Lancenet – Bruno Grossi e Marcio Porto
Muricy Ramalho saiu do São Paulo em abril deste ano, mas deixou uma semente no clube. Seu filho caçula, Muricy Ramalho Júnior, o Pi, trabalha na base desde o fim do ano passado e mantém viva uma história que começou em 1964, quando o técnico iniciou a carreira de jogador nas categorias de base do Tricolor.
Pi é preparador físico e um dos coordenadores do Lapidar, projeto implementado em Cotia desde a chegada do gerente-executivo Júnior Chávare. Aos 25 anos, entrou no São Paulo por indicação do pai, que não esconde a influência, embora ressalte as condições.
Segundo disse em entrevista exclusiva ao LANCE! na semana passada, Muricy só tomou a iniciativa a favor do filho depois que o clube mudou seus gestores da base.
– Eu não me dava bem com o pessoal da base (na gestão anterior). Poderia chamar o Juvenal (Juvêncio, ex-presidente, com quem Muricy tem ótima relação) e falar: “Ó, tem meu moleque”, mas não pedi. Ele se formou legal, com base, aí quando trocou o pessoal de Cotia, falei: “Vou pôr meu menino lá!” – declarou.
– Aí falei com Ataíde (Gil Guerreiro, vice-presidente de futebol), que me deu essa oportunidade. Agora, ele (o filho) está lá embaixo, como comecei. O pessoal está adorando ele. Pelo menos indiquei um cara bom, decente. Tomara que faça carreira – completou o ex-treinador tricolor.
Os relatos sobre o trabalho do preparador físico vão ao encontro da versão de Muricy. As fontes ouvidas pela reportagem foram só elogios ao herdeiro de um dos treinadores mais vitoriosos da história do clube.
Em seu trabalho, Pi aplica exercícios para todas as categorias de base e é mais conhecido pelo seu jeito introspectivo, que em nada lembra a personalidade do pai no futebol.
Iniciou a carreira no antigo Pão de Açúcar e não trabalha aos sábados por ser adventista. Mas compensa nos domingos e tem fama de trabalhador, palavra cara a Muricy.
O treinador acha difícil realizar o sonho de trabalhar com a cria, mas torce de perto até para afastar a desconfiança, que ele admite ter.
– Por isso que demorei para colocá-lo. Se colocasse de cara, iam falar que saiu da faculdade e já caiu aqui. Ele se preparou, foi com currículo, analisado. Não peço nada, fiquei até com vergonha de pedir – diz.
O incômodo dar lugar à alegria quando uma grande curiosidade é abordada. Em Cotia, Pi trabalha na mesma comissão técnica de Kako e Zé Renato, filhos de Tata. Isso mesmo, do auxiliar e fiel escudeiro de Muricy na carreira como técnico.
– São todos decentes. Espero que façam carreira – diz Muricy.
O tempo irá dizer se a parceria que já deu certo vai se repetir.
ENTREVISTA EXCLUSIVA COM MURICY RAMALHO
‘Comecei no São Paulo em 1964, tomara que sigam bem o caminho’
Acredita que seu filho estaria no São Paulo se não fosse seu filho?
Tem que ter alguma oportunidade, indicação. Acho que ele teria porque o Pão de Açúcar, onde começou, é uma escola muito boa, tem técnico em time grande. São bons. Com certeza ele iria começar a ter espaço, porque quando o cara começa a ir bem em clube de boa procedência, os outros pegam.
Por que ainda não trabalhou com ele? O que faltou para isso?
Ele queria, mas falei que não está preparado ainda. Porque o que a gente faz é muito forte, tem que ter autoridade. A pior coisa é ser preparador físico, porque jogador não suporta os exercícios. Então falo para ele, não está preparado ainda.
Seria bom para ele? Por quê?
Eu iria deixá-lo mais forte. Ele iria trabalhar comigo e eu sou um pouco referência no nosso meio. Ele iria aproveitar isso, como eu fiz com Telê, Parreira. É no dia a dia que você aprende e eu vi tudo. Momento ruim, bom, tudo. Também vi a doença do Telê, coisa que não quero para mim.
Antes da indicação, você chegou a ter outra conversa com os dirigentes sobre seu filho?
A gente nunca pediu, nem o Tata, tanto que o filho dele ficou anos em Dubai. O Tata, quando o dirigente chega, ele vai embora. Não pede. Foram porque são competentes. E são todos de grande caráter.
Acredita que vão repetir a trajetória de vocês como parceiros?
Não sei, porque o Kako já é preparador há muito tempo e meu filho não tem perfil de técnico. Mas é uma história, comecei no São Paulo em 1964, tomara que sigam bem o caminho.
A PARCERIA
Amigos desde a infância, o ex-meia atacante Mário Felipe Peres, o Tata, e Muricy Ramalho se reencontraram no futebol
em 1999, quando iniciaram a dobradinha técnico e auxiliar pela Portuguesa santista. O primeiro trabalho de destaque foi no Náutico, com a conquista do bi pernambucano em 2001 e 2002. No São Paulo, os dois ganharam o tri do Brasileiro, entre os anos de 2006 e 2008. E com perfis diferentes. Muricy, turrão e linha dura. Tata é o oposto, servindo como a mão que afaga o grupo, que tenta evitar as crises com atletas.
OS FILHOS DE TATA
Diferentemente do filho de Muricy, os herdeiros de Tata já têm mais vivência no futebol. Ambos trabalharam nos Emirados Árabes Unidos, no Al Wasl. O mais velho, Mario Felipe Perez Júnior, o Kako, tem ainda mais bagagem e chegou a integrar diretamente a comissão técnica de Maradona, quando o argentino dirigiu o time em 2012. No clube árabe, Kako permaneceu por quase uma década, ganhando notoriedade no país. Atualmente, o preparador físico cuida do time sub-20 e tem sido encarado com grande respeito. Mais jovem, José Renato Peres é fisiologista. Pelo relato das pessoas próximas, eles não querem ser auxiliares.
OPINIÃO DE JÚNIOR CHÁVARE, GERENTE-EXECUTIVO DA BASE DO SÃO PAULO
“O Pi foi uma grata surpresa para nós. Esforçado, atento a tudo e muito moderno, tem feito um grande trabalho. É um grande profissional, não é o filho do Muricy. Como os filhos do Tata também são ótimos. O Kako eu entrevistei sem nem saber que era filho do Tata. O Pi aplica todo o nosso projeto para os garotos, desde análise de desempenho, melhora de deficiência e exploração de potencialidades. Tem sido muito importante nesse trabalho.
Pronto, contrataram o Playmobil
Não se preocupe que nesta história o tigre come o Pi……
O cara é Tricolor, assiste todos os jogos na cativa, ao lado de sua Avó (sogra do Muricy)