Dia 16 de abril de 2014. Sem adversário, já que Kalil Rocha Abdalla, que comandava a oposição, retirou sua candidatura, Carlos Miguel Aidar, impulsionado por seu antecessor Juvenal Juvêncio, foi eleito presidente do São Paulo pela segunda vez.
Assim que chegou ao poder, ele revelou seus três grandes desejos: profissionalizar a administração do clube, aprovar a reforma do estádio do Morumbi e recolocar o time no caminho dos títulos. Um ano depois, nenhuma das metas foi atingida totalmente.
Em sua primeira temporada, Aidar ficou marcado pelas inúmeras polêmicas, dentro e fora do São Paulo. O até então aliado Juvenal Juvêncio, responsável direto por sua eleição, virou inimigo político. O time foi vice-campeão brasileiro no ano passado, mas acumulou eliminações em torneios mata-mata para adversários de menor expressão, como Penapolense (Paulistão) eBragantino (Copa do Brasil).
Fora do Morumbi, Aidar comprou briga com Paulo Nobre no Palmeiras, falou mal do estádio do Corinthians e ainda provocou o Santos, adversário do próximo domingo, pela semifinal do Campeonato Paulista.
O GloboEsporte.com mostra abaixo tudo de importante que aconteceu no primeiro ano da administração Carlos Miguel Aidar no Tricolor. Por enquanto, mais polêmicas do que conquistas… confira:
OS DENTES DE KAKÁ…
Menos de uma semana após ser eleito presidente, o dirigente se manifestou publicamente para elogiar Kaká. Na época,chamou a atenção os termos usados pelo dirigente para enaltecer as virtudes do meio-campista.
– Gostaria muito de ter Kaká de volta. Tem a cara do São Paulo, alfabetizado, tem todos os dentes na boca, fala bem, joga bem, faz gols, mas não tem como competir com os árabes e os chineses. Se der pra trazer, esse é um jogador que cai feito uma luva no São Paulo – citou.
Após ser acusado de preconceituoso nas redes sociais, o dirigente se desculpou, alegando que estava brincando.
ITAQUERA, “OUTRO MUNDO”
Pouco antes da estreia do Brasil na Copa do Mundo, Aidar bateu duro na Arena Corinthians, estádio escolhido para representar a capital paulista na competição. Vale lembrar que, ainda na gestão Juvenal Juvêncio, o Morumbi, que era o estádio escolhido, acabou excluído do torneio.
– O Itaquerão não vai ter show, aquilo lá é outro mundo, outro país, não dá para chegar lá. Lá não vai funcionar – disse o mandatário, que foi duramente criticado por Andres Sanchez, ex-presidente do Timão e um dos principais responsáveis pela construção do estádio alvinegro.
Pouco depois da polêmica, ele foi conhecer o local e recuou nas críticas.
POLÊMICA “EM CASA”
Aidar não irritou somente os adversários. Para pressionar a oposição a votar o projeto da construção da cobertura do estádio do Morumbi, o dirigente denegriu a imagem da casa são-paulina, chamando-a de “ultrapassada” e dizendo que o clube havia ficado para trás após Corinthians e Palmeiras terem lançado suas arenas.
– O Allianz Parque e a Arena Corinthians são estádios muito mais modernos do que o Morumbi, muito melhores. O Morumbi foi inaugurado há 50 anos e hoje é totalmente ultrapassado e anacrônico. É bonito, mas apenas isso. Servirá apenas para mandarmos nossos jogos, nada mais. Em breve, ele será como o velho Canindé que deixamos para vir fazer o Morumbi – afirmou.
BRIGA COM PAULO NOBRE
Depois de provocar o Corinthians, Aidar se desentendeu com o Palmeiras. Tudo por causa da contratação de Alan Kardec, que jogava no alviverde.
Na ocasião, o presidente do clube, Paulo Nobre, não entrou em acordo com o jogador para a renovação do vínculo.
O São Paulo entrou na parada, comprou os direitos junto ao Benfica e acertou salários com o jogador. Acabou acusado de ser antiético. A resposta veio durante uma entrevista coletiva no Morumbi.
– O choro é livre. A manifestação do presidente Paulo Nobre chega a ser patética, demonstra infelizmente o atual tamanho da Sociedade Esportiva Palmeiras – disse. Até hoje, os dois presidentes não se falam.
“DINHEIRO DA MÁFIA”
Na reta final do Campeonato Brasileiro do ano passado, Paulo Henrique Ganso, que cresceu muito com a chegada de Kaká, voltou a ser especulado como possível alvo de clubes europeus, entre eles, o Napoli. Para evitar qualquer especulação, Aidar se antecipou e negou qualquer negociação com o clube italiano. Mas a maneira como o dirigente se pronunciou foi um desastre. O presidente insinuou que o clube tem ligação com a Camorra, organização criminosa que atua na cidade de Nápoles, e gerou revolta nos italianos, que ameaçaram processá-lo.
FIM DAS REGALIAS
Aidar contratou uma empresa para fazer uma auditoria nas contas e um estudo do modelo de administração que era usado no clube. Ficou negativamente impressionado com o que descobriu. Uma dívida muito maior do que a esperada fez o dirigente dispensar funcionários em todos os setores. Cortou despesas, acabou com a regalia de dirigentes, que tinham motorista à disposição e ordenou que conselheiros tivessem de pagar do próprio bolso para viajar com a equipe. Com isso, começou a bater de frente com seu antecessor, Juvenal Juvêncio.
DEMISSÃO DE JUVENAL
Quando foi eleito, Aidar nomeou o ex-presidente Juvenal Juvêncio como diretor das categorias de base e homem forte do CT Laudo Natel, em Cotia. Mas logo começaram as desavenças entre os dois, principalmente porque o presidente quis mudar o modo de administração. Segundo Aidar, Cotia funcionava como uma máfia, era um cabide de emprego para muitas pessoas e tinha jogadores em excesso. Para conseguir fazer o que queria, ele demitiu Juvenal, fez uma limpa no departamento amador, o que deu início a uma guerra política contra seu ex-aliado.
COMISSÃO PARA NAMORADA
Em reunião do Conselho Deliberativo, a oposição do São Paulo acusou a namorada do dirigente, Cinira Maturana, de ter direito a receber comissão de 20% caso o clube fechasse acordo de fornecimento de material esportivo com uma empresa alemã. O presidente do São Paulo marcou uma entrevista coletiva no Morumbi e, voltou a bater em Juvenal, declarando guerra de vez.
– Estou cansado de ouvir besteiras de pessoas que puxam o saco do ex-presidente. É a última vez que falo desse senhor. Quem quiser continuar no clube, será nessa linha. Quem não quiser, pode sair também – afirmou, gritando.
Logo depois, Cinira Maturana foi desautorizada a procurar novos parceiros para o clube.
COBRANÇA A MURICY
(Foto: Anderson Rodrigues / Estadão Conteúdo)
Aidar nunca foi um entusiasta do trabalho de Muricy Ramalho. No começo desse ano, ao participar de um programa na rádio Jovem Pan, ele colocou o treinador numa fogueira ao cobrá-lo publicamentee dizer que o São Paulo tinha a obrigação de conquistar um título no ano.
– Nós vamos ser campeões com ele. Está devendo essa para gente. Nós montamos o time que ele quis. Ainda quer um jogadorzinho, mas com o que tem agora ele precisa ganhar. Quem vai cobrar publicamente dele sou eu. Não é mais ele que cobra da diretoria – afirmou.
Muricy rebateu em coletiva e o clima foi apaziguado entre os dois pelo vice de futebol, Ataíde GIl Guerreiro.
SALÁRIOS ATRASADOS
Em dois momentos do primeiro ano de Aidar como presidente, houve atraso no pagamento dos direitos de imagem e das premiações dos jogadores. Muito por causa da delicada situação financeira que, segundo o atual presidente, é fruto de empréstimos feitos por Juvenal Juvêncio. Para se ter uma ideia, o São Paulo paga R$ 8 milhões por mês de juros, fechou o balanço do ano passado com déficit de R$ 94 milhões e tem a previsão de terminar 2015 com um saldo negativo de R$ 132 milhões. A falta de um patrocinador também contribui para a situação difícil.
CONTRATAÇÕES
Desde que assumiu o comando do São Paulo, Carlos Miguel Aidar disse que gostaria de deixar seu nome marcado na história do clube. No ano passado, foi às compras Além de investir R$ 14 milhões para tirar Alan Kardec do Palmeiras, ele contratou Kaká e Michel Bastos de graça. O primeiro voltou ao clube e foi o grande responsável pelo crescimento do Tricolor no segundo semestre, quando o time chegou a sonhar com o título brasileiro.
NOVO PARCEIRO
Há muito tempo, o São Paulo estava descontente com a Penalty, que fornecia o material esportivo desde 2012. O Tricolor costurou um acordo com a Under Armour, empresa americana que chegou ao país no início do ano. Por cinco anos de contrato, o clube receberá R$ 135 milhões. Dos R$ 27 milhões anuais, R$ 15 milhões são pagos em dinheiro e R$ 12 milhões em material. O acordo ainda prevê o pagamento de bônus em caso de títulos. Nos primeiros três anos, há a exclusividade da Under Armour com o São Paulo no Brasil.
Se ele cumprir a palavra e não renovar com o Pipoca e com o Mum-ra, será o maior presidente da história do São PAulo