O São Paulo conseguiu a classificação para as oitavas de final da Taça Libertadores sob o comando de Milton Cruz. Antes interino, ele foi efetivado no cargo pelo presidente Carlos Miguel Aidar e tem o trabalho elogiado por Ganso.
Desde que Milton Cruz substituiu Muricy Ramalho, no dia 6 de abril, o meia observou mudanças positivas na rotina de treinos do CT da Barra Funda, mas não o vê como o técnico do time.
– O Milton sempre foi auxiliar no São Paulo, depois de ser jogador. Então acho que ele quer seguir assim. Ele é mais um amigo, um companheiro que está ao nosso lado e ajuda com a experiência. Está dando continuidade ao trabalho do Muricy, apesar de não ser o treinador oficial para toda a temporada. Ele está indo muito bem, mas não quer (ser técnico), pelo que disse nas entrevistas. A decisão (sobre o novo técnico) nós deixamos para o Aidar e para a diretoria, sobre se vão efetivar o Milton ou trazer um treinador ao São Paulo. Esperamos que possam trazer um treinador para nos ajudar – disse o meia, em entrevista exclusiva.
Durante o bate-papo, Ganso falou sobre qual deve ser a postura do Tricolor nas oitavas de final contra o Cruzeiro. O jogo de ida será nesta quarta-feira, às 22h, com promessa de Morumbi lotado – foram vendidos 55 mil ingressos.
O camisa 10 evitou falar do seu próprio futebol e preferiu sempre responder as perguntas mencionando o time e a parte coletiva. Além disso, o jogador descartou possível convocação do técnico Dunga, da Seleção, para a Copa América, nesta terça-feira, e comentou sobre seu novo posicionamento, quase como um segundo atacante.
– A vitória contra o Corinthians levantou a moral do time. Serão dois grandes jogos com o Cruzeiro. O trabalho (do Milton Cruz) está sendo bem feito. A intensidade aumentou ainda mais nos treinamentos. Vocês repórteres estão vendo. Isso é o que mudou mesmo. Nesses treinos, você tem de pensar rápido. Quando perde a bola já tem de correr atrás para recuperar. É essa intensidade dos treinos que queremos ter no jogo para não deixar o adversário jogar – afirmou.
Em 2011, Ganso participou da campanha do tricampeonato da Libertadores do Santos, liderado por Neymar. No ano seguinte, ele também fez parte da eliminação do time na semifinal, diante do rival Corinthians.
Diferentemente dessa época, quando admitia ter o sonho de se transferir para a Europa, Ganso agora se mostra mais concentrado exclusivamente no trabalho no São Paulo.
– Já pensei muito nisso. Hoje busco regularidade no São Paulo e conquistas aqui, porque quando você conquista, mais coisas boas acontecem lá na frente. E a Seleção sempre está no meu pensamento.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista com Ganso:
Qual a diferença de fazer o primeiro jogo das oitavas de final no Morumbi?
A diferença é que estaremos ao lado da nossa torcida. O importante é fazer os gols e o principal é não sofrer. Ainda mais o nosso time que quase sempre faz gols. Nesses jogos (de mata-mata) você não pode errar, porque não tem chance de recuperar depois. Tem de errar o menos possível e matar o adversário.
O que mudou desde a saída do Muricy?
Depois da vitória contra o Corinthians melhorou muito o astral de todos. Quando você não vence os grandes times do futebol brasileiro, o jogador sente, mas o Milton está dando continuidade ao trabalho e essa vitória aumentou a nossa moral.
A decisão do presidente Aidar de efetivar o Milton Cruz foi acertada?
É difícil falar. O Milton está dando continuidade ao trabalho do Muricy, apesar de não ser o treinador oficial para toda a temporada. Deixamos a decisão para o Aidar e para a diretoria. Nós procuramos nos concentrar dentro de campo.
Você gostaria de um treinador estrangeiro?(nota da redação: o São Paulo tinha Alejandro Sabella como principal alvo, mas o descartou. Jorge Sampaoli, da seleção chilena, interessa, mas só estaria disponível depois do dia 4 de julho, data da final da Copa América).
Nunca tive essa oportunidade. Mas vamos ver como o presidente vai decidir, se vai efetivar o Milton ou trazer um treinador. Esperamos que possam trazer um treinador para nos ajudar.
Vocês não consideram o Milton Cruz o treinador do São Paulo?
O Milton sempre foi auxiliar a carreira inteira no São Paulo, depois de ser jogador. É mais um amigo, um companheiro que está sempre do nosso lado. Pela experiência que tem está nos ajudando. Ele está indo muito bem, mas acho que também não quer (ser técnico). Ele já deu entrevista falando isso.
Como é a relação dele com os jogadores?
Ele conversa muito comigo, com o Rogério e com todos do meio de campo, que é o coração do time. Ele tenta ajustar muito taticamente e ouvir dos jogadores qual a melhor forma de encaixar o ataque e a defesa. Ele conversa para passar a experiência dele e nós passamos o que estamos vendo dentro de campo.
O problema de saúde do Muricy influenciou negativamente?
A queda do São Paulo ocorreu porque não repetimos em 2015 o futebol de 2014, quando ficamos próximos do Cruzeiro para ser campeão brasileiro. O time não rendeu o esperado e agora voltamos depois de uma grande partida contra o Corinthians. Temos tudo para ir bem contra o Cruzeiro. Serão dois grandes jogos.
A saída do Kaká faz muita falta?
Ele nos deixou muitas coisas boas, para os garotos e os experientes. É um exemplo dentro e fora de campo. Aprendemos muito com isso. Sentimos falta do grande jogador e da pessoa que ele é. Não repetimos o bom futebol de 2014 agora, mas sem dúvida ele faz uma falta enorme.
As críticas ao seu futebol são injustas?
Não, a critica serve para você melhorar. Tento fazer isso e mantenho o foco nos treinamentos para melhorar em todos sentidos.
Há uma dificuldade de autocrítica no São Paulo? Você reconhece quando não está bem?
O nosso time reconhece quando não joga bem, mas é com trabalho no dia a dia que vamos errar o menos possível. Eu reconheço, quando não dou um passe para um companheiro na cara do gol, quando não faço um gol ou quando erro muitos passes, porque como meia não posso errar.
Faltava ao time ser mais “parceiro em campo”, como foi dito por alguns jogadores?
Isso é compactação do time. Nós fazemos no treino e levamos para o jogo. Tem de estar próximo um do outro para roubar a bola perto do gol. É isso o que precisamos fazer e é o que treinamos. Todos se ajudam. Eu não sou um grande marcador, mas preciso pelo menos ocupar o espaço para pressionar a saída de bola do adversário.
O que mudou no jogo do Corinthians? Antes faltava acreditar mais?
Nós vimos que temos elenco para vencer o Corinthians e mostramos, com organização e vontade. Antes, por não ter vencido nenhum clássico, o nosso astral e a motivação estavam mais baixas, mas podemos enfrentar os grandes times do futebol brasileiro.
A reformulação do Cruzeiro muda algo em termos de favoritismo?
Eles trocaram alguns jogadores na frente, mas continuam com qualidade e uma velocidade incrível de jogo. Tem tudo para ser uma grande partida. Não há favorito.
Qual time está chamando atenção na Libertadores?
Está tudo muito equilibrado, mas o Boca foi o que mais fez pontos na primeira fase e é o que mais chama atenção.
O São Paulo tem gás para chegar até a final da Libertadores?
Tem, mas precisa dar um passo de cada vez. Agora é o Cruzeiro. Serão dois grandes jogos. Temos de ir degrau por degrau.
Qual jogador é um espelho para você no futebol mundial?
Da posição, o James Rodríguez (Real Madrid), que também é canhoto, além do Iniesta e do Xavi (Barcelona), dois caras fenomenais.
Como é ver o Neymar, ex-companheiro, brilhando no Barcelona?
É um orgulho, ainda mais sendo amigo dele, por ver que está sendo considerado um dos melhores do mundo. Sempre aprendo algo vendo ele jogar e por conhecer já sei o que vai aprontar contra os adversários (risos).
Considera o seu estilo de jogo adequado para um dia atuar na Liga dos Campeões?
Deixo essa análise para vocês, mas pegando o Real Madrid só tem jogadores de qualidade técnica, não muito marcadores. Acho que tenho muitas qualidades e procuro sempre melhorar para quem sabe um dia chegar lá.
Contra o Corinthians o São Paulo empolgou. Antes, estava mal. Qual time o torcedor pode esperar na quarta-feira?
Eles têm de acreditar sempre e nós temos de jogar melhor do que contra o Corinthians. Agora é oitavas de final, uma outra fase, então precisamos render ainda mais do que naquela partida.