Em 1984, presidentes rivais promoveram clássico San-São em igreja

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Gazeta Esportiva – Tossiro Neto

Não eliminatório como no domingo, mas também importante, o clássico de 11 de novembro de 1984 entre Santos e São Paulo uniu seus dois presidentes de forma curiosa. A pedido do jornal A Gazeta Esportiva, Milton Teixeira e Carlos Miguel Aidar (então em seu primeiro mandato no Morumbi) promoveram “o jogo da fé” rezando juntos em uma igreja da capital paulista.

“Uma enorme paz invade a gente. Pena que as pessoas só busquem alguns momentos de reflexão, orando, quando estão muito necessitadas. Não estamos aqui para pedir auxílio ou uma vitória. Seria no mínimo um desrespeito”, disse Aidar. Apesar do acatamento, o são-paulino, que estudou no paulistano e católico Colégio Santa Cruz, não deixou de brincar. “O São Paulo é um santo querido, respeitado e o seu time vai ganhar esse jogo”, afirmou, sorrindo, de acordo com a reportagem.

O santista Milton Teixeira também demonstrou fé – e bom humor – naquela ocasião. “Vivemos por desejo do Senhor. Estamos aqui nesta igreja porque ele permitiu. Oramos e pedimos paz e felicidade. Egoísmo? Não consideramos assim. Muito menos brincar com coisa séria. Amamos a família, os amigos, o Santos. E é lógico que queremos o sucesso de todos. Aliás, o Santos representa todos os santos, consegue reunir em torno de si todos os devotos. Mesmo nosso time derrotando o São Paulo, não será nenhum pecado e ele nem ficará zangado. Afinal, ganhará a grande maioria”, falou.

Divertimentos à parte, o duelo no Morumbi era considerado chave para ambas as equipes. O São Paulo, então treinado por Cilinho, ficaria mais próximo do primeiro lugar do Campeonato Paulista em caso de vitória. Para o Santos, que tinha Castilho no comando técnico, vencer significaria dificilmente ser alcançado pelos demais concorrentes na liderança. No fim, um empate por 0 a 0 acabou sendo “um ótimo negócio” para o time litorâneo, como definiu a publicação no dia seguinte, já que ele seguiria na ponta até a confirmação do título.

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Reprodução/A Gazeta Esportiva

Carlos Miguel Aidar e Milton Teixeira oraram juntos em igreja da capital paulista antes de São Paulo x Santos

Trinta anos mais tarde, os dois têm novo confronto importante pela competição estadual, atualmente disputado em outro modelo, com jogos de mata-mata na fase final. Às 18h30 (de Brasília) de domingo, na Vila Belmiro, Santos e São Paulo se enfrentam por uma vaga direta na decisão – a outra semifinal opõe Corinthians e Palmeiras, em Itaquera. Como em 1984, os dois presidentes foram os principais responsáveis por promover o San-São. Mas desta vez com provocações humoradas.Na terça-feira, Aidar (que voltou à presidência do São Paulo no ano passado) brincou com o apelido do adversário e cantou vitória ao sugerir o que entendia como programa ideal para o torcedor no fim de semana. “Desce a Santos, come uma peixada às duas horas da tarde e outra peixada às seis e meia da tarde”, riu. “Com o maior respeito ao meu amigo Modesto Roma (Júnior, presidente do Santos)”.

Roma Júnior (cujo pai curiosamente era vice-presidente de Milton Teixeira na época em que os presidentes foram juntos à igreja), não deixou por menos. “A gente brinca, mas defendemos sempre a vida selvagem”, comentou, em insinuação ao apelido de “bambi”, o qual foi atribuído aos são-paulinos por seus rivais em referência ao filhote de veado que é figura principal do filme infantil de mesmo nome. “(Estou falando) dos peixes, dos cães, dos gatos, de todos os animais, de toda a flora. Tem mais algum que não esteja dentro da fauna brasileira? Todos estão na fauna. Eu falei da fauna”.

1 COMENTÁRIO

  1. Em 84 o Santos era um time de veteranos e o São Paulo de moleques. O Santos foi campeão naquele ano depois amargou uns uns 4 anos de vacas magras com direito a ter até o Dunga no meio campo. O Sao Paulo era um time em ascensão, nao ganhou nada em 84 mas brilhou nos anos seguintes. Hoje é meio que o inverso: o Morumbi e seus medalhões contra o Santos com Robinho e sua creche auxiliar.