Candidato a suceder Ceni, Renan Ribeiro celebra volta por cima após ouvir ‘piadinhas’

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Lancenet – Bruno Grossi e Marcio Porto

renan ribeiro na redacao do lance (foto:ari ferreira)

Na semana em que são celebrados os dez anos da consagração de Rogério Ceni no São Paulo com o título da Libertadores, a questão ainda paira entre os são-paulinos: quem sucederá o Mito após ele pendurar as chuteiras no fim do ano?

A dúvida pode estar entre os torcedores ou profissionais do clube, mas não assusta mais Renan Ribeiro. Alçado a reserva de Ceni após Denis passar por cirurgia no ombro direito este ano, o goleiro só disputou duas partidas, mas foi suficiente para cair no gosto do técnico Juan Carlos Osorio e da torcida, que gritou seu nome após boas defesas no empate por 1 a 1 contra o Avaí, no Morumbi.

O reconhecimento serviu de estímulo, mas também teve sabor de resposta para Renan. Em entrevista exclusiva ao LANCE!, durante visita à redação, o goleiro contou que teve de aguentar piadinhas de colegas em sua chegada ao clube. Sofreu. Por isso, encarou o bom desempenho nos jogos como uma espécie de volta por cima e, segundo ele, os críticos passaram a tratá-lo diferente.

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Renan também relembrou os momentos difíceis no Atlético-MG, da disputa com Denis para substituir Ceni, a capacidade de liderança de um goleiro e sua forte ligação com a família, após a perda da irmã. Confira a entrevista exclusiva:

Você chegou em 2013, mas evitava entrevistas. Por quê?
E ia falar o quê? Falar do Rogério? Fiquei muito tempo parado, treinava afastado por seis meses das 6h às 7h no Atlético-MG. Não tinha o que falar.

Quem é Renan Ribeiro?
Um cara família, que ama muito as pessoas que praticam o bem, que ama Deus acima de tudo, que gosta de trabalhar e procura a perfeição.

Você é muito religioso, né?
Desde que eu nasci, Deus esteve presente na minha vida. Mas teve um momento depois de sair do Atlético-MG que foi muito difícil. Perdi minha irmã de 15 anos, em 2009, algo muito difícil. Perdi ela, teve a transferência e Ele me deu forças para superar tudo com minha família. Só eles sabem o que eu passei. Consegui superar tudo, isso me fortaleceu e hoje sou outro.

Como aconteceu?
Estava no Egito (no Mundial Sub-20) quando soube da doença dela, os médicos deram pouco tempo de vida. Mas graças a Deus ela conseguiu estender bastante. Creio que ela está em um lugar melhor que nós, está nos protegendo e logo logo nos encontraremos. Não podia sair do Mundial, acho que o Brasil poderia ser eliminado. E continuei também porque não tinha o que fazer, só Deus. Quando terminou, voltei e comecei a jogar no Atlético. Foi tudo muito difícil. Era muito novo e tive essa surpresa da doença e da perda. Ficou muito conturbado, mas hoje superei tudo, sou uma pessoa nova, com outros pensamentos e que sempre pratica o bem.

Quais lembranças tem da infância?
Sou muito grato à família e a meus pais. Se jogo bola até hoje é por conta deles. Eles que me motivaram a estar no esporte. Tive que escolher entre natação ou futebol. E foram eles que me forçaram a ir para o futebol. Depois isso virou paixão, gosto e eu amo muito o que faço.

Como foi nos estudos?
Parei no terceiro colegial, porque quando ia me formar comecei a jogar no Atlético. Aí tinha a rivalidade com o Cruzeiro, né? Cheguei a ser diversas vezes ameaçado dentro da escola e tive que largar. Comecei o profissional e não conseguia mais conciliar. Pena.

Como foram as ameaças?
Quando comecei a ficar visado, joguei dois jogos na semana. Quando voltei para a escola, na véspera de um clássico, começou aquela coisa ridícula. Os colegas de sala não fizeram nada, porque eram amigos e sabiam separar. Mas pessoas de outros anos… Tinha que sair com a polícia, escoltado. Os mais velhos ameaçavam. Fui no banheiro e quando saí tinham uns cinco caras da torcida do Cruzeiro me ameaçando. Um amigo chamou o vigia, que chamou a polícia e aí saí. Sinto vontade de terminar o colégio. As pessoas perguntam e eu tenho que falar que não me formei, é ruim.

Qual foi a sensação da estreia pelo São Paulo?
Foi muito difícil a saída do Atlético e ficar muito tempo parado. Só minha família sabe o que passei até estrear contra a Portuguesa. Surgiram muitos questionamentos em cima de mim. Não que tenham feito que eu duvidasse de mim, mas tentavam me desmotivar, fazer com que eu desistisse do meu objetivo maior. Quando tive a oportunidade de jogar, sabia que estou num grande clube, com a responsabilidade de substituir um cara que está aqui há 25 anos, mas que estava preparado para o que viesse depois. Só cabe a mim agradecer meus familiares pela força para superar o que passou. Quando cheguei aqui prometi para mim uma nova história, um novo rumo e é isso que me motiva todos os dias.

Pensou em desistir?
Não, porque quando eu vim para cá, ninguém me prometeu que eu fosse jogar, não me colocaram data para eu jogar. E eu nunca pensei em momento para jogar sempre procurei trabalhar e me preparar, independentemente do que vai acontecer agora, do Rogério. Tenho de me preparar. O Rogério sempre foi referência pra mim, independentemente de qualquer coisa, estou aprendendo com ele.

Mas seu objetivo agora é assumir a titularidade quando ele parar?
Sim. Desde que vim para cá, venho me preparando para isso, para quando o Rogério parar. Independentemente se vou ter a oportunidade de assumir, vai de acordo com o momento que o Rogério parar. Tenho de trabalhar para conseguir corresponder às expectativas de todo mundo e conquistar o coração de todo mundo.

Neste ponto, a lesão do Denis o ajudou?
Futebol tem muito disso, de machucar, e a pessoa que nem tinha muito valor, passa a ter, porque é o momento. Acredito que com a lesão do Denis, tive essas oportunidades. Não sei se teria se o Denis não tivesse machucado. Mas acho também que se eu não tivesse preparado, não fizesse duas boas apresentações, caberia questionamento. Desde minha chegada aqui, como muitas pessoas não me conheciam, vejo que houve questionamentos por não me conhecerem. Acho comum, as pessoas não conhecem, vão te julgar, mas no momento que você vai mostrando o potencial, você passa a ter respeito maior das pessoas.

O que houve? Foi desrespeitado?
Na minha vida pessoal, gosto de saber primeiro da pessoa para julgar, e muitas vezes fui julgado sem me conhecerem. Não que foi uma resposta aos meus críticos, mas que sirva de lição para quem me julgou. Aprenda a julgar, primeiro conheça a pessoa, depois julgue (emocionado).

Por que fica tão emocionado ao falar disso?
Cara, eu passei momentos aqui no clube, que só meus familiares sabem, que serviram de aprendizado. Tive que começar do zero, como foi no Atlético. Gera essa emoção, mas também alegria, por eu ter conseguido superar as coisas ruins. Não que acabaram, mas é legal você superar uma coisa que aconteceu lá atrás e ficar tranquilo, ver que valeu a pena tudo. Muitas vezes, você vai engolindo seco para viver esse momento.

O que você passou?
No Atlético, conhecia desde o cara que catava formiga até o presidente. E aqui comecei tudo do zero, não conhecia ninguém. Quando cheguei, fazia quase um ano que não treinava, e via as pessoas comentando: “O que ele está fazendo aqui?” Piadinhas, menosprezando, por não saberem o que eu passei. Eu sabia o que poderia ser, mas por ficar muito tempo conseguir praticar a técnica, a arte de jogar no gol, muitas vezes não conseguia fazer, e as pessoas me questionavam pelos meus treinamentos. Mas eu sabia que não era aquilo, e eu não me importava, porque minha familia e eu sabíamos onde eu poderia chegar. E isso às vezes me chateava, por as pessoas não entenderem meu momento, de saber o que tinha passado. Mas faz parte, isso me faz crescer.

Quem foram essas pessoas?
Prefiro não citar nomes para não soar uma coisa ruim, mas as pessoas que me criticaram sabem quem são. E talvez hoje as pessoas que me criticaram, estão pianinho e estão sendo outras pessoas. Talvez, a maior resposta está sendo o trabalho, quem me criticava lá atrás, está me aplaudindo. Faz parte (risos).

Como reagiu ao ter seu nome gritado no Morumbi no jogo contra o Avaí? Viu na hora?
Estava tão concentrado que fui ouvir só depois de bater a falta. A bola na mão, aí consegui ouvir. O nível de concentração vai tão alto, que muitas vezes… Não que você não dê valor pelo que está gritando, tenho de agradecer muito por esse carinho, me motiva cada vez mais para retribuir o carinho que estão tendo.

Quem foi sua inspiração como goleiro? Sua família é corintiana e isso pode prejudicá-lo em algum momento?
Rogério Ceni sempre foi uma inspiração. Quando eu comecei a jogar no gol mesmo, tinham outros muito bons. Ronaldo no Corinthians e outros goleiros que motivaram a seguir com aquela escolha. Meu pai era muito fã do Ronaldo, do Rogério, do Marcos… Foi me passando, eu assistia e viraram referência. Meu pai era corintiano, minha mãe também. Como eu só nadava, nunca me liguei em torcer com a família, só assistia. Nada a ver me atrapalhar. Quando a gente é mais novo vai pelo que a família é, não pelo que somos.

Saber que o São Paulo tinha uma cultura de goleiro jogar com os pés, por causa do Ceni, o preocupou quando chegou?
Não me preocupou, porque sempre fui uma pessoa disposta a aprender. Sabia que isso ia acrescentar ao que eu já tinha aprendido, para buscar a perfeição e estar tranquilo em cada oportunidade. Aqui, você trabalha muito com os pés. O Rogério sempre fez isso. Mas a história é dele, não preciso bater falta, pênalti. Não que não possa, mas não me sinto obrigado. Até me deixam à vontade para isso. Acredito que cada goleiro tem sua história para escrever. O futebol brasileiro se renovou e é obrigatório saber jogar com os pés. O goleiro é usado muito mais, então não é só o São Paulo que procura isso hoje em dia. Quem sai em vantagem somos nós, por poder trabalhar com o Rogério todo dia.

Você tem perfil de líder?
O que é ser líder? O cara que chama a responsabilidade, o cara que fala em momentos difíceis? Acho que todos dentro do grupo têm uma importância, e muitas vezes tem certas pessoas que têm mais facilidade para colocar para fora o que sente. O Rogério, por exemplo. Muitos não têm. Eu pratico no dia a dia para tentar me expressar melhor, porque quando você fala, você contribui. Tenho trabalhado para poder falar no momento certo, um treinamento, preleção, é algo que eu almejo, participar cada vez mais e ter uma certa liderança.

Quais suas características?
A maior é a força, vontade, saída de gol; Sempre trabalhei muito academia, porque se está bem, com força nas pernas, vai ter explosão e precisa para fazer os movimentos mais fáceis, não precisar fazer tanta força. Eu venho de uma escola que exige muito a técnica e um treinador meu dizia que se você tem muita técnica vai conseguir se sobressair.

2 COMENTÁRIOS

  1. Se esse time não estivesse sendo essa palhaçada, o garoto já seria o titular faz tempo. O problema é que ninguém tira o RC do time. Ninguém parece querer ganhar nada. Ninguém entende que sem um bom goleiro não se chega a lugar nenhum e o RC deixou de ser bom goleiro faz tempo.
    Daqui a pouco o garoto vai embora de saco cheio de não colocarem para jogar.