Osorio conversa com Breno e prepara a volta do zagueiro. Fim do inferno

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UOL – Luís Augusto Símon

Acusado de incendiar a própria casa na Alemanha, Breno voltou a treinar no Bayern de Munique após ser preso, com permissão das autoridades EFE/Peter Kneffel

Ganso levantou a cabeça e deu um passe em diagonal para Jonathan Cafu, na direita. Ele avançou e cruzou para trás. Luís Fabiano recebeu, a bola subiu um pouco e o atacante chutou. Breno prensou e…escanteio.

Cruzamento da direita. Pato recebeu, levantando um pouco a bola. Virou, para cruzar e foi desarmado. Por Breno.

Jogadas como estas estão se tornando comum nos treinamentos do São Paulo. Juan Carlos Osorio percebeu e procurou o zagueiro. “Falei em particular com ele. Disse que estava gostando de seu trabalho, tanto na parte física, como técnica e emocional. Avisei que ele vai jogar dentro de pouco tempo”.

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Não há data marcada, talvez não seja antes de setembro, quando seu contrato termina. Mesmo que seja, será cedo para que se tenha uma decisão sobre o futuro do jogador. Por isso, o clube vai prorrogar o vínculo até dezembro.

A certeza é que a passagem pelo inferno da prisão por três anos em Munique é passado. Breno está vivo e o enorme sorriso que ostenta a todo momento do dia demonstra que sonha com a volta.

Ainda há o que fazer. Ele chegou ao clube em janeiro, depois de pagar a pena por haver incendiado sua própria casa na Alemanha. Sucumbiu à pressão psicológica – pela solidão e sucessivas contusões – e à bebida.

Em janeiro, fez seu primeiro treino. Não era mais um atleta. “Na prisão, ele fazia treinos físicos apenas para os membros superiores e corria de vez em quando. Estava com o corpo como se fosse um triângulo”, conta o fisioterapeuta Ricardo Sasaki.

Estava com massa de gordura muito alta. Como um sedentário comum. A receita foi simples. “Demos uma dieta e muitos exercícios”, conta o preparador físico Zé Mário Campeis. “O peso hoje é praticamente o mesmo, mas a massa gorda foi transformada em músculos. E ele, foi ganhando físico de atleta novamente”, diz.

O trabalho de recuperação física contava também com participação efetiva nos treinamentos. Até como forma de inserção social com os colegas. Mas os treinos passaram a ser substituídos por sessões de fisioterapia no Reffis. “Ele estava muito abaixo dos outros, não dava para treinar com bom nível”, explica Campeis.

A fisioterapia foi pesada, com sessões diárias, inclusive aos sábados e domingos. “Nunca reclamou de nada. Nunca faltou, sempre fez todos os exercícios com muita alegria”, lembra Sasaki.

Alegria que contou até com pitada de humor negro. “Um dia, um jogador perguntou se ele estava cansado e o Breno respondeu que já havia descansado três anos na prisão”, diz o fisioterapeuta.

Os exercícios eram intercalados com boas doses de conversa. E Breno sempre falava da família. “Ele comentava que estava com vontade de ir para casa, para ver as criaças. Pedia dicas de restaurantes onde pudesse levar os filhos”, diz Sasaki.

Brenda, a mais nova, completará um ano em julho. Ela e Pietro, 5 anos, são filhos biológicos do zagueiro. Izabela, 13 anos, e Flávio, de 9, são filhos de outro relacionamento de Renata, a mulher de Breno.

Em dezembro do ano passado, quando deu sua primeira entrevista no São Paulo – o clube assinou um contrato com ele em 2012, quando ainda estava preso – fez muitos elogios à mulher. Agradeceu o amor e o companheirismo.

Renata sempre foi olhada com desconfiança por dirigentes do São Paulo, por ter dois filhos e por ser 15 anos mais velha que o zagueiro.

Quando o namoro começou, em 2007, Marco Aurélio Cunha, então diretor de futebol, chamou Breno para uma conversa. Levou o zagueiro Alex Silva, o Pirulito, para ajudar. “Demos uma bronca nele. O Alex falou que ele não devia fazer besteira, que ainda era muito novo para se casar. Também dei uns conselhos. Ele é um ótimo menino, ouviu tudo e eu percebi que ficou magoado. Não mudou nada. Nunca mais conversamos, mas sei que ele é muito agradecido à mulher”.

Em dezembro de 2007, Breno foi vendido ao Bayern de Munique, por 12 milhões de euros, após apenas 35 jogos pelo São Paulo. Os prognósticos de quem o acompanhou na base do São Paulo estavam se concretizando.

“Ele chegou ao São Paulo em 2003, veio do Boavista, um clube que fica perto do campo da Portuguesa. Era um garoto quieto, introspectivo e não mostrava nada de liderança. Jogava muito bem e foi subindo rapidamente. Na Copa São Paulo de 2007, ganhou a posição de Leonardo, que atualmente joga no Los Angeles Galaxy e já foi para o time de cima”, lembra Geraldo Oliveira, ex-gerente de futebol de Cotia.

O São Paulo foi vice-campeão e Breno fez dupla de área com Aislan. O treinador era Vizoli. “Eles formavam uma boa dupla, se completavam. Breno era mais forte e Aislan, mais técnico. Ele já se impunha em campo, tinha algo de líder. É um garoto alegre e muito aplicado. Eu fiquei muito surpreso quando houve o incêndio e a prisão. Difícil de acreditar”.

Terminada a Copa São Paulo, o clube foi fazer uma pré- temporada nos Estados Unidos. Breno foi chamado. E logo se tornou titular.

Fez grandes partidas, com direito a um gol antológico contra Fábio Costa, do Santos. Zé Sérgio, seu treinador no sub-17, em entrevista à revista Placar, de novembro de 2007, via poucos limites para Breno. “Ele pode ser melhor que Dario Pereyra. Tem domínio de bola, sabe o que fazer, sabe atacar e joga duro. Quando estava comigo, tinha excesso de confiança e as vezes errava feio”.

Zé Sérgio o comparou também com Lugano, que havia deixado o clube um ano antes. “O Lugano late antes de morde. O Breno morde e não late. O Negão bate mesmo. Até tapa na cara, ele dá”.

Com certeza, Zé Sérgio estava se lembrando de Martin Palermo, o maior artilheiro da história do Boca Jrs. Ele e Breno se encontraram em um jogo da sul-americana. E o zagueiro contou à Placar como foi. “Dei nele, sim. Dei sem dó. Foi aqui em São Paulo, mas se fosse na Bombonera eu batia do mesmo jeito. Não é porque eu sou novo que ele pensa que vai me intimidar. Houve briga e eu não iria deixar meus colegas sozinhos”.

Na mesma matéria em que confirmava uma das análises de Zé Sérgio – o Breno-Lugano – ele desmentia outra – o Breno-Dario Pereyra. “Não sou craque, não. Sou uma criança que precisa aprender muito.

A vida ensinou.

Hoje, é a fase final do recomeço.

“Nos treinos, ele já consegue dividir, disputar bola pelo alto e dar carrinhos. Agora, vamos marcar alguns jogos-treinos para que ele fique pronto para jogar de verdade, disputar um jogo valendo pontos. Não digo quando, mas o caminho é esse”, diz Campeis.

Breno espera. E treina. E ri. Muito.

3 COMENTÁRIOS

  1. Vai botar fogo na equipe
    Só temos que ter cuidado com líquidos inflamáveis no CT
    Logo vai receber propostas do Botafogo
    O jogo vai pegar fogo
    É fogo cara, que demora para estrear
    Breno vai bater o Penal, preparou, FOOOGO.

    Piadinhas infames