Fonte: ESPN por Diego Garcia
O torcedor do São Paulo estava bastante preocupado com o desempenho da equipe ao longo do começo de 2015. Campanha mediana na Libertadores, performance abaixo da média em clássicos e atuações fracas não faziam com que um dos elencos mais valiosos do país fosse temido. Ficou ainda mais tenso após a saída de Muricy Ramalho. E quem imaginaria que, com o “tampão” Milton Cruz e o talismã Centúrion, a equipe engrenaria na temporada?
Pois foi o que aconteceu com o São Paulo desde que Muricy, técnico ídolo no clube com a conquista do tricampeonato brasileiro e por seus tempos de jogador no Morumbi, foi forçado a deixar o cargo. Além do desempenho ruim do time tricolor na atual temporada, o treinador ainda precisou se ausentar por problemas de saúde que o abalavam há tempos. Parecia que o primeiro semestre de 2015 estava acabado, mas o clube paulista reagiu.
Desde que Milton Cruz assumiu a equipe de forma interina, o São Paulo soma 83,3% de aproveitamento, números que o fariam campeão de qualquer torneio de pontos corridos. São cinco vitórias em seis duelos, derrota justamente na semifinal do Campeonato Paulista contra o Santos, na Vila Belmiro. Só que, nos demais compromissos, atuações convincentes e vitórias incontestáveis recolocaram o time tricolor na briga pela Libertadores.
Com Muricy, a principal reclamação da diretoria era certa falta de vontade do time em campo. Ficou evidente nos dois clássicos contra o Corinthians até então – derrotas por 2 a 0, em Itaquera, e 1 a 0, no Morumbi -, na partida contra o San Lorenzo fora de casa – revés por 1 a 0 – e no encontro contra o Palmeiras – goleada sofrida de 3 a 0. Outro tropeço, este por 2 a 0 contra o Botafogo (SP), fez Ramalho balançar de vez no cargo.
Milton Cruz assumiu como de praxe, avisando que não pretendia a efetivação e almejava seguir no cargo que exerce há anos no Morumbi. Mas quem pensava que a equipe ia estourar? Os 3 a 0 contra Portuguesa e Red Bull, na sequência, pareciam apenas vitórias normais. Só que veio o jogo contra o Danúbio, no Uruguai, crucial para a sobrevivência tricolor na Libertadores. E Centúrion, no fim, garantiu de cabeça uma vitória heróica.
Tudo isso acontecia em meio a fracassadas negociações com outros treinadores. Abel Braga, Vanderlei Luxemburgo, Alejandro Sabella e Jorge Sampaoli foram os favoritos, em negociações que terminaram sem desfecho positivo até então. Outros nomes foram oferecidos, como Dorival Junior e Vagner Mancini, com nenhum deles agradando. Restou dar o voto de confiança a Milton até que a situação mudasse.
Contudo, a eliminação no Paulista diante do Santos no domingo ligou o sinal de alerta no Morumbi. O São Paulo ia receber o Corinthians no Morumbi precisando vencer para avançar na Libertadores. Ser eliminado pelo arquirrival do torneio considerado favorito pelo torcedor tricolor soava como um pesadelo entre os conselheiros. E o time de Tite, apesar de visitante, era favorito. Ninguém imaginava, entretanto, a postura da equipe da casa no clássico.
Com intensidade e pressionando desde o início, o São Paulo encurralou o Corinthians, até então invicto na temporada em partidas oficiais. E atropelou no primeiro tempo com dois gols. Só não enfiou uma goleada na etapa final pois, com a classificação já encaminhada, acabou dando uma aliviada. Ainda perdeu gol claro e viu Denilson mandar uma bola na trave. O triunfo no clássico, da forma que foi, já era o bastante.
“Durante esse período de treinos nós trabalhamos a intensidade da equipe, de dar o passe mais rápido. Os volantes têm de dominar e jogar para frente, usar os lados do campo, fazer ultrapassagens. Hoje coloquei o Centurión para dar mais velocidade e procurei também colocar o Wesley aberto na esquerda para conter os avanços do Mayke”, explicou Milton Cruz, logo após a vitória contra o Cruzeiro nesta quarta-feira, de novo com o talismã Centúrion decidindo no fim.
Com duas semanas de intervalo antes do jogo contra o Cruzeiro, Milton Cruz tratou de treinar o time como pôde. Ouviu com exaustão líderes do elenco, como Rogério Ceni, Luis Fabiano e Michel Bastos, e teve que controlar insatisfações. Uma delas chamou a atenção: Centúrion deu entrevista se mostrando infeliz no Brasil. E o treinador interino aproveitou os 14 dias de “hiato” para colocar a cabeça do argentino no lugar e fazê-lo jogar.
Com atuação incontestável, o São Paulo só não atropelou o Cruzeiro porque parou no goleiro Fábio, que inspirado salvou ao menos quatro bolas difíceis do ataque tricolor. Até o técnico Marcelo Oliveira reconheceu que a derrota pelo placar mínimo ficou barata. Agora, o time de Milton Cruz e Centúrion pode até perder por um gol – desde que também faça ao menso um – no duelo de volta, quarta que vem, no Mineirão, que segue vivo. Com cara de Libertadores.