“Comer peixada” na Baixada Santista, como brincou que irá fazer no domingo, em provocação ao adversário na semifinal do Campeonato Paulista, é algo com que Carlos Miguel Aidar se deleita há muito tempo. Bem antes de se preocupar com o futebol do São Paulo e seus rivais, ele acompanhava o pai em pescarias por aquela região do litoral paulista. Tomou mais gosto ainda pelo mar depois de uma aventura malsucedida e perigosa.
No início da década de 1960, com aproximadamente 14 anos, ele saiu de barco com o pai e dois amigos para pescar de madrugada. Por volta de nove horas da manhã, o motor da embarcação parou de funcionar, e os quatro se perderam em alto-mar, como contou Henri Couri Aidar, em entrevista publicada pelo Correio da Manhã em abril de 1971.
“Ficamos pedindo socorro durante 36 horas, sem água e sem comida, perdidos. Nesses momentos que a gente vê que o homem tem uma série de recursos que, na hora do perigo, aparecem. Improvisamos fumaça e fazíamos sinais de SOS. Fomos salvos e ficamos sabendo que nos deslocamos de São Vicente até Paranaguá. Meu filho, na ocasião, não ficou com medo do mar”, disse o então chefe da Casa Civil do governo paulista, um ano antes de se tornar presidente do São Paulo, cargo que Carlos Miguel ocuparia pela primeira vez em 1984.
Passada uma semana do episódio, seu filho viu anúncio no jornal e se matriculou no curso de caça submarina da Associação Cristã de Moços. Depois de aulas de mergulho e apneia feitas na piscina da ACM localizada no centro da capital paulista, Aidar passou a competir em diversas cidades, em especial Ilhabela. Segundo ele, participou até de disputas sul-americanas e chegou a ser vice-campeão brasileiro juvenil ao arpoar um peixe de 1,20m.”Eu era moleque de tudo. Devia ter 13, 14 anos. Foi um momento muito importante da minha vida, fui da equipe paulista de caça submarina, disputei muitos campeonatos, percorri o Brasil mergulhando”, lembrou, em conversa com a Gazeta Esportiva, no ano passado, quando concorria novamente à presidência do São Paulo e voltou a frequentar a piscina do Morumbi depois de longo período afastado do clube social. “É que nunca viram um presidente mergulhar na piscina. Mas eu gosto. Sempre nadei, mergulhei. Não caço mais, porque depois comecei a fumar – já parei –, mas a vida mudou”.
Embora ainda goste muito do mar – sempre que pode, veleja com a família –, Aidar hoje em dia se dedica quase que exclusivamente ao comando do São Paulo. Exatamente um ano atrás, ele deixou a advocacia um pouco de lado e iniciou seu terceiro mandato como presidente do clube. Mandato um pouco diferente dos dois biênios entre 1984 e 1988, por conta principalmente de polêmicas administrativas internas e também de ironias com os principais rivais. A brincadeira sobre a “peixada” que pretende comer na Vila Belmiro, no domingo, não foi a única nesse período. Desta vez, porém, tratou de amenizá-la imediatamente.
“Com o maior respeito ao meu amigo Modesto Roma (presidente do Santos)”, ressalvou, na terça-feira, assim que lhe escapou a provocação com o apelido adversário. O presidente do São Paulo, que caçoou de Corinthians e Palmeiras e amargou derrotas em outras oportunidades, já se deu conta de que, como adverte o famoso provérbio, alguns dias não são do caçador