Souza enche a bola de Osorio e vê São Paulo forte para Choque-Rei

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GloboEsporte.com – Marcelo Prado

Num ambiente de discursos vazios, ensaiados, pautados por assessores, o volante Souza, do São Paulo, se destaca. Com personalidade, fala o que pensa, sem receios. Por isso, se transformou em um dos atletas mais populares entre os torcedores do Tricolor. Em campo, após uma queda técnica, reconhecida por ele mesmo, voltou a jogar bem e, sob comando de Juan Carlos Osorio, ainda vem mostrando seu lado artilheiro: balançou as redes contra Chapecoense e Avaí (assista aos gols no vídeo acima).

Aliás, na entrevista exclusiva concedida ao GloboEsporte.com, concedida na última sexta, no CT da Barra Funda, Souza não economizou elogios ao treinador colombiano. Reconheceu que ficou receoso quando a contratação foi anunciada, mas o receio virou confiança em pouco tempo. Apesar de já ter jogado na Europa, Souza se impressiona com os diferentes tipos de treino comandados por Osorio.

– Quando foi apresentado e conversou conosco, sabia exatamente como cada atleta jogava. Isso impressionou. Ele é um estudioso e certamente fará o São Paulo crescer. É preciso deixá-lo trabalhar. Basta lembrar que ele ainda nem completou um mês – analisou.

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No bate-papo que durou 25 minutos, Souza falou ainda sobre seleção brasileira, sobre substituir Rogério Ceni como capitão e também sobre o clássico deste domingo, contra o Palmeiras, pelo Campeonato Brasileiro. Apesar de não ter atuado no duelo do Paulistão, que terminou com a vitória alviverde por 3 a 0, ele define em poucas palavras o que foi aquele jogo.

– Um acidente, um dia de desequilíbrio.

Souza São Paulo (Foto: Renata Lufti / saopaulofc.net)Souza é considerado o melhor volante do Brasil por Osorio (Foto: Renata Lufti / saopaulofc.net)

Confira a entrevista abaixo

GloboEsporte.com – Muitos torcedores elogiam sua postura de comando dentro dos jogos. Você se define como um líder?

Souza – Ainda acho que posso melhorar isso. Nos juniores do Vasco, fui capitão pela primeira vez e sempre me cobravam que, pelo fato de jogar no meio, eu tinha de falar mais, cobrar os companheiros. Comecei a praticar isso.  Não era o meu forte e pratico até hoje. Faço um esforço para alertar, chamar a equipe para marcar, motivar meus companheiros. A equipe do São Paulo não é muito falante, por isso acabo me sobressaindo. O Osorio tem pedido isso para todos. Tem um trabalho que fazemos no campo em que só se pode dar o passe quando o jogador pede a bola. Se não for assim, volta a jogada. Tem de falar, chamar a atenção do companheiro.

Já é possível fazer uma análise do trabalho do Osorio?
– Ainda é cedo. Ele ainda nem completou um mês. Porém, o que temos visto é o crescimento nos treinamentos, são metodologias completamente diferentes. Tem vários treinos que nunca tínhamos feito. Ficamos perdidos no começo. Ele é paciente, para, fala, orienta e começamos a fazer com excelência a partir daí. Ele sempre pergunta se todos estão entendendo. É fato que estamos aprendendo muito com ele. Com o tempo passando, vamos assimilar tudo com facilidade.

Quando o São Paulo anunciou a contratação do Osorio, como você, que é um dos principais jogadores do elenco, reagiu? Pensou no que havia acontecido com o Gareca no Palmeiras (técnico argentino durou apenas dois meses no Alviverde)?
– A verdade é que, no início, ficamos um pouco receosos. Nossa situação não era boa, já tínhamos duas eliminações na temporada (Paulista e Libertadores). A diretoria, muito sabiamente, soube esperar as coisas acalmarem e depois trouxe um treinador. Sem dúvida, o Osorio me surpreendeu. É um cara muito esforçado para aprender a língua portuguesa. Ele e seus auxiliares vivem perguntando o significado de palavras que eles não conhecem. Quando foi apresentado e conversou conosco, sabia exatamente como cada atleta jogava. Isso deixou todo mundo impressionado. Sem dúvida, faz o elenco ficar mais motivado. E os resultados ajudaram para ele ter tranquilidade.

Mas veio o empate com o Avaí no último domingo, que não estava nos planos…..
– Não tem de questionar o treinador, a culpa é toda nossa. Temos de confiar naquilo que é proposto pelo nosso técnico. O esquema com três zagueiros foi testado durante a semana. Três zagueiros não significa que você joga para trás. Pelo contrário, você bate lateral com lateral para impedir o apoio, deixa dois zagueiros no combate, um na sobra e com isso, consegue atacar. Não fizemos isso. Entendemos tudo errado, recuamos. Infelizmente, empatamos.

 Já fui capitão no Vasco, no Grêmio, mas aqui não é só ser capitão. É o que isso representa pela história do Rogério no clube. Não é qualquer um que é escolhido para substituí-lo”
Souza

E agora o São Paulo terá dois jogos como visitante pela frente. Como encará-los?
– Na preleção do jogo contra o Avaí, falei da importância da vitória exatamente por isso. Tínhamos de ganhar porque depois faríamos jogos complicados fora, contra o Palmeiras e Atlético-PR. Não sabia da estatística que você falou (o Tricolor nunca venceu na Arena da Baixada). Sabemos que é difícil conquistar os seis pontos, por isso era essencial ter vencido o Avaí. Agora, no mínimo, temos de arrumar quatro pontos dentro de seis.. É difícil, mas possível.

O Souza do começo do ano caiu em relação ao rendimento do ano passado. Agora, você voltou a jogar bem. Concorda com a análise?
– Eu sou muito sincero, sou muito crítico. Óbvio que caiu. Mas não foi apenas o Souza, foi o São Paulo que caiu. O São Paulo não começou bem no ano. Se você observar, a única peça que conseguiu se sobressair foi o Michel Bastos. O resto estava todo mundo abaixo. Quando isso acontece, é óbvio que o time não vai render. A partir do momento em que o coletivo cresceu, as coisas melhoraram. Foi o meu caso, ganhei confiança. Estou crescendo no decorrer dos jogos, mas ainda é pouco, posso evoluir.

Essa queda de rendimento tirou você da Copa América?
– Acho que o que me tirou foi o jogo contra o Chile (amistoso realizado em Londres no mês de março). Naquele jogo, o Dunga mudou seis peças, e a equipe não teve uma boa atuação. Para mim, aquele jogo era o teste, era o que valia tudo. É quando você precisa mostrar seu potencial. Pegamos um adversário forte, que todos estão vendo na Copa América. Aquele jogo me prejudicou. Ao mesmo tempo, o Casemiro cresceu no Porto. Na Seleção, ninguém tem lugar cativo, daqui a pouco posso voltar. Sou grato ao Dunga, sou grato ao Gilmar (Rinaldi, coordenador de seleções da CBF), me deram a oportunidade. Nunca ficaria chateado. Sei que posso ser chamado novamente.

O São Paulo terminou 2014 muito bem, começou 2015 muito mal e agora dá sinais de reação no Brasileiro. Pode-se dizer que o time é confiável?
– Primeiro, temos de confiar no nosso elenco, e confiamos. Mas sabemos que precisamos de ajustes. Saíram três jogadores importantes, tem a saída iminente do Dória. Fica difícil gerir, atrapalha muito o trabalho do Osorio. Você é obrigado a chamar gente da base, que ainda não tem experiência, improvisar jogador no treino. Pode ser campeão desse jeito? Pode. Mas é difícil. É necessário reforçar. Mas não adianta contratar qualquer um. Precisamos contratar a peça certa.

Saíram três jogadores importantes, tem a saída iminente do Dória. Fica difícil (…). Pode ser campeão desse jeito? Pode, mas é necessário reforçar. E não adianta contratar qualquer um. Precisamos da peça certa”
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Mas a postura do torcedor já mudou com o time…..
– O torcedor já olha para o nosso time com outros olhos. Apesar do empate contra o Avaí, a maioria elogiou a produção do time, tivemos chances. No ano passado, não criávamos em jogos no Morumbi. Estamos tentando, o torcedor precisa entender isso. Muito time vai perder ponto para a Chapecoense fora. Contra o Palmeiras, será diferente. É um time que joga e deixa jogar. Independentemente do que aconteceu no último jogo, não podemos ficar atrás em momento nenhum. O Palmeiras vai respeitar o São Paulo. Estamos preparados para fazer um grande jogo.

O último jogo, no Campeonato Paulista, influencia de alguma maneira (derrota por 3 a 0)?
– Não. Costumo dizer que não estava em campo, por isso não conta. Eu tenho duas vitórias no Campeonato Brasileiro do ano passado. Isso é que é o importante. O que aconteceu foi um acidente, um dia de desequilíbrio. Um gol antológico (de Robinho, do meio de campo) que será muito difícil de acontecer de novo. O que aconteceu contra o Avaí serve como combustível para entrarmos ligados contra o Palmeiras. Não podemos repetir os erros.

O que representou para você usar a tarja de capitão?
– Representou muito. Já fui capitão no Grêmio, já fui capitão no Vasco, mas aqui não é só ser capitão. É o que isso representa pela história do Rogério no clube. Não é qualquer um que é escolhido para substituí-lo. Tentei fazer o meu papel. O Rogério é mais sábio na hora de falar, mas procurei orientar. A responsabilidade é grande e acho que me comportei bem dentro e fora de campo, fui premiado com gol.

Por que esse time não rendia nas mãos do Muricy?
– Não é que não rendia com o Muricy. É preciso entender uma coisa: o São Paulo, por algum motivo, sempre tem inícios de ano complicados. Os começos de 2013 e 2014 foram terríveis. Tinha certeza de que, como no ano passado, quando começasse o Brasileiro, nos iríamos crescer. É um campeonato diferente, com nível maior, você enfrenta adversários mais técnicos, que deixam você jogar. Às vezes, nos campeonatos menores, o São Paulo entra de maneira lenta, tranquilo demais. O Muricy não tem culpa de nada. Sabíamos que ele tinha um problema de saúde, era nítido que ele tinha dificuldade, não tinha como. Mas o problema nunca foi ele. Até porque no ano passado ele estava conosco quando o time engrenou. Para 2016, isso precisa mudar. Não adianta largar o primeiro semestre.

osorio souza são paulo (Foto: Divulgação/saopaulofc.net)Métodos de Osorio são elogiados por Souza (Foto: Divulgação/saopaulofc.net)

Osorio diz que você é o melhor volante do Brasil. Concorda com isso?
– Falo que estou enganando ele. No ano passado, enfrentamos duas vezes o Nacional de Medellín e joguei muito bem tanto aqui quanto na Colômbia. Quando o Ataíde falou que ele seria o técnico, já me avisou que o Osorio havia dito que gostava do meu futebol. Nos treinos, ele pode acompanhar mais de perto. Não sou o melhor do Brasil, mas faço a minha função. Tento ajudar na frente e atrás. Desgasta muito? Sem dúvida. Meu GPS é um dos que mais tem quilometragem, coisa de dez quilômetros por partida. E no Morumbi desgasta mais por ser um campo grande. Ele gosta de jogador que se desgasta. Com ele, os gols estão saindo. Espero que continue.

Na quarta-feira, o Osorio disse que começará a fazer o rodízio de jogadores. Vocês estão preparados?
– Conversamos muito sobre esse assunto. Jogador brasileiro não gosta disso. Mas é uma necessidade que temos. Até porque se forçar muito, pode perder jogador e aí complica mais ainda. É obvio que todo mundo quer jogar, ninguém gosta de ficar fora, mas estamos conversando para assimilar. É preciso entender saber respeitar o companheiro que está jogando. No Brasil, tem esse papo de titular e reserva, mas isso vai acabar aqui. Tem companheiros que estão querendo jogar. O importante é que o treino fica mais competitivo quando você sabe que tem chance de jogar. Quem tem a ganhar é o São Paulo.