Firmino: De renegado no São Paulo a esperança do Brasil na Copa América

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UOL – Brunno Carvalho e Vanderlei Lima

“Não deram o valor que devia a ele”. É dessa maneira que o ex-volante Bilú resume a passagem de Roberto Firmino, atacante da seleção brasileira que disputa a Copa América no Chile, pelas categorias de base do São Paulo. O ex-jogador foi um dos responsáveis por levar o menino de Alagoas, onde jogava no CRB, para tentar a sorte no badalado CT de Cotia, mesmo lugar de onde saiu Oscar e Lucas, hoje no Chelsea e PSG, respectivamente.

Antes de Bilú aparecer na vida de Firmino, outro nome foi fundamental para o garoto: Antônio Teobaldo, o Toninho. “Foi ele quem falou para mim do Roberto. Ele até foi colocado para fora do CRB quando souberam que ele o indicou para mim, quando tinha 17 anos”, afirma o ex-volante. O herói de Firmino hoje luta para se recuperar de um derrame. Sem ele, talvez o atacante sequer tivesse ido para o São Paulo.

A experiência durou apenas três semanas, e logo Firmino deixou a cidade de São Paulo em direção ao Sul do País, mais precisamente Santa Catarina, casa do Figueirense. “Ele foi mal avaliado no São Paulo, treinou muito pouco com bola. Eu falei isso na época para o Milton (Cruz, auxiliar técnico do clube). Ele me perguntou, ‘você não quer deixar ele aqui mais uma semana?’, mas preferi levar para o Figueirense, lá ele passou no teste, fez um contrato e estourou”, relembra Bilú.

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“Eu não sei quem avaliou ele, mas foi alguém da base. Depois de um tempo, fomos jogar contra o Avaí em uma quarta-feira e decidi assistir ao jogo do Figueirense na terça. O Firmino me chamou atenção naquela partida. A gente estava interessado no Maicon (volante, atualmente no Grêmio) daquele time, e fui falar com o procurador do Firmino, que me avisou que ele já estava negociado com a Alemanha”, afirma Milton Cruz.

Alagoas, São Paulo, Santa Catarina, Alemanha e o mundo. Em cerca de seis anos, a carreira do menino de Maceió, que vendia coco na praia para ajudar a família, como conta João Abelha, na época superintendente técnico das categorias de base do Figueirense, mudou completamente.

EFE

“Só volto para casa quando for alguém”

Com talento desde pequeno, Firmino era destaque das categorias de base do CRB, de acordo com o treinador do sub-20 da época, Jean Carlos dos Santos. Problemas financeiros do clube, no entanto, impediram que o primeiro contrato profissional do atacante fosse assinado em Alagoas, sua terra natal.

“Ele nasceu com o dom. Com 16 anos, ele já jogava no meu sub-20. Se não fosse o Dr. Marcelo Portella, que fez tudo para ele, o Firmino poderia ter seguido outro caminho. Falei mais de 10 mil vezes para fazerem um contrato profissional com o garoto, mas o CRB tinha três meses de salários atrasados e um monte de coisa errada aqui”, relembra Dos Santos.

O citado Dr. Marcelo Portella é amigo da família de Firmino, “quem resolve tudo aqui em Maceió sou eu, até levar a mãe dele no médico”, e esteve presente em um dos momentos mais críticos da carreira do atacante.

“O Ricardo Rocha (campeão mundial com o Brasil em 1994) e o Wilton Figueroa (ex-presidente do CRB) trancaram ele em uma sala para assinar um contrato. O Roberto estava focado no campeonato e não quis assinar. Ele não queria assinar nada sem a minha presença. Depois disso, o Ricardo Rocha nunca mais falou comigo e eu tirei o Roberto de lá (do CRB)”, relembra Portella.

“O Dr. Marcelo foi o cara mais importante na vida do Roberto Firmino. O Ricardo Rocha tinha uma parceria com o CRB e queria levá-lo embora. Nós não concordávamos com isso e deixei ele ir embora (com o Marcelo Portella) porque o menino ia se perder como outros daqui”, conta Jean Carlos dos Santos.

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Os períodos difíceis no CRB e no São Paulo foram apenas percalços na carreira de Firmino, que deixou todos do Figueirense abismados logo no primeiro teste. “Na verdade, nem foi um teste, bastou uns minutos e ele fez dois gols de bicicleta. Só isso. Ali ele provou que era um fora de série. Azar do São Paulo”, relembra Hemerson Maria, na época treinador das categorias de base do Figueirense.

Foi com Hemerson Maria, inclusive, que Firmino mostrou que não estava em Santa Catarina para brincadeira. “No primeiro ano do sub-17, ele passou quase um ano sem ir para casa. Ele dizia que não queria ir sem antes ser alguém na vida. A partir do momento em que virou profissional, começou a ganhar um salário melhor, aí ele voltou para Maceió para passar férias”.

De acordo com Maria, as dificuldades na infância e baixa escolaridade nunca afetaram Firmino dentro de campo. “Ele é um menino com um grau de escolaridade muito baixo, mas com uma inteligência de jogo impressionante. As decisões que ele tomava, pegava muito rápido a parte tática. Sempre foi um jogador completo. Era um dos que mais desarmava mesmo sendo camisa 10 do meu time”.

Curiosamente, foi o desejo de Firmino de não voltar para Maceió que o fez ter a primeira chance no time do profissional do Figueirense, comandado na época por Márcio Goiano, e logo em um clássico contra o Avaí. “O Figueirense queria que eu liberasse todo mundo que disputou a Taça São Paulo para ver a família. Então cheguei no Roberto e perguntei: você quer ver sua família ou jogar. E não esqueço a resposta dele: ‘não, professor, eu quero jogar. A minha família eu vejo depois, eu quero jogar'”.

Naquele 4 de fevereiro de 2010, ao entrar no lugar do atacante Willian, Firmino dava o primeiro passo de uma carreira promissora. Em dezembro daquele ano, o alemão Hoffenheim oficializou a contratação do atacante de 19 anos, destaque do Figueirense na Série B.

Cinco anos depois, os jornais europeus já dão como certo o destino do convocado de Dunga: o Manchester United, da Inglaterra.