libertadores, o que não aconteceu. Os fiascos continuaram. A ponto de, após a derrota por 3 a 0 para o Palmeiras, o treinador entregar o cargo. Mas o vice de futebol e seu braço direito, Ataíde Gil Guerreiro, não aceitou e o fez mudar de ideia.

Depois do último tropeço, diante do Botafogo, não houve jeito. Muricy deixa o São Paulo a apenas 61 jogos de se tornar o técnico que mais dirigiu a equipe na história.

* Marcelo Prado, 39 anos, é setorista de São Paulo do GloboEsporte.com desde 2009

3 COMENTÁRIOS

  1. A diretoria é que o protege visando preservar a sua imagem de ídolo. Quem não lembra da maratona do Autuori e da chegada do Anta na sequência? Se o problema de saúde dele for sério, ele não volta. Outra chance é daqui uns meses ele ir pra China ou algum mercado que lhe pague bem (no Brasil é difícil algum clube grande com projeto sério cair na dele, só os trouxas do Morumbi mesmo).

  2. O Antacy é um dos técnicos mais espertos do futebol brasileiro, ele está fugindo das finais do campeonato paulista e da libertadores porque está prevendo o insucesso nas duas competições o que marcaria o seu passado no clube e se tornaria o Rei do Morre-Morre, se tivesse com possibilidade de vencer um das competições dificilmente abandonaria o clube na reta final.
    Agora vai esperar o Abel Braga ou Vanderley Luxemburgo montar um time, e ai vai fazer pressão para voltar.